"Desejo que fiques à frente da AD". O "Rui" e o "Pedro Nuno" só discordam no "voto útil"
Antes do debate sorrisos, papéis à frente – Rui Tavares, que passaria a “Rui”, até levou mais –, mas pouco foram utilizados. Pedro Nuno Santos, que mais tarde seria só “Pedro Nuno", esvaziou as criticas socialistas ao Ministério Público [Medina falou, por exemplo de “falta de escrúpulos”] dizendo que ao falar de “coincidência”, na conferência de imprensa, se referia às “denúncias anónimas” e que a critica “não era dirigida ao Ministério Público que faz o seu trabalho”.
“As denúncias anónimas toda a gente percebe [na conferência de imprensa eram “todos os portugueses”] têm objetivos políticos: intimidar-me e passar a ideia de equivalência”, explicou. E depois o ataque repetido: “Eu não sou igual a Luís Montenegro (…) Eu não estou a receber dinheiro de nenhum empresário português, não fiz a reestruturação de uma empresa que tem resultado líquido de 12 mil euros por 200 mil euros”.
Rui Tavares seguiu a mesma linha de argumentação dizendo, para além de que “Montenegro é uma má notícia para o país”, que usa um “critério com todos os casos e todos os políticos: não me meter no Ministério Público”.
A provocação que Pedro Nuno Santos ignorou? “Estou aqui para falar de quem tem uma casa e não de quem tem sorte de ter duas casas", disse Rui Tavares. Mais tarde haveria de acrescentar que “há pessoas que têm ajuda dos pais para iniciar a sua vida adulta, mas a maioria dos portugueses não tem”.
Sobre a questão do que fazer na corrupção e na criminalização do enriquecimento ilícito ou injustificado, o líder socialista pouco disse referindo somente que “há muito trabalho para fazer”, que é preciso “garantir a prevenção” e “perceber onde há atrasos que permitam uma justiça mais célere”.
Rui Tavares traduziu as suas ideias por “coisas simples” dando, nomeadamente , o exemplo das audições prévias do governantes que o Livre propôs, mas que “o PS nunca quis”. E sustentou a tese com “as duas últimas comissárias europeias portuguesas foram sujeitas a audição prévia”.
Pedro Nuno Santos arrumou o tema com a argumentação de que o Livre “tem contributos importantes a dar” e que o “PS está disponível para ouvir”. A resposta curta trazia a frase de os levaria, mais tarde, à discussão do “voto útil”.
O Livre “tem mais possibilidade de influenciar um Governo liderado pelo PS do que pela AD (...) é mesmo importante que o PS ganhe as eleições, para que algumas propostas e contributos importantes do Livre avancem”.
“Já começa”, replicou Rui Tavares sorrindo.
Perante a insistência – “O PS tem alguma proposta para a corrupção e na criminalização do enriquecimento ilícito?” -, o líder socialista elencou “duas iniciativas que achámos que iam trazer mais transparência à vida política: a regulação do lóbi e regulação da pegada legislativa”.
Rui Tavares pegou na questão da “Herança Social” que o PS propôs em 2009 – e que valia “200 ou 300 euros” -, mas “nada fez” desde então.
Pedro Nuno Santos voltou a defender que “ponto de vista de princípios não nos distanciamos”, a diferença está, alega, numa “proposta generosa [os cinco mil euros que o Livre defende], mas irrealista”.
“400 milhões de euros por ano é muito dinheiro”, mas admitiu que talvez “possamos aproximarmo-nos de outros valores”. Justificação? Ser governo significa “ter de apresentar um Orçamento e isso implica que tenhamos ser responsáveis”.
Palavra dita e surge, mais uma vez, o apelo ao “voto útil” para evitar a “dispersão de votos” e as contas, que ambos fazem, sobre matemática eleitoral.
“Os votos no Livre”, nalguns círculos, “dificilmente darão um deputado” ao partido de Rui Tavares e “no PS teriam permitido derrotar a AD”. E assim, conclui, “mais facilmente Rui Tavares e o Livre poderiam influenciar a governação”, argumenta Pedro Nuno santos.
“Até digo uma coisa Pedro Nuno. Até desejo que fiques à frente da AD, que tenhas mais um voto. Não precisas de roubar 50 mil do Livre, só tens de ir buscar 25 mil à AD, que foi o que te faltou da outra vez”, sugere Rui Tavares.
“Não estou a dizer para não votarem no Livre, mas que há vários círculos eleitorais (Braga, Aveiro, Santarém) onde a diferença de votos, no BE e no Livre, permitiriam ao PS ter deputados para derrotar a AD”, responde Pedro Nuno Santos.
Outra explicação? “Se o PS chumbar um Governo da AD [sugere uma nova geringonça] e apresentar depois solução esse Governo seria barrado pela AD e pelo Chega, por isso é tão importante a dispersão de votos”, diz Pedro Nuno Santos.
Rui Tavares, sorrindo, deixou outro desejo, que as pessoas que viram este frente-a-frente possam que dizer “eu vi naquele debate o melhor Governo para o país”.