Rússia Estado terrorista? PS dividido entre abstenção e voto a favor. PSD exige explicações

"Há momentos na vida em que não podemos ficar no meio da ponte", diz Nuno Melo.

O eurodeputado José Manuel Fernandes exige explicações ao mais alto nível no governo sobre as quatro abstenções de membros socialistas do Parlamento Europeu, na resolução que teve como aspeto central a defesa de que a Rússia deve ser classificada pelos países da União Europeia como um "Estado patrocinador do terrorismo".

"Não se compreende - e é um escândalo que tem que ser explicado pelo primeiro-ministro - como é que metade do grupo parlamentar dos socialistas portugueses se abstém numa resolução desta natureza", afirma José Manuel Fernandes, considerando que se trata de "uma contradição", uma vez que dentro do grupo parlamentar do PS, houve uma maioria de votos a favor da resolução. Esta foi aprovada por 494 votos a favor, 58 contra e 44 abstenções.

Pedro Marques, que votou a favor, argumentou que no momento em que a família política em que o PS se insere - Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas - "tinha que tomar uma posição sobre a condenação da agressão, dos crimes de guerra (...) e sobre a classificação [da Rússia] como Estado patrocinador do terrorismo foi nossa convicção, do grupo como um todo, que (...) se justificava plenamente o voto a favor". Porém, Pedro Marques considera "absolutamente normal" que quatro deputadas do seu grupo parlamentar tenham optado pela abstenção.

Foi o caso da eurodeputada Margarida Marques que considera que o teor da resolução "fecha portas ao diálogo diplomático". A eurodeputada critica ainda alíneas que põem "em causa a liberdade de imprensa", quando defendem a "classificação como crime" para quem afirmar "que a Rússia não está a cometer crimes de guerra". A deputada afirma que mesmo que não esteja de acordo com uma tal afirmação, proibi-la seria "inconstitucional, por exemplo em Portugal, mas também noutros países da UE". Por isso, absteve-se.

A deputada Maria Manuel Leitão Marques (PS) também se absteve, tendo emitido uma declaração de voto, em que afirma que votou a favor de uma formulação, em que se "reconhecia que a Rússia tem usado meios terroristas", considerando que "ser a posição correta", em vez de uma classificação atribuída ao Estado em si. "Seria preferível continuarmos a condenar a Rússia no quadro do direito internacional, para que possamos vir, no futuro, a julgá-la pelos crimes de guerra que tenha cometido contra a população da Ucrânia", defendeu, justificando a abstenção, até por considerar que "o Parlamento deve favorecer em todas as suas decisões uma negociação diplomática que ponha fim a este conflito".

"Há momentos na vida em que não podemos ficar no meio da ponte", atira Nuno Melo (CDS), que votou a favor da resolução, considerando que a posição das deputadas socialistas "não se compreende". Para o centrista "não se beneficia a diplomacia ajudando o infrator", o que no seu entender está a acontecer, pois "o tempo para a diplomacia" chegará "no momento em que [a Rússia] o pretenda". Nuno Melo "lamenta" as quatro abstenções do PS, as dos dois deputados do Bloco de Esquerda, e os votos contra do PCP, apesar de reconhecer "coerência" aos dois deputados comunistas.

Numa nota escrita enviada ao DN, o grupo do Partido Comunista justifica o voto dizendo que a resolução ao estar alinhada com os EUA "integra-se na política de confrontação e guerra que tem vindo a ser promovida na Europa, visando o seu agravamento e prolongamento".

Já o eurodeputado José Gusmão explica que o BE se absteve na resolução "apresentada pelos grupos da direita e por um dos grupos da extrema-direita", que além de não terem "cuidado de construir a unidade" introduzem "um precedente" de "apelar à supressão da liberdade de expressão", sendo "totalmente inútil do ponto de vista da solidariedade com a Ucrânia".

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