O que se passou na noite do passado domingo, com o PS a perder mais de 365 mil votos no espaço de um ano, é “muito claro”: trata-se de “um resultado desastroso”. Segundo diz fonte socialistas ao DN, “é ainda mais grave quando se espera que, na melhor das hipóteses, o PS possa ficar em terceiro lugar, com menos dois deputados que o Chega depois dos votos da emigração”.Com isto, diz a mesma fonte, “a liderança foi, naturalmente, posta em causa e Pedro Nuno Santos teve uma atitude muito digna ao abrir a porta de saída” - que será imediata, já este sábado após a reunião da Comissão Nacional do PS. Até porque “é preciso fazer uma reconciliação” com o eleitorado do PS e isso consegue-se “com uma nova liderança”. Independentemente de quem vier (José Luís Carneiro, que já foi candidato, será um dos nomes na calha para a sucessão) terá de ter “outra cultura política”. Isto é: “Deixar de pensar em trincheiras, em que cada um dispara” para passar, e, em vez disso, “pensar-se mais em garantir a estabilidade do país”, pondo diferenças de lado e focando-se em “levar legislaturas até ao fim”.No fundo, resume a mesma fonte, “é preciso estabilidade e que se olhe para outros contextos na Europa”, como a Alemanha, onde os democratas-cristãos da CDU governam em grande coligação com os socialistas do SPD.Ouvido pelo DN, Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde entre 2015 e 2018 (no primeiro Governo de António Costa), fala numa “hecatombe eleitoral” para os socialistas. Agora, há “um risco” que o PS corre, considera o ex-governante: o de “não perceber” o que aconteceu na noite eleitoral.Por isso, antes de apontar para um novo nome na liderança dos socialistas, Adalberto Campos Fernandes diz que a prioridade deve ser “analisar” o que falhou. “Foi a estratégia? Qual era e porque falhou? É preciso perceber isso primeiro”, reflete o militante socialista. Além disso, analisa, “o PS entrou muito bem no eleitorado do BE e com isso terá desprotegido o seu eleitorado clássico”.Aquando das internas de 2023 (que Pedro Nuno Santos ganhou com 62% dos votos), Adalberto Campos Fernandes apoiou José Luís Carneiro. Agora, se o ex-ministro da Administração Interna escolher avançar “será um bom nome”, uma vez que “tem um perfil mais próximo” da matriz original do PS.Menos de 24 horas após a desilusão do PS, Miguel Prata Roque, ex-secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, disse que os resultados mostram algo que “muitos têm vindo a alertar”: o PS foi “deixando de ser um partido capaz de desenhar e construir o futuro, para passar a ser um instrumento de resistência e de defesa do passado”.Numa nota divulgada pelo candidato derrotado à liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, Prata Roque refere que para “reconquistar” os elogios, “não pode haver meias palavras”. E argumenta ainda: “O PS ou abre janelas ou sufoca, ou se rejuvenesce ou definha, ou se modera ou acantona.”Mostrando-se convicto de que “continua a haver um espaço para um centro-esquerda inovador”, Miguel Prata Roque defende que as eleições para a liderança dos socialistas só devem acontecer “em final de outubro de 2025”, para permitir “a discussão democrática e plural de ideias e garantir a abertura a novas candidaturas”. Com isto, o Congresso do PS só devia ser “marcado para o início de novembro de 2025”, para que o sucessor de Pedro Nuno Santos possa “tomar decisões sobre a votação do Orçamento do Estado para 2026”.E até lá? Carlos César, presidente do PS, assumirá funções interinamente até ao congresso dos socialistas, que se deverá realizar no final de junho/início de julho..“Obrigado e até breve”. Derrota leva Pedro Nuno Santos a sair de cena.Crise “histórica” no PS. AD mesmo com liberais “depende” de Ventura