A primeira ronda de audições do Presidente da República aos líderes dos partidos mais votados a 18 de maio levou Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos e André Ventura ao Palácio de Belém nesta terça-feira. E, apesar das circunstâncias serem complexas, pois o secretário-geral do PS, até agora líder da oposição, deixa a liderança dos socialistas no próximo sábado, e o presidente do Chega ainda aguarda pela contagem dos votos dos círculos da emigração para confirmar que terá a segunda maior bancada parlamentar da próxima legislatura, Marcelo Rebelo de Sousa e o país inteiro ouviram manifestações de interesse na estabilidade. Mas sem compromissos, até porque nenhum dos outros dois vértices do tripartidarismo quer o ónus de respaldar a AD - Coligação PSD-CDS.Primeiro a ser ouvido pelo Presidente da República, a meio da manhã, Luís Montenegro saiu em passo apressado e absoluto silêncio, acompanhado de uma comitiva que incluiu as vice-presidentes do PSD Leonor Beleza e Inês Palma Ramalho, e o secretário-geral (e até agora líder parlamentar) Hugo Soares, que na noite anterior garantira a disponibilidade da coligação para “dialogar com todos os partidos”, englobando o Chega no mesmo rol que o PS, a Iniciativa Liberal e o Livre. Algo que Marcelo Rebelo de Sousa optou por reforçar, em declarações a jornalistas no exterior no Palácio de Belém, intimando PS e ao Chega. “À primeira vista não há razões para considerar que não queiram colaborar na governabilidade, pois o mundo está como está”, disse, apelando ao esforço de uns e outros, enquanto mantém a esperança de dar posse ao novo Governo antes dos feriados de junho.Certo é que nessa altura já o PS não será liderado por Pedro Nuno Santos, que entrou na audiência sabendo que José Luís Carneiro, candidato assumido a suceder a quem o derrotou na corrida à sucessão de António Costa, estará predisposto a viabilizar o próximo Governo de Luís Montenegro, apenas ligeiramente menos minoritário no apoio parlamentar do que o anterior - pois os 80 deputados eleitos por PSD e CDS em 2024 são agora 89, podendo subir para 90 ou 91 graças aos votos dos emigrantes. . Tal circunstância foi realçada por Pedro Nuno Santos, que nas curtas declarações, à saída de um não menos curto encontro, referiu que “da minha parte foi de despedida”, sem esquecer a “boa convivência” com Marcelo durante o ano e meio em que foi secretário-geral do PS, optando por graduar em “muito boa” a relação que manteve com o Presidente da República quando foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, ao longo de praticamente toda a legislatura em que articulou a “Geringonça”, criada no final do segundo mandato presidencial de Cavaco Silva. Salientando que pouco mais poderia acrescentar, o ainda líder do PS, que foi a Belém com o presidente do partido, Carlos César, a quem caberá ser secretário-geral interino até ficar decidido o processo eleitoral interno, e com a secretária-geral da Juventude Socialista, Sofia Pereira, eleita deputada no domingo, acabou por infletir as indicações vincadas no seu discurso de derrota. Após ter acrescentado ao anúncio da demissão a ideia de que “não cabe ao PS ser o suporte” do próximo Executivo, Pedro Nuno Santos foi mais conciliatório: “Quero apenas dizer-vos que desejo que a situação política se estabilize rapidamente e que o país possa fazer o seu caminho, superando os problemas que ainda tem”.Face à insistência dos jornalistas que acompanhavam a primeira ronda de audiências, o maior derrotado das eleições legislativas ainda voltou a desejar que o país “tenha rapidamente a sua situação política clarificada, para resolver os problemas”. Mas no segundo encontro combinado com o Presidente da República, que ouvirá agora os outros partidos com representação parlamentar - nesta quarta-feira recebe no Palácio de Belém a Iniciativa Liberal, às 11h00, e o Livre, às 17h00, faltando o PCP, o CDS (que manteve o grupo parlamentar de dois deputados), tal como o Bloco de Esquerda, o PAN e o estreante Juntos Pelo Povo -, o interino Carlos César já será o interlocutor a prazo..André Ventura quer PS a sustentar Governo.Na próxima ronda de contactos com os três maiores partidos também é provável que André Ventura apareça reforçado, pois o Chega conta desfazer o empate com o PS, a 58 deputados, ultrapassando os socialistas com o apuramento dos quatro deputados eleitos pelos círculos da Europa e de Fora da Europa. Nas legislativas de 2024, o Chega venceu no primeiro, elegendo um deputado, tal como o PS, enquanto no segundo foi a AD a vencer, com o Chega logo atrás, dividindo os deputados. Bastaria que essa ordem se mantivesse para que o partido mais à direita na Assembleia da República passasse a ter mais um deputado do que os socialistas, embora seja praticamente garantido que o PS terá mais votos na contagem final, pois tem uma vantagem próxima de 49 mil votos no território nacional.E foi com o presumível estaturo de futuro líder da oposição que André Ventura se apresentou no Palácio de Belém, aguardando resultados finais que “podem mudar completamente o xadrez político português”. À saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelos deputados Pedro Frazão, Marta Silva e Patrícia Carvalho, reeleitos neste domingo, o líder partidário disse ter transmitido ao Presidente da República que, “apesar da vitória histórica do Chega ainda não ter sido suficiente para ser o Governo de Portugal”, o seu partido “procurará ser um farol de mudança e de estabilidade, aberto ao diálogo e às medidas boas para o povo português”.Apesar de garantir que compreende “a fragmentação de poder que existe neste momento” e que o Chega “será, como sempre foi, um partido responsável nos momentos em que é preciso dar estabilidade ao país”, Ventura tem como prioridade liderar a oposição na próxima legislatura e deixar que o PS sustente o próximo Governo de Luís Montenegro. “Comprometi-me com o Presidente da República a termos uma conversa em nome da estabilidade e da governabilidade”, disse o líder do Chega à saída da audiência, mas afastou “uma estabilidade a qualquer custo”. E contrapôs-lhe o “Governo alternativo” que prometeu preparar, focada no “combate à imigração descontrolada” e que permita um crescimento económico “que dê salários e dignidade a quem trabalha, e aos pensionistas, e não a quem não faz nada”.Referindo-se a Montenegro, acrescentou que, mesmo reconhecendo que “os eleitores disseram nesta eleição que este é o primeiro-ministro que temos neste momento, e que conseguiu reforçar a sua votação”, Ventura defende que o Chega “foi premiado, ascendendo a líder da oposição”, por “escrutinar, fazer oposição e procurar mudar o país”. Papéis que espera manter na próxima legislatura, pois “o país não quer mais eleições”, mas “precisa de ordem e de um caminho que seja de combate à corrupção e de mudança real”.