Serviço Nacional de Saúde em primeiro nas prioridades da Aliança Democrática
O Serviço Nacional de Saúde (SNS), que o presidente social-democrata Luís Montenegro disse ter sido “o grande ausente” do Congresso do PS, encerrado horas antes, foi apresentado como a primeira prioridade de um futuro governo da Aliança Democrática (AD). Tanto assim que a cerimónia que oficializou o acordo para as legislativas de 10 de março e as europeias de junho, realizada ontem à tarde na Alfândega do Porto, com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, como anfitrião, teve letra de médico, pois o ex-bastonário Miguel Guimarães juntou-se aos líderes do PSD, CDS-PP e PPM na assinatura do documento, em representação das “muitas centenas de independentes qualificados de vários setores” que se juntaram à coligação de centro-direita.
“Há muitas razões para mudar de governo, mas a degradação do SNS, por si só, era razão para pôr o governo do PS na rua e ter um novo governo a tratar dos portugueses”, disse Luís Montenegro, explicando a falta de referências a esses problemas no Congresso do PS que fez a transição de António Costa para Pedro Nuno Santos. “O PS esvaziou e desorganizou quase tudo no SNS. O antigo e o atual líder têm os dois responsabilidades e tudo fizeram para desviar a atenção, ignorar e até desprezar aquela que é a primeira preocupação de muitos portugueses”, acusou, contrapondo à “paixão pelo SNS” dos socialistas o “totoloto das urgências, em que os cidadãos não sabem a que urgências hospitalares devem ir”, com especialidades como a obstetrícia a tornarem-se “intermitentes e itinerantes”, o que “deixa as nossas mulheres grávidas na angústia de não saberem se têm uma resposta e onde têm uma resposta”.
Para terminar “a vergonha de termos portugueses meses e anos à espera de uma consulta ou cirurgia”, com um aumento das taxas de mortalidade infantil, maternal e total, no que qualificou de “maior fracasso das políticas públicas em Portugal”, Montenegro advogou um programa de emergência que tire partido da capacidade do SNS, e também do setor privado e social da saúde, numa lógica de complementaridade muito criticada ao longo de todo o fim-de-semana no Congresso do PS.
O ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que justificou a adesão à coligação por sentir “obrigação enquanto cidadão de defender os direitos, liberdades e garantias” dos portugueses, acusou a governação do PS de “estar a destruir o SNS”, tornando “o acesso a cuidados médicos incerto e tardio”. Diagnosticando “falta de estratégia, planeamento e organização” aos últimos responsáveis pelo Ministério da Saúde, enumerou indicadores como os 1,7 milhões de portugueses sem médico de família e o número excessivo de horas extraordinários que “mostra a falência do SNS”. E avançou, como medidas necessárias, uma transformação digital da saúde, reforço da atenção aos doentes crónicos e aos cuidados paliativos, bem como alternativas aos serviços de urgência. E propôs um acordo de regime entre partidos sobre promoção da saúde, envolvendo escolas e autarquias, entre outros.
O presidente do CDS-PP, Nuno Melo, enfrentou as comparações depreciativas feitas pelo PS entre a coligação e a AD original, liderada por Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles, dizendo que, sem intenção de se comparar a tais figuras, partilha “a mesma determinação no combate ao socialismo”, com 40% da população no limiar da pobreza e 16% dos portugueses a pagarem 80% dos impostos “porque a maior parte dos outros vivem com salários miseráveis e indignos”. Já o presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, defendeu a “conservação da Natureza sem radicalismos” e a defesa dos valores da família, “mais velha instituição portuguesa”, tal de uma “sociedade próspera, livre e solidária”. A mesma que Luís Montenegro espera sair de uma vitória eleitoral transformada em “bem-estar, qualidade de vida e futuro para todos os portugueses”.