Rita Matias: "Há direitos que os homens têm que eu não quero"
Tem 23 anos. Sente que os deputados mais velhos, especialmente de outros partidos, olham para si como uma miúda?
De vez em quando ouve-se esses comentários. De facto, é o que sou e não tenho qualquer complexo com isso. Não sou a deputada com mais experiência profissional ou experiência de vida. Mas acho que há alguma riqueza nisso e a única coisa que sublinho é que faltam mais miúdos no parlamento.
Conservadora de direita, católica praticante, antifeminista. É isto que a define?
Foi o meu último rótulo, acho esse engraçado, mas aquilo que nos define é bem mais que isso. Cresci num contexto familiar cristão que continua a professar a fé em Deus e a viver uma vida, na medida do possível, com base nos valores que me foram transmitidos. Conservadora de direita, sim, sem saudosismos bacocos, uma palavra que se usa muito aqui, sem qualquer saudosismo do passado ou ligação a antigos regimes, mas sim pelo respeito pelas tradições e reconhecimento de que a sociedade já teve outras formas de se organizar, onde também existia respeito, onde a mulher também desempenhava um papel.
E esse antifeminismo é o quê?
É reconhecer que o feminismo é um movimento que deu algumas conquistas sociais às mulheres - e não tenho qualquer desejo de retrocesso nessas conquistas -, mas também reconhecer que a sociedade caminhava nesse sentido e, portanto, estas conquistas não são exclusivamente destes movimentos. O maior antagonismo é ser um movimento de índole marxista, um movimento que separa a sociedade entre "nós" e "os outros". É um movimento que coloca muitas vezes a mulher e o homem em oposição. Primeiramente, porque os compara, e há que reconhecer que a natureza do homem e da mulher são diferentes.
O seu antifeminismo é em relação à composição ideológica que diz estar associada ao movimento?
E, sobretudo, pela grande hipocrisia que há neste movimento que diz que quer lutar para que as mulheres tenham uma voz ativa, mas isso só acontece se as mulheres defenderem determinadas posições.
Se não se sente antifeminista, se lhe chamasse feminista tinha de acrescentar o quê?
Teria de acrescentar sem qualquer complexo em relação ao homem e sem desejar um papel de igualdade, mas sim um papel de equidade. Há direitos que os homens têm que eu não quero. E ainda há passos a dar para que a mulher tenha mais reconhecimento na sociedade. Não é por dizer que não nos identificamos com o movimento que faz de nós antimulheres como muitas vezes me dizem. Não poderia desejar aos outros o que não desejo para mim, o lugar da mulher é onde ela quiser.
Curioso que citou uma frase que vi num cartaz do PS na Madeira.
Qualquer relógio parado está certo duas vezes ao dia.
Porquê o Chega?
Surgiu enquanto partido na mesma altura em que estava a concluir a licenciatura em Ciência Política. Deparava-me com a questão com que todos os jovens se deparam, sobretudo se forem para ciências sociais como eu. Não tinha trabalho na área, quando comecei a trabalhar o contrato que tinha não me permitia adquirir uma casa, mas também não me permitia ter um crédito, por exemplo, para ter um carro. Comecei a perceber que não tinha opções e a ver muitos jovens da minha idade a emigrar. Nessa altura, comecei a ouvir o Dr. André Ventura, mas até de forma muito crítica. Vinha do ISCTE e tinha uma visão muito na linha daquilo que o ISCTE diz sobre populismos, sobre André Ventura como um homem muito inteligente, que o é, mas que estava a surfar uma onda trilhada por Bolsonaro, Trump, Marine Le Pen.
E não via nada disso?
Inicialmente, concordava com tudo isso.
E depois?
Depois foi confrontar a realidade e perceber que aquilo que ele descrevia era exatamente o que eu sentia. Inicialmente, foi quase como quando nos apaixonamos, mas não queremos reconhecer. Pensava que me identificava, mas que não podia ser para mim. Devido a todos os estereótipos, pelos preconceitos, por aquilo que nos é transmitido, vou vendo os jovens da juventude do partido a terem exatamente o mesmo caminho que também tive.
Quantos são os jovens que lidera?
Em termos de números é difícil dizer porque é possível militar no partido sem estar envolvido na juventude. Inscritos teremos cerca de 300 ou 400, mas depois os que estão mais ativos nunca são tantos. Mas temos estado a crescer bastante, sobretudo em meios menos expectáveis, como no interior, por exemplo. Os jovens nesses sítios têm mais coragem do que os jovens de meios mais citadinos, onde supostamente há mais liberdade, mais direitos e mais democracia. Talvez porque essas zonas também são mais esquecidas e os jovens enfrentam outro tipo de desafios.
Há algum partido para além do Chega que a fascine?
Há e não é da nossa família europeia. Tenho uma grande admiração pelo trabalho que o VOX está a fazer em Espanha e é um partido que sigo e leio com gosto pela sua coerência de valores, pela tenacidade que têm a defender as suas ideias. Não vacilam, não pedem desculpa por acreditar no que acreditam.
Há alguém nos outros grupos parlamentares com quem consegue sentir alguma afinidade?
Há deputadas e deputados que admiro pelo trabalho que vão fazendo e, acima de tudo, por serem coerentes. Posso não me identificar com aquilo que eles defendem, mas são coerentes e isso é importante.
De direita ou de esquerda?
Tendencialmente mais de direita, do PSD e da Iniciativa Liberal, mas dentro do Partido Socialista também, sobretudo com os deputados jovens. Há esta capacidade de perceber que, independentemente da cor política que temos, há desafios que um jovem vive e que são transversais à sociedade, quer seja de esquerda ou de direita.