Lembra-se da primeira vez que ouviu o termo Spinumviva?Foi tema a que nunca prestei particular atenção. Quando se está concentrado em resolver os problemas do país, o supérfluo que interessa às oposições, que não têm como contestar politicamente os méritos da governação, é tudo o que não entra na minha atenção. Portanto, sinceramente não me recordo. E houve algum momento em que o primeiro-ministro lhe tenha dado, enquanto parceiro de governação, alguma explicação sobre a empresa que criou, e mais tarde passou para a mulher e para os filhos?Neste momento, o país inteiro sabe tudo sobre Luís Montenegro e muito pouco em relação aos líderes dos outros partidos. A circunstância do primeiro-ministro, que para mim não teve nada que justificasse a intensidade do que se seguiu, é para mim, óbvia, clara e conhecida. Quero é concentrar-me nesta campanha eleitoral, que tem em vista um Governo para Portugal, naquilo que realmente interessa aos portugueses e lhe garanto que não é seguramente esse tema.Considera que não há mesmo nada a apontar nem ao primeiro-ministro nem à Aliança Democrática (AD) no processo que culminou na apresentação da moção de confiança, na sua rejeição e na dissolução da Assembleia da República?O que há a apontar ao primeiro-ministro é ter trabalhado. Os portugueses devem desconfiar é de quem não trabalhou, ou de quem porventura só trabalhou na política. Ter tido vida além da política vem dar crédito a quem quer resolver os problemas do país. Conhecer a vida, no sentido de quem a enfrenta trabalhando, é uma coisa boa, e isso vai em benefício do primeiro-ministro.Tendo em conta que a campanha eleitoral da oposição está a ser muito centrada nas acusações ao primeiro-ministro, relacionadas com a sua vida empresarial, uma vitória da AD será um sinal evidente de que os portugueses concordam com a forma como tem governado? O que vejo como evidente é que as oposições se centram nesse tema porque são incontestáveis os méritos da governação quando se trata da economia e de resolver problemas antigos. Talvez uma das notas mais expressivas sobre o que está em causa, e o sucesso da governação, é a AD ser julgada pelo que fez em 11 meses, como se tivesse governado quatro anos. Tem as oposições a exigirem resultados que seriam normais em quatro anos, mas nem nisso são particularmente inteligentes, se tiverem em conta que em 11 meses este Governo fez mais do que o PS em oito anos.Em que é que, na sua ótica, a AD teve menos tempo para apresentar bons resultados? O que me resulta impressionante é a transversalidade de resultados que a AD conseguiu, embora obviamente haja áreas cujos problemas são tão estruturais que não se alteram radicalmente em 11 meses. É impossível. Penso que os portugueses leem isso com muita nitidez, é perceber-se que este Governo não só conseguiu aumentar rendimentos, seja o salário mínimo, o salário médio - os salários aumentaram em média 7% -, duas vezes o complemento social para idosos e as pensões, ao mesmo tempo que reduziu impostos, no IRS e IRC. Para quem dizia que isto é panfletário e eleitoralista, não é, porque se conseguiu aumentar rendimentos, reduzir impostos, mas ainda assim reforçar a economia. Atingimos um superávite e a menor dívida pública desde 2009, o que é absolutamente extraordinário. Do ponto de vista dos resultados, é impressionante aquilo que se conseguiu, mas também na coesão social. Há um ano, quando Luís Montenegro faz o debate com Pedro Nuno Santos para as eleições que a AD venceu, havia uma manifestação de polícias à porta. E houve várias outras durante esse ciclo, principalmente na parte final da governação de António Costa. De repente, deixou-se de falar dessa conflitualidade, porque o Governo soube, através de resultados, conquistar a paz social, resolvendo problemas antigos de 19 classes socioprofissionais da função pública: professores, médicos, enfermeiros, polícias, militares, guardas prisionais, funcionários judiciais e muitos mais. Não só conseguimos resultados na economia como libertámos rendimento para as famílias e para as empresas, como demos respostas a problemas antigos.Os partidos da oposição sairiam a ganhar em falar menos na Spinumviva e mais de urgências