José António Vieira da Silva critica a estratégia do PS para as presidenciais
José António Vieira da Silva critica a estratégia do PS para as presidenciaisMIGUEL A. LOPES/LUSA

Presidenciais 2026. “O PS errou e não foi agora”, diz ex-ministro Vieira da Silva

Candidatura de António José Seguro acentua divergências internas que marcaram o confronto político com António Costa há mais de uma década. Há quem se recuse a “engolir sapos”.
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Na semana em que o Partido Socialista oficializou o apoio a António José Seguro como candidato presidencial, o consenso interno continua longe de ser absoluto. Embora a decisão tenha sido aprovada pela Comissão Nacional com apenas duas abstenções e sem votos contra, várias figuras de destaque do partido, desapontadas pela falta de “debate interno e alternativas”, manifestam reservas e afastamento face à candidatura. 

Um dos casos mais notórios é o de António Vieira da Silva, ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade Social e membro da Comissão Política Nacional do PS, que anuncia, em declarações ao DN, que não participará na campanha. 

“A minha posição é conhecida. Não considero que existam candidatos da minha área política capazes de disputarem uma vitória nas eleições. Respeito a posição do Partido Socialista, mas não estou com António José Seguro”, afirmou o antigo ministro de António Costa, sublinhando que acompanhará as eleições “enquanto cidadão”

Vieira da Silva considera que este não é “um momento positivo para o PS”, apontando erros na estratégia do partido. 

“O PS não errou agora. O PS errou há vários meses, quando, em vez de promover um debate alargado que levasse à apresentação de um candidato, optou por participar por arrastamento numa eleição muito importante. O partido não se preparou devidamente”, defendeu, acrescentando que o PS se deixou condicionar por uma candidatura.  

Vieira da Silva não é único desalinhado com a posição oficial. O antigo líder Ferro Rodrigues, que desde 1980 seguia as orientações partidárias, diz encontrar-se em reflexão, mas tudo indica que não vai endossar o candidato. E será difícil a Augusto Santos Silva engolir “um sapo” depois de o ex-Presidente da Assembleia da República ter afirmado, numa fase em que ponderava se deveria ele próprio colocar-se no tabuleiro presidencial, que nenhuma das candidaturas cumpria os “requisitos mínimos”.   

Apesar das críticas, o presidente socialista, Carlos César, garante que o PS “não está nada dividido”. Para César, o apoio formal a Seguro “esgota a participação do partido neste processo”. A decisão foi anunciada precisamente por Carlos César, um dos protagonistas da ofensiva interna que abriu caminho à liderança de António Costa. Desta vez, César considera que “para o Partido Socialista, o melhor é António José Seguro”.   

Também José Luís Carneiro encontra justificações, salientando o percurso político do candidato. “António José Seguro foi secretário-geral da Juventude Socialista, deputado, ministro adjunto de António Guterres e secretário-geral do PS. Tem um percurso que honra o partido”, afirmou o secretário-geral socialista. 

Mesmo alguns críticos acérrimos do antigo secretário-geral manifestaram já público apoio ao candidato. Entre eles, Duarte Cordeiro. “Neste contexto. António José Seguro é a pessoa mais bem posicionada no centro-esquerda”, afirmou. E para Fernando Medina o candidato é “o único nome do centro-esquerda com reais possibilidades de chegar à segunda volta e vencer”. 

António José Seguro liderou o PS entre 2011 e 2014, num período marcado pela crise económica e pela governação de Pedro Passos Coelho, sob a intervenção da troika. A sua liderança terminou após uma disputa interna com António Costa, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que viria a suceder-lhe como secretário-geral. O confronto dividiu e deixou marcas no partido. 

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