Paulo Raimundo estabeleceu como meta eleitoral mínima seis mandatos, isto é, um regresso ao resultado das legislativas de 2022. O líder comunista, na derradeira semana da campanha para as legislativas de 2025, assumiu que este resultado implicaria mais 100 mil votos para eleger dois deputados, mas acabou com três mandatos - menos um face a 2024 - e menos cerca de 21 mil votos.É com a ideia de que é “prematuro” estar a falar de uma transferência de votos do PCP para outros partidos que o investigador em Ciência Política na Universidade da Beira Interior Bruno Ferreira Costa começa por analisar o resultado dos comunistas nas mais recentes legislativas. Para o politólogo, a quebra eleitoral do PCP deve-se a outros fatores, como “uma saída para a abstenção” ou então uma consequência “do ponto de vista etário”, isto é, eleitores mais velhos que não estão a ser substituídos quando morrem ou quando deixam de votar.Ainda assim, Bruno Ferreira Costa não descarta a possibilidade haver alguma transferência de votos , “nomeadamente ao nível do voto útil para o PS. Não se terá verificado nestas eleições, mas verificou-se eventualmente em 2024. Em 2022 verificou-se, de modo claro”, com a maioria absoluta conseguida por António Costa, explica.Para além disto, o resultado deve-se “a alguma desertificação ou despovoamento, que pode ter conduzido algum eleitorado do PCP em determinadas zonas a estar agora noutras zonas, onde não é tão relevante estatisticamente”. Para o professor, também é por isto que se constrói a perceção de que o Chega arrecadou votos vindos do PCP, que “não é confirmada empiricamente”, sendo no partido de André Ventura a “a transferência mais relevante à direita”.Também a professora de Ciência Política no ISCTE Filipa Raimundo considera que “quaisquer afirmações sobre transferências de voto são meras especulações”, alertando para a tentação de “ olhar para as perdas de um partido e os ganhos de outro nos mesmos círculos, e tirar daí ilações diretas” é um risco, “porque há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo”. “Há muito tempo que o PCP vem tendo um ligeiro declínio e isso significa que o PCP tinha um eleitorado muito fixo e um eleitorado envelhecido”, acrescenta.Em 2015, o PCP conseguiu 17 mandatos e quase 446 mil votos..Como correram as eleições, círculo a círculo, a todos os partidos."Utopia" do Livre não roubou votos à esquerda