TAP. Parecer que afinal não existe gera mal-estar no governo e no PS
Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, tinha dito que havia parecer e o mesmo tinha feito Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares. Falavam de um parecer que sustentaria juridicamente a decisão governamental de exonerar, por justa causa, a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, e o chairman da empresa, Manuel Beja. E falavam no sentido de justificar que não era do interesse do Estado enviar esse documento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP.
E eis que, surpresa das surpresas, na quinta-feira, um terceiro ministro, Fernando Medina, das Finanças, anuncia que afinal "não há nenhum parecer, a ideia que se criou de que haveria um parecer... não há nenhum parecer adicional àquilo que é a base da justificação da demissão, que é mais do que suficiente para quem a leu, relativamente ao parecer da Inspeção Geral de Finanças". A "base da justificação" é a deliberação conjunta da Parpública (empresa pública que gere as participações do Estado) e da Direção-Geral do Tesouro e Finanças que demitiu Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja.
A forma como Medina desdisse Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva deixou ambas evidentemente mal dispostas e criou perplexidade na bancada do PS. Bruno Aragão, coordenador dos deputados socialistas na CPI, desabafou na TSF: "Quem tem de esclarecer este caso em concreto é o governo. O grupo parlamentar e a comissão de inquérito não gerem o governo."
Ouvido em Braga, o Presidente da República, considerou que seria "uma má notícia" a necessidade de uma dissolução da Assembleia da República (ou seja, convocação de eleições antecipadas). "Se tiver de haver, que seja o mais tarde possível", referiu, falando da necessidade de estabilidade para não se pôr em causa a execução dos fundos do PRR. Enfim, repetiu, seria uma "má notícia" - só que "às vezes, têm de haver más notícias".
Mais este episódio colocou de novo o primeiro-ministro debaixo de fogo.
Embora não se comprometendo com uma moção de censura - que o Chega já anunciou que apresentará em setembro - Luís Montenegro acusou António Costa de "cobardia política" e de "perder autoridade" ao não comentar mais este caso. "Ou está envergonhado com o que se está a passar - e se é esse o caso é melhor assumir do que protelar essa situação por muito mais tempo - ou então está comprometido e tem de assumir as suas responsabilidades, não pode fazer de conta que não está a acontecer nada ao seu lado no seu Governo."
Também Chega, IL, BE, PCP, PAN e Livre criticaram as contradições do Governo.
Ventura voltou a desafiar o primeiro-ministro a dar explicações ao país sobre este caso, considerando que, se mantiver a confiança nos ministros das Finanças, Assuntos Parlamentares e Presidência, "está a dar respaldo à mentira, à insensatez e ao amadorismo".
O líder da IL, Rui Rocha, disse que "há um completo descontrolo naquilo que é o governo da República portuguesa neste momento".
Para Mariana Mortágua, do BE, este é "mais um momento de guerra interna do PS, que não defendeu o interesse do país".
Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que o governo deve "um cabal esclarecimento ao país" e assim o fizeram ainda os deputado Rui Tavares (Livre) e Inês Sousa Real (PAN).