Presidente da IL, Rui Rocha.
Presidente da IL, Rui Rocha. FERNANDO VELUDO/LUSA

Rocha diz que PM "se aproximou do fim de linha". IL não vota a favor da moção de censura

Líder da Iniciativa Liberal afirma que Luís Montenegro sai "muito fragilizado" com caso Spinumviva, mas não acompanha a iniciativa do PCP.
Publicado a
Atualizado a

O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, considerou esta segunda-feira que o primeiro-ministro "se aproximou do fim de linha", acrescentando que Luís Montenegro sai "muito fragilizado" da polémica envolvendo o universo da empresa familiar Spinumviva.

"O primeiro-ministro sai desta situação muito fragilizado. Sai como uma pessoa que não prestou esclarecimentos no momento certo, que os prestou sempre a reboque das circunstâncias, que tomou as decisões pelo mínimo sempre e, portanto, em nenhum dos momentos chave deste processo tomou uma decisão que tranquilizasse os portugueses", declarou Rui Rocha, após dar uma aula de literacia financeira no Campus da Universidade do Minho, em Guimarães, distrito de Braga.

Questionado pelos jornalistas se é o fim de linha para Luís Montenegro, o líder da IL respondeu: "creio que se aproximou dela e que saiu desta situação muito mais fragilizado".

Sobre o alegado afastamento e silêncios entre São Bento e Belém, Rui Rocha entende que "todos têm significado".

"Creio que é mais uma consequência da situação em que o primeiro-ministro se colocou a si próprio. Não dou um especial valor, preocupa-me neste momento mais a desilusão e a frustração que os portugueses que confiaram neste primeiro-ministro poderão ter perante esta situação em que o primeiro-ministro se colocou", afirmou o presidente da IL.

Questionado sobre notícias segundo as quais Luís Montenegro não informou previamente Marcelo Rebelo de Sousa da comunicação que fez ao país, no sábado, Rui Rocha diz que é sinal de que não existe uma relação de confiança entre o primeiro-ministro e o Presidente da República.

"Se houvesse uma relação transparente entre as instituições, provavelmente essa comunicação poderia ter acontecido. Se não aconteceu, significa que não há um clima de confiança entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Visto como cidadão e agente político, parece-me evidente que entre o primeiro-ministro e o Presidente da República não há neste momento uma relação de confiança total", referiu o líder da IL.

Sobre se considera ser o momento de mudar, Rui Rocha lembrou que o país teve eleições "há menos de um ano", com os portugueses a dizerem nas urnas que "queriam mudar" e ressalvou que o partido "está tranquilo" com qualquer solução.

"Aquilo que posso dizer da parte da Incitativa Liberal é que estamos muito tranquilos com qualquer solução que esta crise possa levar, entendemos que o país precisa de estabilidade, mas não estamos também por uma estabilidade a todo o preço, que contamina as instituições", avisou o presidente da IL.

"Seguramente não votaremos a favor desta moção de censura"

O presidente da Iniciativa Liberal adiantou ainda que o partido não votará favoravelmente a moção de censura do PCP ao Governo, por divergências políticas, mas recusou-se a dizer pelo vai optar pelo voto contra ou pela abstenção.

"As razões fundamentais que o PCP apresenta não são aquelas que a Iniciativa Liberal subscreve. Não vou comunicar o sentido de voto, mas tenho uma certeza - porque quero discutir isso com o grupo parlamentar nas próximas horas -, seguramente que não votaremos a favor desta moção de censura, isso é um dado objetivo face ao conteúdo e face à divergência total que temos dessa fundamentação", disse Rui Rocha.

O líder da IL alegou que a moção de censura do PCP, além das questões ligadas à conduta do primeiro-ministro no caso da empresa familiar Spinumviva, tem uma fundamentação política contrária àquela que o seu partido defende.

"Aí estamos do lado oposto do PCP, portanto, não podemos votar favoravelmente alguma coisa com a qual não concordamos, de todo (...). Um exemplo: O PCP entende que a TAP não deve ser privatizada, a Iniciativa Liberal entende que deve ser totalmente privatizada, a AD parece que quer ficar a meio caminho com uma privatização parcial e não se sabe quando", justificou Rui Rocha.

Questionado sobre se não votar favoravelmente a moção de censura do PCP significa estar ao lado deste Governo, o presidente da IL refutou essa ideia.

"A Iniciativa Liberal nunca esteve ao lado da AD. Recusámos ir numa coligação pré-eleitoral da AD, recusamos integrar o Governo da AD, sempre fomos muito críticos. Obviamente, em alguns momentos, também pela estabilidade do país, é preciso dar algum benefício da dúvida. Agora, creio que o benefício da dúvida e o estado de graça, se alguma vez o teve, do primeiro-ministro, esse terminou", sublinhou Rui Rocha.

O líder da IL acusa ainda o primeiro-ministro de arrastar o Governo para a polémica envolvendo os negócios da empresa familiar, que, no seu entender, era apenas do foro pessoal de Luís Montenegro.

"Quando faz uma comunicação ao país, na residência oficial, rodeado de todo o seu Governo, o primeiro-ministro arrasta todo o Governo para esta situação. E isso é uma imprudência do próprio primeiro-ministro. Se até aqui já éramos exigentes, a partir de agora seremos cada vez mais exigentes com o Governo da AD e estamos longe de estar numa posição em que consideremos que a estabilidade está acima de tudo", vincou Rui Rocha.

Sobre a possibilidade de o Governo avançar com uma moção de confiança, o presidente da IL deixou um repto a Luís Montenegro.

"Se o primeiro-ministro entende que precisa de uma moção de confiança, que a apresente. Se tem dúvidas, que a apresente, cá estaremos para discutir e votar, sempre no interesse do melhor para o país. A Iniciativa Liberal está muito tranquila para qualquer dos cenários: seja ir a eleições, seja uma continuidade, mas uma continuidade com redobrada exigência face aos acontecimentos recentes", reiterou Rui Rocha.

A moção de censura com o título "Travar a degradação nacional, por uma política alternativa de progresso e de desenvolvimento", tem chumbo garantido, uma vez que o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já anunciou que não pretende viabilizá-la.

A iniciativa foi apresentada depois de, no sábado, o primeiro-ministro ter feito uma declaração ao país na qual admitiu avançar com uma moção de confiança ao Governo se os partidos da oposição não esclarecessem se consideram que o executivo "dispõe de condições para continuar a executar" o seu programa.

A declaração surgiu após notícias de que a Spinumviva - até sábado detida pela sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e filhos -, recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde por "serviços especializados de 'compliance' e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt