Ex-deputada Nathalie Oliveira: Escolha do PS para a Europa foi uma “decisão suicida”
Os alertas foram muitos, mas “ignorados”. E o receio é um: que o PS não consiga pela primeira vez eleger um deputado pelo Círculo da Europa. Paulo Pisco, em 2024, arrecadou 38 mil e um lugar, mas foi o Chega, com quase 43 mil votos, e com a eleição de José Dias Fernandes, quem “ganhou” as eleições — em 2022, o PS tinha conseguido o pleno: a eleição dos dois únicos deputados por este círculo.
O que mudou? Tudo. E o que se fez? “Decisão suicida!”, diz a ex-deputada Nathalie de Oliveira que critica a escolha da direção de Pedro Nuno Santos, que recaiu sobre Emília Ribeiro para número um da lista.
“Numa altura em que se identificaram correntes populistas absurdas, mas eficazes, da extrema-direita (dentro como fora), mandar na linha da frente do combate uma estreante, sem experiência, nem trabalho político confirmado, num terreno tão imenso como o continente europeu, não tem sequer sentido político como explicação racional. Decisão suicida!”, diz a também secretária-coordenadora da secção do PS em Metz, França.
Porém, não foi somente a escolha da “estreante” Emília Ribeiro. Nathalie de Oliveira critica o que chama de “campanha confidencial (…) digna dos anos 90 ou do início dos anos 2000, quando o bipartidarismo reinava”.
“Quando o Chega atinge milhares em poucos segundos, nomeadamente jovens”, a “linha da frente” socialista optou por “distribuir uma dúzia de folhetos”. Resultado? “Nulo e sem efeito.”
Esta foi a “forma”, mas o “fundo”, o manifesto, não tinha “nada”.
“Canta, que vamos continuar a ser portugueses. Obrigada. Sem substância. Sem propostas novas. Sem vontade. Sem ambição. Desgosto para quem ama e defende o PS”, lamenta a ex-deputada.
Foi pela “honra” de “ser socialista” que Nathalie de Oliveira veio de Metz para estar na Comissão Nacional do PS, de dia 24, e avisar que “em França, o PSF ainda não saiu da longa noite após ser rejeitado pela classe trabalhadora, que sempre fez as suas vitórias”.
Da eleição e maioria absoluta de François Hollande, em 2012, à irrelevância bastaram meia dúzia de anos. E, pelo meio, o terceiro lugar na Europeias de 2014, que deixou o PSF atrás de Frente Nacional.
“Sei das consequências violentas sofridas por inúmeras vidas frágeis quando o PS deixa de ser ouvido, quando mandam em nós direitas radicais, que se batizam centristas humanistas”, avisa Nathalie de Oliveira.
“Naquela altura em França, como agora em Portugal, as pessoas já gritavam há muito, angústias, medos e 'certezas' de que nunca mais chegariam a realizar os seus sonhos (entre várias gerações) neste mundo, onde as guerras rebentam em toda a parte: ter acesso à Saúde, a empregos melhor remunerados, a casa própria, à Educação e serem felizes, sem serem enterrados vivos pelos juros!”, lembra.
E agora? “O PS desfazou-se dos movimentos da realidade e da sociedade.”
Avisando que “as comunidades de Portugal (…), emigrantes ou filhas e filhos, netas e netos destes (…) colocam desafios fora de formato à democracia portuguesa”. Nathalie de Oliveira insiste na urgência de “repensar e pensar novas políticas públicas inovadoras que respondam às exigências do nosso tempo”.
“As urnas têm sempre razão” e a ”sentença” é esta quarta-feira conhecida.
O que não disse na reunião socialista, que é resumo da longa intervenção, foi esta frase que partilhou nas redes sociais:"De facto, tenho experiência de inúmeras campanhas eleitorais desde há 20 anos. Esta última foi deveras um suicidio coletivo até para quem nunca pediu para morrer".