encerradas? A Saúde é o calcanhar de Aquiles deste Governo?O que interessa aos portugueses numa campanha, e no debate político na Assembleia da República? É o que os partidos têm para apresentar como soluções para resolver os problemas do dia-a-dia dos portugueses, alternativas que depois são decididas através das escolhas eleitorais. Ora, nós estivemos na parte final da legislatura a discutir uma pessoa, numa lógica transposta para a campanha eleitoral, que não interessa a ninguém. De cada vez que os portugueses percebem que o debate se centra numa pessoa ou num caso, não têm noção daquilo que os partidos de oposição têm para apresentar de alternativo. Em relação à AD, sabem o que foram as nossas propostas e podem ver os resultados, mas não percebem neste momento o que as oposições faziam de diferente para alcançar um resultado porventura melhor. Isso também acaba por demonstrar uma certa radicalização. Neste momento, a disputa não é entre a direita e a esquerda, manifestamente é entre um espaço que é de moderação e um certo radicalismo, à esquerda e à direita da AD, se é que aquilo se chama direita. Os portugueses sabem como a AD funciona, sabem que é uma coligação do PSD com o CDS, sabem também que a AD só governa se vencer as eleições e sabem que a AD não governa com o Chega. Isso é claro e cristalino. Todavia, os portugueses percebem também que o PS, se é que tem alguma pretensão de governar – acredito que vamos vencer as eleições –, não teria maioria suficiente para governar por si. E os aliados deste PS, que é o PS mais radicalizado da sua História, não é o de Mário Soares, obviamente....Nem é o PS do António Costa? Tão pouco. É um PS ainda mais radicalizado. É o PS da fação que, dentro do PS de António Costa, conceptualizou e concretizou a geringonça. Neste momento, quem seriam os aliados do Pedro Nuno Santos? O PCP, o Bloco de Esquerda, o Livre e o PAN, e no contexto parlamentar também o Chega, na sequência daquilo que aconteceu durante um ano na Assembleia da República. O primeiro aliado do PS, naquilo que visava atingir o Governo, foi o Chega. E qual foi o principal aliado do Chega? O PS. Deste ponto de vista, esta é uma disputa entre a moderação e os extremismos. A moderação que está com o PSD e o CDS, nesta coligação; e os extremismos, que estão com o PS e o que gravita à sua volta nos extremos, à esquerda e naquele populismo que se diz direita e que – facto extraordinário –, dizendo-se de direita, fez cair em 15 meses três governos de direita em Portugal. Depois de ter votado tudo na Assembleia da República com a esquerda, fez cair o Governo da República, o Governo Regional dos Açores e o Governo Regional da Madeira.Referiu todos os partidos menos um. A Iniciativa Liberal (IL) é um partido moderado ou radical?É um partido que, no Parlamento, não alinhou, no essencial, nesta deriva das oposições, embora também tenha tido os seus laivos, mas noutro plano. E se a 18 de maio não houver nenhuma alteração significativa, com a AD aquém da maioria absoluta, mesmo com os deputados da IL, e o Chega a impossibilitar uma maioria alternativa? A continuação dos miniciclos é um fardo que terá de aceitar enquanto governante?Não desejámos estas eleições nem a crise política. Acontecem num momento em que o mundo está realmente perigoso, imprevisível e instável, quando a previsibilidade e estabilidade são ativos muito importantes dos países. Este Governo cai quando era elogiado no mundo inteiro. A crise política é irresponsável, egoísta e desnecessária. Se não houver uma alteração muito flagrante da distribuição de votos em mandatos, teríamos a confirmação dessa absoluta desnecessidade. Acredito que a AD vai fazer bastante melhor, acredito que as urnas são oportunidades de se fazer justiça, politicamente, e essa avaliação dos resultados deve contar para alguma coisa, porque não tratámos apenas de melhorar a vida das pessoas– conseguimos deixar Portugal numa situação muito favorável para um ciclo de quatro anos..Na apresentação do Programa Eleitoral da AD, Montenegro elogiou o CDS e disse “que até parece que somos um só partido”. Apesar de ter ressalvado que são dois partidos diferentes, admite que o preço a pagar pelo sucesso da governação da coligação é uma progressiva diluição?O CDS já participou em nove governos de Portugal. Valorizamos sempre o interesse nacional sobre a mera vantagem política ou partidária. O CDS é um partido que concorre por si, como concorre em coligação, dependendo dos cenários e ciclos. Seria absolutamente incompreensível que aqui chegados, depois destes 11 meses, a opção não fosse a da continuação da AD. Sei também que o CDS está hoje muitíssimo mais forte. Em 2022, tivemos um problema conjuntural que não reflete o legado, trabalho e esforço deste partido, fundador da democracia. Ultrapassámos esse ciclo, devolvemos o CDS à Assembleia da República, hoje o CDS é um partido muito relevante na governação, e mantém a sua expressão nos dois governos regionais, no Parlamento Europeu, governa sozinho seis autarquias e mais de 40 em coligação com o PSD. Tem neste momento 1.700 autarcas, o que significa que não só é a quarta força política como tem mais autarcas do que Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal, PAN e Chega juntos. E acredito que quando o CDS tem bom desempenho nos governos, isso dá-lhe crédito na avaliação da sua utilidade. Tem governado bem nas suas pastas e, sem falsa modéstia, tem sido muito relevante na Defesa Nacional, como nas matérias de segurança, com o [secretário de Estado] Telmo Correia na Administração Interna, e na transversalidade dos contributos, porque o facto de estar em dois ministérios não significa que não contribua para as políticas em todas as pastas. Acho que o CDS reforça a sua utilidade e a sua diferença precisamente estando no Governo de Portugal.Aspira a ter mais governantes?Gostava que o CDS tivesse o máximo possível. Como é óbvio, até gostava que pudesse ganhar e ser a força maioritária em Portugal.Sendo a AD chamada a formar Governo, espera continuar ministro da Defesa Nacional?A decisão compete sempre ao primeiro-ministro, mas acho que temos feito bem, todos os membros do Ministério da Defesa Nacional, o que nos foi pedido. Parece-me uma evidência. Esta perspetiva de interrupção vale para tudo. E também para o exercício das pastas. O que estava previsto para quatro anos foi interrompido ao fim de 11 meses. É normal que queiramos concluir o ciclo dos quatro anos.Tendo em conta os desafios que se apresentam, como a necessidade de aumentar o investimento em Defesa, no seio da NATO, face às ameaças que a Europa enfrenta, é uma meta pessoal continuar na mesma pasta?Também na Defesa Nacional ultrapassámos muitas das metas que a maior parte das pessoas achariam impossíveis de concretizar para o tempo da legislatura. Começámos pelas pessoas, aumentando salários e suplementos, corrigimos injustiças de décadas e criámos os primeiros mecanismos de apoio em caso de incapacidade ou de morte, que não existiam sequer nas Forças Armadas. Fizemos justiça aos antigos combatentes, no que tem a ver com a comparticipação de medicamentos a 100% e o acesso ao Hospital das Forças Armadas. E depois partimos para o reequipamento, estando a modernizar equipamentos nos três ramos das Forças Armadas. Demos resposta a problemas tão dramáticos como os da habitação. Quando cheguei ao Governo contávamos com pouco mais de 300 mil euros no PRR, que era uma coisa ridícula, mas multiplicámos esse número por 100 e conseguimos que edifícios nas partes mais importantes do Porto e de Lisboa, mas não só, pudessem ser reconvertidos e entregues para habitação a baixo custo. Encaramos as indústrias de defesa como um potencial tremendo do ponto de vista da economia, sabemos que hoje representam 2,5% das exportações, pagam salários mais altos, investem mais em inovação e tecnologia, têm oportunidades tremendas nos investimentos de defesa, porque se há lição que devemos tirar do atual contexto geopolítico é que estamos obrigados a produzir mais na Europa, mas também a comprar mais na Europa. São oportunidades tremendas para as empresas portuguesas, micro ou pequenas e médias empresas, mas para as grandes também. Este é um processo que temos de continuar, caminhando para chegar a 2% do PIB até 2029, meta que queremos antecipar. A previsão para 2024 em termos de investimento era de 1,48% do PIB, depois em novembro desse ano atualizou-se para 1,51%, no Compromisso de Washington atualizou-se para 1,55%, mas agora que já temos as contas verificadas investimos 1,58% do PIB, que é perto de 4,5 mil milhões de euros. Superámos todas as metas, aproximando-nos dos compromissos firmados com a NATO, sem ter posto em causa as prestações sociais, ajudando a reforçar o bom desempenho da economia, e obviamente também tendo em conta o bom desempenho geral do Governo, numa solidariedade entre vários ministérios.Foi dito pelo primeiro-ministro, também na apresentação do programa eleitoral da AD, que os portugueses podem continuar a contar com o espírito de equipa, coesão e dedicação ao país. Esta coesão poderá continuar a existir se o próximo Executivo também tiver membros da IL e se o Programa de Governo tiver que se adaptar às propostas dessa força política? Aquilo que queremos quando vamos a votos – e falo pelo CDS obviamente, enquanto presidente do CDS, porque foi nessa perspetiva que celebrámos esta coligação com o PSD – é que a AD tenha um resultado muito robusto que nos permita não depender dos outros. É isso que é desejável. Aliás, o primeiro-ministro já foi claríssimo dizendo que não governamos se não vencermos as eleições, nem governamos com o Chega, e quem não queira a alternativa do PS totalmente radicalizado, coligado com outros partidos do firmamento dos extremos, será bom que perceba que a opção pela AD é a forma de garantir que o espaço de moderação prevalece. Opções por outros partidos, por simpáticos que lhes pareçam, poderia ter como consequência – acho que não vai acontecer – o que as pessoas menos desejam, que seria ter novamente o PS a governar. Acredito que vamos vencer as eleições, que vamos ter muito melhor resultado do que há um ano, mas temos que trabalhar muito. A IL só devera ser integrada em último caso? Em campanha eleitoral é tema de que nem trato. Aquilo que desejo é que a AD tenha uma maioria em que só dependa de si para poder governar com estabilidade, e não de outros. É o cenário em que me concentro, não concebo outro nesta fase.O CDS elegerá um segundo deputado, tanto em Lisboa como no Porto, se a AD eleger 16 deputados nesses dois círculos, nos quais conseguiu 14 há cerca de um ano. É um incentivo para que o partido se empenhe ainda mais na conquista de votos? O CDS está empenhado em todos os círculos eleitorais, mesmo naqueles onde sabe antecipadamente que não elegerá deputados. O nosso propósito é que a AD governe, tendo um apoio parlamentar muito forte, o que implica um resultado nacional. Portanto, o CDS está empenhado por igual e por inteiro em todos os círculos eleitorais. E o que ganha o vosso grupo parlamentar se em vez de dois deputados tiver três ou quatro? Duplica o talento que tem sido reconhecido ao Paulo Núcio e João Almeida. São dois que valem por 50. Pode dizer que o processo que levou à exclusão do PPM nesta coligação foi bem gerido? Não passou por mim. Gostava de ter o PPM na coligação? Neste momento não é relevante sequer a discussão. Houve circunstâncias que certamente o justificaram. Qualquer entendimento implica que as partes cheguem a um consenso. Esse consenso não foi possível no caso concreto.Entende que a forma mais dura com que o Governo tem tratado a questão da imigração possa ser vista como uma concessão ao discurso do Chega, numa "venturização" do discurso de que fala a esquerda?Acho que a proximidade está nos extremos, entre aquilo que defende o PS e as esquerdas, e aquilo que defende o Chega, porque nesta discussão a moderação também se encontra precisamente na AD. De um lado tem à esquerda aqueles que acham que Portugal é uma espécie de paraíso onde pode vir quem queira, sem restrições. Foi o que tivemos até agora, depois destes anos do PS, de mão dada com o resto da esquerda. Do outro lado, no Chega, temos aquela ideia igualmente disparatada de que não pode entrar ninguém. Sabemos que precisamos de pessoas, mas queremos que possam ser integradas. Quando em 2017 a esquerda decidiu que bastava uma manifestação de interesses, o que disse é "venha quem queira". Isso produziu um efeito de chamada absurdo e desumano que fez com que passássemos de 480 mil imigrantes em 2018 para um