"Rio vai acabar por ter o mesmo fim de Passos. Os resultados vão ser miseráveis. É o meu alerta"
O PSD está a preparar bem as eleições autárquicas, que, como o próprio Rui Rio disse, são as mais importantes para o partido?
O PSD mudou de liderança há quatro anos no seguimento de umas autárquicas e acho que não aprendemos com a história. Está mais do que provado que para todos os companheiros do PSD que foram ganhando câmaras por este país, e felizmente ainda vão sendo muitos, um ciclo de preparação das autárquicas com comunicação dos candidatos no terreno de seis meses não é fazível. Estamos a falar de casos em que o PSD não é o detentor do poder na autarquia, porque no caso em que somos presidentes de câmara, quanto mais tarde essa campanha for feita melhor. Mas estarmos a pôr todos os candidatos às câmaras só a serem anunciados em março é um erro de timing .
Em pandemia era fácil gerir este processo?
O timing mínimo tem de ser um ano. A pandemia até vem reforçar que deveria ter sido antes desse ano. Há aqui um erro de calendário claro. É impossível ter-se ambições de ganhar a Câmara de Lisboa, do Porto, de qualquer outra capital de distrito ou de qualquer município com mais de 100 mil habitantes sem se saber quem é o candidato do PSD a mais de seis meses de distância. Estamos a falar de uma eleição que obriga a conhecer os problemas reais, encontrar soluções, formar equipas. Por exemplo, no caso do município de Lisboa, estamos a falar de mobilizar 500 pessoas, com ou sem pandemia, só para fazer parte das listas. Alguém que tem experiência como o Rui Rio de ter feito campanhas autárquicas e não reconhecer isso é um erro tremendo, de palmatória.
Considera que o adiamento por dois meses das eleições ajudaria a preparar melhor as eleições?
Acho que a proposta é feita de boa-fé no momento complicado em que estamos de pandemia, mas o PSD deve estar focado na garantia que as pessoas são vacinadas e o ato eleitoral pode ocorrer, até porque tem consequências económicas graves, se assumirmos que vamos estar mais oito meses em confinamento.
Os nomes que têm vindo a ser falados para cabeças de lista a Lisboa e Porto nomeadamente, parecem-lhe fortes?
Se virmos a última capital de distrito que o PSD recuperou, que foi Braga, foi feito com três atos eleitorais de Ricardo Rio e o PSD tem de ter uma estratégia em que sabendo que se não ganhar hoje daqui a quatro anos o candidato volta a ser candidato e tem a ambição de ser presidente de câmara. E o que o partido tem errado constantemente é numa roda de candidatos que muitas vezes não dizem nada às cidades e às populações e que, simplesmente, vão fazer serviços ao partido. Sobre a candidatura de Teresa Leal Coelho em Lisboa nas últimas eleições todos sabemos o que aconteceu (ficou em terceiro atrás do CDS), ela não está em condições de ser candidata. Se ela tivesse sido lançada quatro anos antes de hoje, se calhar, estaríamos bem posicionados.
Citaçãocitacao"Se calhar Rui Rio devia era ter envolvido os outros candidatos à liderança do PSD, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz...[nas eleições autárquicas]"
Mas esse erro foi de Passos Coelho...
É isso, o erro não vem de hoje, mas hoje o Dr. Rui Rio está a cometer exatamente o mesmo. Não está a lançar candidatos com um perfil de darem a conhecer o seu projeto e de ganhar ou no curto prazo ou médio espaço de tempo. O Dr. Rui Rio vai acabar por ter exatamente o mesmo fim que teve o Dr. Passos que é demitir-se na noite das eleições. Os resultados vão ser miseráveis. Este é o meu alerta. Não consigo perceber como é que se convidou o Dr. Paulo Rangel, sem saber às eleições europeias, se ele estava disponível para ser candidato no Porto. O partido tem de garantir que as pessoas estão disponíveis para as várias missões que precisa e não o contrário, que é as pessoas servirem-se do partido.
Encontrar nomes fortes para Lisboa e Porto não é complicado?
Lisboa, por exemplo deu os últimos primeiros-ministros e Presidentes da República. Acho o contrário, são as situações mais simples de se resolver.
Rui Rio devia ser candidato à Câmara de Lisboa?
Não, de maneira nenhuma. Se calhar devia era ter envolvido os outros candidatos à liderança do PSD, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz...
E a possibilidade de Santana Lopes voltar a encabeçar uma lista do PSD parece-lhe bem?
O Dr. Pedro Santana Lopes é um ativo do centro-direita e é uma pessoa que eu gostava muito de ver regressar à família social-democrata. E ele também o tem afirmado publicamente que se houve função que lhe deu gozo foi a autárquica e seria um desperdício não encontrar maneira de juntar as duas vontades. Tem currículo em duas câmaras onde fez transformações tremendas nas cidades.
Como vê as críticas contundentes de Rui Rio a Carlos Carreiras, o anterior coordenador autárquico do PSD, a quem acusou de ter sido o obreiro do desaire eleitoral de 2017?
O Dr. Rui Rio devia ter distinguido dois planos. Um em que Carlos Carreiras deve ser reconhecido como um dos melhores autarcas que o PSD tem, está nomeado para o lugar de melhor autarca não só portugueses como mundiais pelo trabalho desenvolvido por ele e pela sua equipa em Cascais, e é brilhante. Outro é o de coordenador autárquico das últimas eleições e os números falam por si. Não foi uma boa coordenação autárquica nem um bom processo autárquico, já que o PSD teve dos piores resultados de sempre.
As novas regras muito apertada de controlo financeiro da campanha das autárquicas imposta pela direção são aceitáveis e exequíveis?
Isto surge porque tem havido em todas as campanhas dívidas grandes de companheiros de partido que não respeitaram as regras em vigor. Não sou fã da proposta porque acho que tem de haver uma responsabilização das candidaturas, mas até agora o partido é que tem acabado por assumir a responsabilidade das dívidas. Acho que algum nível de controlo tem de ser imposto.
O PSD está a negociar com o CDS acordos para as autárquicas, em Lisboa os centristas deviam liderar a lista?
Acho que o critério que devia ser usado é o das últimas eleições, que foram as legislativas, em que o PSD teve um muito melhor resultado em Lisboa e deve liderar essa lista. Este é o segundo erro de Rui Rio. Sou favorável a que o PSD se apresente sem coligações, mas se o tiver de fazer elas devem ser o mais abrangentes possível, incluindo com os partidos e todas as forças não socialistas. E isso implica do PAN, à Iniciativa Liberal até ao Chega, o CDS e os movimentos independentes locais. Porque nas autárquicas, ao contrário das legislativas, não dá para fazer acordos eleitorais no dia seguinte, é presidente de câmara quem tiver mais um voto e, portanto, não se devem desperdiçar votos nos momentos em que se quer retirar câmaras.