Marcelo pede "sementes para o futuro" e não apenas "revivalismo do passado"

Música, poesia e uma "cápsula do tempo". Começaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, nas vésperas do dia em que o tempo do regime democrático ultrapassará o tempo da ditadura.
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O Presidente da República defendeu esta tarde, no início das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que as celebrações que agora se iniciam devem procurar resposta para as "frustrações, desilusões, fragilidades e insuficiências" que o regime democrático não resolveu. "Sementes do futuro e não apenas revivalismo do passado", nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que deixou um verdadeiro caderno de encargos sobre o que esta celebração não deve ser.

Perante uma plateia de cerca de duas centenas de convidados, num Pátio da Galé iluminado com o verde e vermelho da bandeira portuguesa e uma chaimite como pano de fundo, o Presidente da República defendeu que a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril não deve servir para "afunilar, empobrecer ou excluir", mas para alargar e enriquecer; não deve servir para perder de vista o futuro; nem para "discussões de vaidades, protagonismos, que não dizem nada aos portugueses" - "Que seja o futuro o nosso desafio fundamental, por aí passa o sucesso ou o fracasso da comemoração, ser uma oportunidade ganha ou perdida".

Marcelo Rebelo de Sousa discursava já depois do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro. Mas se a cerimónia juntou as três principais figuras do Estado, na plateia não esteve nem o ex-presidente da República Ramalho Eanes (que chegou a liderar a Comissão Nacional das comemorações, mas acabou por se afastar), nem Cavaco Silva. Já a generalidade dos líderes partidários e dos (ainda) membros do atual Governo estiveram presentes nas celebrações.

Além de Marcelo, também António Costa destacou que a democracia não é uma obra acabada e está sujeita a perigos. "A liberdade e a democracia são sempre obras inacabadas" e hoje, quando a democracia portuguesa está prestes a ultrapassar o tempo da ditadura, é "necessário agir contra o populismo, as desigualdades, a corrupção, o medo e o ódio", referiu o líder do Executivo.

Deixando as primeiras palavras aos capitães de Abril, "heróis da revolução, que serão sempre, sempre merecedores da nossa gratidão", o primeiro-ministro sublinhou que estes militares eram "então jovens que abriram uma nova era" e que continuam "a ser uma fonte de inspiração". Mas as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, defendeu o líder do executivo, devem ser sobretudo uma "passagem de testemunho para as novas gerações".

Citando um poema de Jorge de Sena, que escreveu que as cores da liberdade são o verde e o vermelho, Costa acrescentou-lhe todas as que a imaginação permitir e destacou duas em particular - o amarelo e o azul, as cores da bandeira da Ucrânia, uma referência recebida com aplausos.

Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República (já em "tempo de descontos"), lembrou que os "jovens de 1974 são os avós de 2022" e foi aos jovens de hoje que dirigiu parte do seu discurso, recusando que "sejam politicamente menos participativos que as gerações anteriores". Para Ferro Rodrigues essa participação é mais cívica, menos institucional, mas isso significa que a voz dos mais jovens "nem sempre é suficientemente audível no espaço público", pelo que apelou às novas gerações para que assumam também "uma participação mais convencional", através do sistema partidário.

Já após os discursos das três principais figuras do Estado, foi fechada uma "cápsula do tempo" que só será reaberta daqui a 50 anos, no centenário do 25 de Abril. Uma caixa de cortiça desenhada por jovens designers nacionais, e que contém, entre outros objetos, três cartas dos jovens que venceram o Prémio Nacional de Leitura do ano passado, dirigida aos jovens de 2074, a partitura original do hino composto pelo compositor Bruno Pernadas para estas celebrações, bem como o poema original da jovem poetisa Luísa Neto de Sousa.

Na sessão solene desta tarde Marcelo Rebelo de Sousa condecorou 30 militares que participaram na revolução dos Cravos.

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