O antigo presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso defendeu esta segunda-feira, durante o Seminário Diplomático, que decorre até esta terça-feira em Lisboa e termina quarta-feira, no Porto, que “os grandes poderes conseguem fazer a guerra, mas impor a paz é muito mais difícil”, numa referência à promessa que o presidente eleito dos Estados Unidos da América Donald Trump fez ao afirmar que, se ganhasse de novo o cargo, acabaria com a guerra na Ucrânia em 24 horas.“Se os grandes poderes conseguissem, com essa facilidade, impor a paz, porque é que não fizeram isso em relação ao Médio Oriente”, questionou o também o antigo primeiro-ministro português, relembrando, com ênfase que “há tantas décadas que há tantas iniciativas para a paz entre israelitas e palestinianos”.“Será que estamos melhor que hoje do que estávamos há 10, 12 ou 30 anos atrás?”Antes desta pergunta retórica, o antigo governante defendeu que “há, de facto, uma húbris [arrogância] nos grandes poderes que é pensar que conseguem fazer a paz, mas não é verdade”.Durão Barroso, no início da sua intervenção avisara que estava a falar na qualidade de “europeísta convicto”, mas, não tendo qualquer função, “nem na Europa, nem em Portugal”, as suas perspetivas só o vinculariam a si próprio. No entanto, angariando algumas gargalhadas na audiência, maioritariamente composta por diplomatas, garantiu que, desde que abandonou “as relações políticas”, a sua “sinceridade tem vindo a aumentar dia para dia”.Com base nesta premissa, Durão Barroso insistiu que “é uma visão errada a de pensar que a paz depende apenas da vontade das grandes populações”.Lembrando que foi o seu executivo, quando presidia à Comissão Europeia, que que negociou “com o Ucrânia durante 5 anos, sem qualquer objeção da Rússia, sem qualquer objeção do Presidente Putin”, Durão Barroso destacou que podia falar “longamente sobre as causas deste conflito”, mas avisou, com “muita pena”, que não acredita que “haja uma verdadeira reconciliação entre a Rússia de Putin e a Ucrânia democrática que nós temos neste momento”.Momentos antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, numa intervenção em que, para além de citar Agustina Bessa-Luís, o sociólogo Niklas Luhmann e o filósofo José Ortega y Gasset, agradeceu várias vezes a Durão Barroso por ter aceitado substituir a atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se encontra com uma pneumonia, sustentou que “a história oferece uma visão de medo e de horror, mas ela é, sobretudo, agitada por esta tempestade funesta e silenciosa da incerteza do dia da manhã”. Numa referência ao Seminário Diplomático, sugeriu que os participantes têm “dois dias e meio para esperar, meditar e vigiar, organizando ideias sobre essas probabilidades de futuro que tanto podem determinar o presente”.