Zelensky pede a Portugal armamento pesado e reforço de sanções à Rússia
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu esta quinta-feira armamento pesado e o reforço das sanções à Rússia, num discurso por videoconferência perante o parlamento português.
"Peço aceleração e reforço das sanções e também apoio militar, armamento", afirmou o chefe de Estado ucraniano, que pediu especificamente "armamento pesado", numa sessão solene de boas-vindas com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.
De acordo com a tradução simultânea de ucraniano para português transmitida na Sala das Sessões, Volodymyr Zelensky acusou a Federação Russa de crimes de guerra, afirmando que as forças russas já capturaram e deportaram "mais de 500 mil ucranianos" e observando: "É o tamanho da população da cidade do Porto duas vezes".
"Imaginem se Portugal todo abandonasse o país", acrescentou o Presidente da Ucrânia, referindo-se aos refugiados causados por esta ofensiva militar.
O Presidente da Ucrânia pediu ainda insistentemente que Portugal apoie o processo para o seu país aderir à União Europeia e que use a sua influência nos países de língua portuguesa para estes estarem do lado dos ucranianos.
"A Ucrânia já está a caminho da União Europeia (...) Quando essa questão for colocada, peço-vos, peço-vos mais uma vez, que nos apoiem nesse caminho", insistiu Volodymyr Zelensky, que falava numa intervenção por videoconferência no parlamento português.
"Estamos o mais a leste e vocês o mais a oeste, mas ambos sabemos que os valores que defendemos são iguais", frisou o Presidente da Ucrânia, numa sessão solene com altas entidades do Estado e representantes da comunidade ucraniana nas galerias.
Para defender "a independência, a segurança, a democracia" a Ucrânia conta com o apoio de Portugal, disse Zelensky, que referiu ainda esperar que as autoridades portuguesas possam transmitir essa mensagem a outros povos, referindo especificamente os países africanos de língua portuguesa.
"Lutem pela divulgação da mensagem junto desses países para nos apoiarem", afirmou o Presidente da Ucrânia.
Já o presidente da Assembleia da República sustentou que a presença do chefe de Estado e do primeiro-ministro de Portugal na sessão solene com o Presidente da Ucrânia mostra bem a unidade nacional contra a agressão russa.
Esta referência à presença de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa no parlamento, na sessão solene de boas vindas ao Presidente Volodymyr Zelensky, em que participou por vídeo conferência, foi feita a meio do discurso de Augusto Santos Silva, durante o qual também elogiou a comunidade ucraniana que residente em Portugal.
"É uma honra para o parlamento português recebê-lo solenemente e ouvir as suas palavras. A participação do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal nesta sessão solene mostra bem a unidade nacional em torno do apoio à Ucrânia, um apoio que junta os órgãos de soberania e que é partilhado por partidos políticos do Governo e da oposição", sustentou, numa sessão em que os seis deputados do PCP decidiram não estar presentes.
Augusto Santos Silva fez uma referência à comunidade ucraniana que vive em Portugal e advogou que na resposta portuguesa "à agressão russa contra a Ucrânia pesou certamente o relacionamento estreito que existe entre os dois países".
"O laço mais forte é constituído pelas pessoas: Pela comunidade ucraniana estabelecida em Portugal, na ordem das dezenas de milhares de pessoas, bem integradas, que em muito contribuem para a nossa economia e em cujos filhos se encontram alguns dos melhores alunos das escolas portuguesas; e pelas famílias luso-ucranianas que, entretanto, se foram formando, e residem quer num quer noutro país", apontou.
Neste ponto, o presidente da Assembleia da República defendeu, contudo, que o "bom relacionamento bilateral, povo a povo e Estado a Estado", apenas explica parcialmente "a prontidão e a clareza da reação portuguesa à agressão de que a Ucrânia é vítima".
"Portugal é um país médio à escala europeia, pequeno à escala mundial; não é uma potência demográfica, económica ou militar; mas é uma nação com história, com um posicionamento geopolítico há muito consolidado e com uma política externa que não varia com o Governo do momento, porque exprime interesses nacionais duradouros", acentuou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Para Augusto Santos Silva, a chave da política externa portuguesa "é o respeito pelo direito internacional, a vinculação à Carta das Nações Unidas, a valorização da paz e da segurança e o amor à liberdade".
"E é por isso que estamos, sem hesitações nem ambiguidades, pela Ucrânia, em cujo território se trava hoje a luta pela liberdade, a independência e a paz na Europa", acrescentou.