Leonardo Negrão
Leonardo Negrão

Crise “histórica” no PS. AD mesmo com liberais “depende” de Ventura

PS vai para eleições internas após desaire eleitoral e corre o risco de passar a terceira força política pela primeira vez desde 1976. AD e IL não conseguem maioria. Montenegro pede “maturidade”.
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A “reflexão” e, nalguns casos, “reflexão profunda”, expressões repetidas por dirigentes socialistas após as projeções às oito da noite, ganhou o peso de “demissão” pouco antes das 23h00, mas “num ambiente de reserva”. A certeza era “inevitável” e não foram sequer precisas três horas para “refletir”. Pedro Nuno Santos iria “sair” abrindo caminho a eleições internas e Congresso Extraordinário ficando assim, desde já, afastado do processo das eleições autárquicas e de “negociações” com a AD para o próximo Orçamento do Estado.

A revelação, pelo próprio, de que não seria “um estorvo”, foi feita depois da meia-noite, mas argumentando com o que tinha sido a estratégia assumida durante a campanha eleitoral. E sair quando? “Se puder ser, já.” O líder agora demissionário afastou-se, mas não evitou deixar um conselho para o próximo: “Não cabe ao PS” ser “suporte” do Governo de Montenegro.

Duarte Cordeiro, ex-ministro, já tinha considerado “evidente” a saída de Pedro Nuno Santos. Mas antes disso, também Sérgio Sousa Pinto tinha traçado esse caminho. O “desastre de proporções históricas”, só podia ter uma solução: “Ou o PS acaba com esta direção ou esta direção acaba com o partido.”

As “proporções históricas” estão registadas nas legislativas de 1985 [Almeida Santos só conseguiu a eleição de 57 deputados] e nas de 1987 com Vítor Constâncio - que apenas conseguiu mais três: elegeu 60.

Ora, os 58 agora eleitos, sob a direção de Pedro Nuno Santos, quanto muito podem ser 59 ou 60 após a contagem dos votos dos círculos da Europa e Fora de Europa. Em 2024, o PS só elegeu um deputado nesses círculos: Paulo Pisco, que desta vez foi afastado das listas.

Este cenário abre uma “reviravolta” na história do PS que pode ser terceiro, pela primeira vez desde 1976, e sendo ultrapassado pelo Chega.

A meio da noite ainda havia a esperança de chegar “pelo menos” aos 74 eleitos de 2011, num PS dirigido por José Sócrates. “Puro engano”, referiu ao DN um dirigente socialista que, tal como Sérgio Sousa Pinto, também recorre à “história” do partido. Porém, mais recente.

“Nas [eleições] internas, todas as sondagens indicaram, e foram mesmo todas, que os portugueses percebem mais do PS que o próprio PS. Quando era questionado quem iria ganhar a liderança, respondiam Pedro Nuno Santos. Quando era questionado quem era melhor candidato a primeiro-ministro, respondiam: José Luís Carneiro”, recorda.

Se a noite foi de “desastre” para os socialistas, a vitória da AD, - que ainda pode crescer com mais um ou dois deputados pelos círculos da Europa e Fora da Europa - mesmo com uma aliança com a IL, não passará dos 100 deputados. E as esquerdas, todas juntas, chegam aos 70 ou, no máximo, 71 assentos. O Chega - com 58 eleitos, mas podendo chegar aos 60 ou 61 - mantém, reforçando, um poder que Ventura definiu numa frase: “O Governo de Portugal depende do Chega e só do Chega.”

“Todos devem ser capazes de dialogar e colocar o interesse nacional acima de qualquer outro interesse”, desafiou Montenegro, que sublinhou, insistindo, a ideia de que “os portugueses não querem eleições antecipadas”.

Cenário actual

AD reforça votação e número de deputados, Chega pode ultrapassar PS que caiu - falta a contagem dos votos da Europa e Fora da Europa -, IL passa a nove deputados, Livre cresce para os seis, PCP volta a cair e elege três, BE fica reduzido a Mariana Mortágua, PAN resiste e JPP elege pela primeira vez.

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