milhão e 465 mil em 2024. E quando vejo, por causa disto, milhares a dormirem nas ruas e em estações de comboio, a ocuparem casas, a viverem às vezes 30 a 40 num apartamento, a serem explorados, vejo absoluta crueldade. Não vejo humanismo em dizer venha quem queira, porque nisso nós somos humanistas quando tratamos de assegurar que quem vem tenha um contrato de trabalho, quando conseguimos envolver nisto as entidades patronais – ou seja, quem queira contratar um imigrante tem de assegurar que vai ter seguro de viagem e seguro de saúde, vai ter onde viver, a própria entidade patronal corresponsabiliza-se na forma de integrar esse imigrante. Pelo rigor na entrada, não só controlamos os fluxos migratórios, como depois, com grande humanismo, estamos a integrar essas pessoas, dando-lhes aquilo que queremos seja entregue a qualquer português. Respondendo à sua pergunta, próximos nos extremismos, nessa falta de lucidez, estão as esquerdas e o Chega. O Chega, que diz que não quer que entre ninguém, basicamente deu a mão ao PS, e o PS deu a mão ao Chega, para chumbarem a Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras, que através da PSP permitiria começar a regular esses fluxos. Basicamente, o exato contrário daquilo que prega, por querer o caos, por achar que é no caos que consegue crescer politicamente. Nós queremos o melhor para os portugueses. Isso passa por resolver os seus problemas e, no que tem a ver com as migrações, dar uma resposta para aquilo que é um absurdo.."Pelo rigor na entrada, não só controlamos os fluxos migratórios, como depois, com grande humanismo, estamos a integrar essas pessoas, dando-lhes aquilo que queremos seja entregue a qualquer português. Respondendo à sua pergunta, próximos nos extremismos, nessa falta de lucidez, estão as esquerdas e o Chega."Nuno Melo.Terá que haver deportações?Terá de se cumprir a lei, como em qualquer parte do mundo. Não há nenhum português que de repente diga que vai trabalhar para os Estados Unidos, ou para a Índia, ou para a China, ou para o Paquistão, ou para Angola, ou para Moçambique, ou para Zimbabué, ou para Austrália, ou para Nova Zelândia. Há leis que se aplicam. As pessoas que, querendo trabalhar em Portugal, veem preenchidos os requisitos que a lei exige, podem ficar. Aquelas que não veem preenchidos esses requisitos, têm que sair. Temos de tratar que possam voltar a casa, mas com humanismo. Agora, não cumprindo a lei, têm que sair. De outra forma, não vale a pena ter lei. Então não tínhamos nenhuma lei, não fixávamos critérios, pressupostos e requisitos. Uma lei que não é aplicada, não existe. E é a denegação do Estado de Direito. Considera ridículo que comparem as posições do Governo da AD com as de Donald Trump? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Nós limitámo-nos a dar alguma lógica jurídica e a ter um propósito de integração, mas também de controlo, que durante oito anos esteve, de forma insana, arredado das políticas públicas. O que o PS fez, a par das esquerdas, e com o Chega, é uma loucura. Não faz sentido nenhum. As pessoas chocam-se ao perceber o grau de exploração de seres humanos que acontece neste momento em Portugal, com gente a viver na rua, por causa dessa ausência total de um regime jurídico que permita servir os interesses dos imigrantes e os interesses de Portugal. A vossa coligação tem algum receio de ligar a imigração desregulada aos problemas na habitação, saúde e noutros setores, por medo de ser rotulada de populista? Não. Se um imigrante tem uma oportunidade de trabalho, recebe um salário, contribui para a economia nacional, tudo funciona de forma harmónica e natural, transversalmente, quer do ponto de vista da capacidade da prestação dos serviços públicos, quer do ponto de vista do ciclo normal de vida dos imigrantes, que terão de encontrar casa, de ter os filhos nas escolas... Quando regulamos, regulamos precisamente para racionalizar os fluxos, tendo em conta as dinâmicas da economia e a possibilidade de outras pessoas encontrarem o seu destino em Portugal. Isso só não se atinge quando os fluxos migratórios estão totalmente desregulados. Não se consegue garantir minimamente que quem vem tenha oportunidades e seja