Henrique Gouveia e Melo.
Henrique Gouveia e Melo.ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Gouveia e Melo alerta para ameaças a territórios marítimos e defende aliança no Atlântico

Gouveia e Melo alerta sobre ameaças marítimas e nova ordem mundial que poderá surgir em especial se os EUA concordarem que a Rússia fique com regiões significativas do leste da Ucrânia.
Publicado a
Atualizado a

O almirante na reserva e candidato presidencial, Henrique Gouveia e Melo, alertou esta sexta-feira para possíveis ameaças aos territórios marítimos de Cabo Verde e Portugal, face ao "prenúncio de uma nova ordem mundial". A intervenção ocorreu durante uma conferência na cidade da Praia.

Gouveia e Melo sublinhou que a alteração da ordem marítima internacional pode colocar em risco direitos como a zona económica exclusiva e a plataforma continental. "Se essa ordem for alterada, todas as considerações que pudermos fazer sobre a zona económica exclusiva, sobre a plataforma continental ou outras jurisdições que derivem do direito e relações internacionais podem estar em causa", afirmou, citado pela Lusa.

O candidato presidencial expressou preocupação com a possibilidade de surgirem novas lógicas que contestem o direito de países pequenos terem vastos territórios marítimos, sugerindo mesmo que estes poderiam ser divididos por número de população ou seguir outras lógicas.

Intervindo remotamente a partir de Lisboa na Leadership Summit no auditório do Parque Tecnológico da Praia, Gouveia e Melo defendeu que Portugal e Cabo Verde devem "olhar com muito cuidado" para as alianças que estabelecem.

O almirante na reserva salientou que a inteligência, o bom senso, a diplomacia e a cultura serão cruciais para enfrentar uma ordem mundial que está a ser construída com base no poder. Aludindo à invasão russa da Ucrânia, mencionou a "tentativa de uma potência violar as fronteiras de outra e, dessa forma, conseguir reescrever a geografia e a história", prosseguindo a criticar a "benevolência" da administração norte-americana que, hoje, disse, também expressa ambições territoriais em relação à Gronelândia.

Gouveia e Melo argumentou que a aceitação por parte dos Estados Unidos de "novas fronteiras no leste da Ucrânia poderá ser o prenúncio de uma nova ordem mundial baseada no poder".

Durante a sua intervenção, Gouveia e Melo propôs uma estratégia conjunta entre Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe para impulsionar a "economia azul" atlântica. "Acho que nós, portugueses, cabo-verdianos e são-tomenses, devíamos fazer um acordo muito especial (..) a que eu chamo a maraconésia que fala português", afirmou.

O militar acredita que esta união de territórios, através de uma estratégia de desenvolvimento da economia azul transacional em torno do Atlântico, com o crescimento da população africana, pode ser "uma saída muito relevante para o nosso posicionamento, seja político ou económico".

Apresentando-se como um "atlantista", alguém que opera "no centro de um hub de ligações futuras, de importância crucial para metade da população mundial", para além dos conceitos de ser europeu ou africano, Gouveia e Melo destacou que setores como a biotecnologia, pescas, transportes e serviços digitais ancorados em cabos submarinos são importantes para esta nova economia.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt