GONÇALO VILLAVERDE/GLOBAL IMAGENS
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Única certeza na luta entre PS e PSD é que muitas terras grandes vão mudar de mãos

Impossibilidade legal de recandidatura de presidentes de câmaras importantes acentua incerteza. Sociais-democratas querem voltar a dominar poder local, mas socialistas têm alvos para conquistar.
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Carlos Moedas é o único de entre os atuais responsáveis pelos cinco concelhos mais populosos de Portugal que pode ser reeleito nas Eleições Autárquicas de 2025, disputadas em data ainda a definir, no final de setembro ou início de outubro. Terá de lutar por isso, pois o PS tem no topo das prioridades recuperar a Câmara de Lisboa, mas distingue-se do independente Rui Moreira (Porto), do também social-democrata Carlos Carreiras (Cascais), e dos socialistas Eduardo Vítor Rodrigues (Vila Nova de Gaia) e Basílio Horta (Sintra), que estão a terminar o terceiro mandato e não podem ir a votos.

A regra da limitação de mandatos deve voltar a condicionar as alterações no mapa autárquico, ainda que as estruturas nacionais, distritais e concelhias partidárias tentem reduzir esse impacto. Muitos presidentes de câmara reeleitos em 2021 para um terceiro mandato cederam o lugar aos respetivos vice-presidentes, e é provável que mais alguns o façam nos próximos meses.

Apesar de ter muitos autarcas nessas condições, incluindo os presidentes da Câmara de Braga (Ricardo Rio), de Aveiro (Ribau Esteves) e de Faro (Rogério Bacalhau), além de já ter substituído Ricardo Gonçalves por João Teixeira Leite em Santarém, o PSD tem a ambição de reconquistar as presidências da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e Associação Nacional de Freguesias (Anafre). Um objetivo de difícil concretização, pois o PS parte com enorme vantagem, tendo 149 câmaras, contra 114 do PSD, das quais cerca de quatro dezenas em coligação com o CDS-PP e outros partidos. Atrás vêm os independentes (19), CDU (19), CDS-PP (6) e Juntos pelo Povo, no município madeirense de Santa Cruz.

Para cumprir as ambições que constam da moção com que Luís Montenegro foi reeleito pelos sociais-democratas será preciso defender autarquias importantes. E não apenas onde há mudança de protagonistas, pois algumas das grandes conquistas do centro-direita nas Autárquicas de 2021 estarão em jogo. A começar por Lisboa, onde existe a dúvida de saber se Carlos Moedas alargará a coligação Novos Tempos à Iniciativa Liberal, na medida em que pode enfrentar uma candidatura socialista - as ex-ministras Mariana Vieira da Silva e Alexandra Leitão estão a ser consideradas - reforçada pela convergência à esquerda, da qual até agora só o PCP se escusou.

E ainda existem os casos de Coimbra, pois o independente apoiado pelo centro-direita José Manuel Silva arrisca-se a medir forças como a ex-ministra e deputada socialista Ana Abrunhosa, e do Funchal, onde o PSD perdeu Pedro Calado devido aos problemas judiciais que levaram a que estivesse detido em Lisboa, sendo trocado por Cristina Pedra. O líder do PS-Madeira, Paulo Cafôfo, já disse que Miguel Silva Gouveia, que lhe sucedeu na autarquia, mas foi derrotado por Calado em 2021, numa coligação PSD-CDS, poderá voltar a colocar a maior cidade da região autónoma a ser gerida pela esquerda.

Mas não faltam oportunidades de conquista para os sociais-democratas, sobretudo quando coligados. A saída de Rui Moreira abre a hipótese de recuperar o Porto, mesmo que o movimento que a governa vá a votos, contando o PSD com apoio dos centristas e talvez dos liberais - depois de ambos terem estado com o atual presidente da Câmara -, numa lista provavelmente liderada pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.

Mais difícil será encontrar uma aposta de sucesso em Gaia, de onde sai o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, com o deputado João Paulo Correia pronto a suceder-lhe. Mas não em Sintra, pois a saída de Basílio Horta, principal autarca do PS, mesmo sem ser filiado e tendo fundado o CDS, dá oportunidades de vitória ao social-democrata Marco Almeida, que já foi vice-presidente da autarquia e espera vencer à terceira tentativa, tendo ficado mais próximo em 2013, como independente, do que em 2017.

Também à terceira tentativa, mas do lado do PS, Manuel Pizarro, mais um ministro de António Costa que será trunfo autárquico de Pedro Nuno Santos, aceitou o desafio de vencer a Câmara do Porto, que escapa ao partido desde 2002, quando Nuno Cardoso (que terminou o mandato de Fernando Gomes) foi substituído pelo social-democrata Rui Rio.

É uma hipótese de conquista de capital de distrito mais provável do que noutras terras a norte, como Braga, Viseu ou Bragança, mas Aveiro também pode vir a sê-lo, caso se confirme a candidatura do antigo edil Alberto Souto de Miranda, beneficiando da saída do social-democrata Ribau Esteves por limitação de mandatos.

Mais a sul, os socialistas devem “deslocar” autarcas de concelhos vizinhos de Santarém (Pedro Ribeiro, atual presidente da Câmara de Almeirim) e de Faro (António Miguel Pina, presidente da Câmara de Olhão).

Mas nem só de conquistas à direita vive a estratégia autárquica do PS, que vê parte das 19 câmaras municipais que restam à CDU como alvos apetecíveis. Depois da Amadora, Loures, Almada e Barreiro, os socialistas estão de olhos postos em Setúbal, com o deputado Fernando José, atual vereador, a repetir a candidatura de 2021.

Só que desta vez com a expectativa de divisão do eleitorado entre a coligação de esquerda, que deve recandidatar o presidente em exercício, André Martins, e a sua antecessora, Maria das Dores Meira, que deixou a militância comunista e lidera um movimento independente com hipóteses de ser o único a vencer uma capital de distrito no próximo ano - em 2021, além de Moreira, no Porto, o dissidente social-democrata Sérgio Costa triunfou na Guarda, algo que dificilmente repetirá.

Mas as hipóteses de avanços do PS na Península de Setúbal não ficam por aí - apesar de o Montijo, onde deve haver uma candidatura dissidente, poder tornar-se a primeira autarquia da região governada pela direita depois do 25 de Abril -, caso se confirme a tendência de erosão do eleitorado comunista. E se nas Autárquicas de 2021 a grande surpresa foi a Moita, para o próximo ano é possível que o Seixal seja o próximo bastião que a CDU verá cair. Apesar de Joaquim Santos, que não se podia recandidatar, ter cedido o lugar a Paulo Silva, com a maioria no Executivo garantida por um vereador que foi eleito pelo Chega.

Também no Alentejo, e igualmente presidida por um autarca comunista a terminar o terceiro mandato, a Câmara de Évora está entre as fortes apostas do PS. A saída de Carlos Pinto de Sá, que desde 2021 tem consigo apenas um vereador da CDU, contra cinco de outros partidos e movimentos, é vista como a ocasião ideal para os socialistas voltarem a governar a cidade alentejana. Contam com o antigo eurodeputado Carlos Zorrinho, várias vezes eleito para a Assembleia da República por esse círculo, e muito ligado à Universidade de Évora.

Dificuldades para CDU e CDS

As palavras de ordem da CDU, que tem 12 dos seus 19 presidentes de Câmara impedidos de se recandidatarem, são “confirmar, reforçar e ampliar posições em todo o território nacional”. Mas a tendência para a mudança de autarcas resultar em troca de força política, o que se verifica em cerca de 40% das vezes, dificilmente pode sossegar os comunistas.

Defender bastiões como Setúbal, Seixal e Évora deve ser a prioridade, sendo mais difícil festejar conquistas eleitorais. Mesmo em Loures, autarquia perdida para os socialistas em 2021, a recandidatura do atual presidente Ricardo Leão, que se demitiu da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS - após críticas internas ao seu apelo a despejos de titulares de contratos de habitação social envolvidos em desacatos e destruição de bens -, afigura-se improvável. Entre as perdas recentes, uma “contraofensiva” só parece ser viável se Pinto de Sá traduzir a disponibilidade para continuar politicamente ativo com mais uma candidatura à Câmara de Montemor-o-Novo, que presidiu antes de vencer em Évora.

Quanto ao CDS-PP, que neste momento é a quarta força autárquica, sobretudo graças a dezenas de coligações com o PSD, a missão de manter as seis câmaras municipais que ganhou sozinho dificulta-se pela impossibilidade de recandidatar três presidentes. Assim sucede em Albergaria-a- -Velha, Vale de Cambra e no concelho açoriano de Velas, cabendo aos centristas encontrar soluções para manterem esses municípios e os outros que lhes restam: Ponte de Lima, Oliveira do Bairro e Santana, na Madeira, onde também o Juntos pelo Povo, que governa a Câmara de Santa Cruz, terá de encontrar outro candidato.

Sendo certo que continuará a haver autarquias geridas por movimentos independentes, com Isaltino Morais (Oeiras) possivelmente acompanhado por outros “dinossauros autárquicos”, como Raul Castro (Batalha) e Rondão Almeida (Elvas), outra grande incógnita das Autárquicas de 2025 reside na capacidade de alguns partidos traduzirem no poder local as votações que têm obtido a nível nacional.

Sobretudo o Chega, que nas últimas Autárquicas elegeu 19 vereadores, dos quais vários deixaram o partido. Desta vez, a estratégia de André Ventura deve ser aproveitar a notoriedade de alguns deputados. Será o caso de Bruno Nunes, que se recandidata em Loures, onde é vereador, admitindo-se que Pedro Frazão avance em Sintra e Pedro Pessanha em Cascais. Mas o maior desafio, além da candidatura à Câmara de Lisboa, será vencer algumas autarquias nos distritos de maior implantação eleitoral, no Ribatejo, Alentejo e Algarve.

Para o Bloco de Esquerda, que chegou a governar Salvaterra de Magos, e para a Iniciativa Liberal, tal como o Livre e o PAN, a eleição de vereadores deverá ocorrer no âmbito de coligações.

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