tratado com dignidade. É precisamente nessa perspetiva que tivemos outra abordagem, que já começou a dar resultados, se tiver em conta o que aconteceu em 2024. Depois de acabarmos com a manifestação de interesse, o número de imigrantes a entrar reduziu-se de 157 mil para 64 mil de um semestre para o outro. Ou seja, há realmente uma relação de causa e efeito entre aquilo que apresenta como possibilidade no quadro legislativo e o comportamento de quem quer escolher um país. As pessoas, quando vêm para Portugal, não vêm apenas porque acham que é o melhor destino do mundo. Vinham porque era o país mais fácil de entrar do mundo. Tanto que uma enormíssima parte das pessoas que vieram não se encontram, porque já não estão cá. As tais que estão em parte incerta... Nós controlamos uma vastíssima fronteira externa da União Europeia. Ou seja, uma decisão destas não tem consequências apenas para Portugal. Tem consequências para a União Europeia inteira. Há livre circulação de bens, pessoas, serviços e capitais. O que a esquerda permitiu foi que a desregulação fosse tão absurda que grande parte das pessoas que entraram não se sabe sequer onde estão. Isto é normal? Não. É profundamente anormal. Mas é o resultado da visão da esquerda em Portugal. Os nossos resultados, felizmente, começam a ser um bocadinho melhores.Está a dizer que a esquerda portuguesa colocou em risco a segurança europeia de forma intencional?A esquerda portuguesa colocou em risco o futuro de muitos seres humanos que, por virem para Portugal sem qualquer critério de exigência, hoje estão abandonados à sua sorte, muitas vezes explorados, sem terem onde viver, sem trabalho e outros em parte incerta. O resultado primeiro e mais perverso dessa irresponsabilidade da esquerda teve a ver com o impacto nas vidas de seres humanos. Quem de nós não fica chocado quando vê pessoas a viver na rua? Porquê? Porque vieram sem exigência nenhuma por parte de quem governou neste país, de mão dada com os tais extremismos que estariam no Governo se, por uma casualidade que não vai acontecer, tivessem oportunidade.Qualquer tipo de entendimento com o Chega, para assegurar uma governação de direita, é pior do que deixar que o PS volte a governar? A vida é feita de razões de princípio. É isso que define o caráter das pessoas. E a partir do momento em que se diz que não se vai governar com o Chega, e se é claro nisso, estabelecendo um contrato com os eleitores, depois não pode ser diferente. Acresce a isso, mas aí já é a minha opinião, que qualquer parceiro tem de ser minimamente estável, previsível e lúcido, coisa que manifestamente não encontro nesse partido, que diz uma coisa num dia e o seu contrário no outro. Que é profundamente imprevisível e absolutamente destrutivo, incapaz de ter uma ideia que permita resolver problemas das pessoas. Apenas o pior, achando que nesse pior consegue crescer eleitoralmente. Noutros momentos da História, os extremismos foram sempre crescendo, na Europa e fora dela. Ora, toda a nossa visão, vocação e vontade é de sentido oposto. O que queremos é positivo, construtivo, tem em vista resolver os problemas das pessoas, tem em vista tratar os adversários com respeito. Como é que poderia – sou eu também a dizê-lo agora, e não quero vincular ninguém, a não ser o meu partido, mas admito que o que digo tenha acolhimento na coligação inteira – relacionar com alguém que espalha aqueles cartazes absolutamente miseráveis pelo país inteiro? Aqueles cartazes espelham o caráter, ou a falta dele, de quem se permite fazer política numa dinâmica tão desprezível. Muitas vezes não podemos escolher com quem queremos estar, mas seguramente podemos escolher com quem não queremos. Sendo muito clara a sua posição, tal como o “não é não” de Luís Montenegro ao Chega, se outro futuro líder do PSD tiver ideias diferentes em relação a André Ventura não deverá contar com os deputados que o CDS vier a eleger? Sou muito pragmático. Neste momento estamos numa campanha eleitoral, a pensar nas eleições que vão acontecer a 18 de maio, com estes líderes, Luís Montenegro e eu. O meu foco é nessas eleições, que queremos ganhar com um resultado que nos permita governar, independentemente dos outros.