Lídia Pereira, vice-presidente do PPE, é entre os eleitos nacionais quem tem mais chances de ficar no Parlamento Europeu.
Lídia Pereira, vice-presidente do PPE, é entre os eleitos nacionais quem tem mais chances de ficar no Parlamento Europeu.Parlamento Europeu

Revolução nas listas pode levar a que só seja reeleita uma entre 21 eurodeputados

Partidos fizeram renovação quase total dos seus candidatos ao Parlamento Europeu. Lídia Pereira é a atual eleita com mais hipóteses de ficar e será a única se o Bloco e o PCP só elegerem os cabeças de lista. Social-democrata admite que o “processo legislativo é complexo”.
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Seja qual for o partido ou coligação mais votado a 9 de junho, quando os portugueses elegerem os 21 deputados que os representarão no Parlamento Europeu ao longo dos próximos cinco anos, existe a certeza de que a delegação nacional será quase totalmente diferente da que existiu na legislatura anterior, iniciada em 2019.

A renovação total levada a cabo pelo PS, que apostou na antiga ministra da Saúde, Marta Temido e prescindiu dos seus nove eurodeputados, o “recrutamento” de quatro ministros (Paulo Rangel, Nuno Melo, José Manuel Fernandes e Maria da Graça Carvalho) e uma secretária de Estado (Cláudia Monteiro de Aguiar) entre os eleitos do PSD e do CDS-PP, e a iminente estreia do Chega e da Iniciativa Liberal vão alterar drasticamente o elenco parlamentar em Bruxelas e Estrasburgo no que a Portugal diz respeito. Ao ponto de haver apenas uma eurodeputada, entre os atuais 21 eleitos, com reeleição quase garantida: a social-democrata Lídia Pereira, que surge em quinta posição na lista da Aliança Democrática (AD), encabeçada pelo comentador político Sebastião Bugalho.

Para a economista de 32 anos, chegada ao Parlamento Europeu em 2019, não ser a única a retomar o lugar será necessário que o Bloco de Esquerda e a CDU elejam mais do que um deputado, pois também os bloquistas e comunistas optaram por renovar listas, encabeçadas pela ex-coordenadora Catarina Martins e pelo antigo deputado João Oliveira, respetivamente. Só uma votação nas eleições europeias bastante superior às intenções de voto reveladas na sondagem da Aximage que o DN publicou a 21 de abril permitirá a manutenção dos atuais eurodeputados  Sandra Pereira (CDU) e José Gusmão (Bloco de Esquerda), o que ainda assim só elevaria o número de repetentes para três - apenas um em cada sete.

É uma enorme diferença em relação às europeias de 2019, nas quais foram reeleitos oito eurodeputados portugueses - os socialistas Carlos Zorrinho e Pedro Silva Pereira, que era vice-presidente do grupo dos Socialistas & Democratas, os sociais-democratas Paulo Rangel, José Manuel Fernandes e Cláudia Monteiro de Aguiar, aos quais se juntou Carlos Coelho após a renúncia de Álvaro Amaro, e ainda o centrista Nuno Melo, o comunista João Ferreira e a bloquista Marisa Matias -, assegurando uma continuidade que agora não existirá. Há que recuar a 2009 para encontrar uma renovação minimamente comparável, mas ficaram seis: Ana Gomes, Capoulas Santos e Elisa Ferreira (PS), Carlos Coelho (PSD), Ilda Figueiredo (PCP) e Miguel Portas (Bloco de Esquerda), que morreria a meio da legislatura.

Desta vez, além da revolução na lista do PS, com Pedro Nuno Santos a juntar Francisco Assis e Ana Catarina Mendes a Marta Temido, e na AD, que tem o vice-presidente Paulo Cunha a secundar Bugalho - com o número 3 da lista, em representação do CDS-PP, a caber a Ana Miguel Pedro, que trabalha no Parlamento Europeu desde 2011, tendo sido adjunta de Nuno Melo -, o Chega junta o seu vice-presidente Tânger Corrêa, embaixador de carreira, ao especialista em Relações Internacionais (e ex-deputado do PSD) Tiago Moreira de Sá, à ex-conselheira nacional da Iniciativa Liberal Mariana Nina e ao antigo secretário de Estado  Francisco Almeida Leite. E a Iniciativa Liberal tem um grande trunfo na candidatura do ex-presidente, João Cotrim de Figueiredo, seguido por Ana Martins e André Costa Amaral, com o Livre a apostar em Francisco Paupério e o PAN a avançar com Pedro Fidalgo Marques, empenhado na eleição de um deputado, como em 2019, embora Francisco Guerreiro se tenha desfiliado e mantido o mandato enquanto independente.

Pontes entre portugueses

A eurodeputada social-democrata Lídia Pereira relativiza o grau de renovação no Parlamento Europeu. “Vejo isso com muita naturalidade”, disse ontem ao DN, à margem da entrega da lista da AD no Tribunal Constitucional. Defendendo que “houve uma grande valorização do trabalho dos eurodeputados” com os convites para o Governo, contrapõe que a “experiência e competência dos novos eurodeputados” deve ser tida em conta.

Com forte possibilidade de ser a única atual eurodeputada portuguesa reeleita - e certa de que será a única entre os sociais-democratas -, reconhece a “responsabilidade adicional de tentar fazer as pontes necessárias para os novos eurodeputados serem rapidamente integrados”, até porque “a antiguidade será significativa”, mas acrescenta que tende “a ver a renovação com muito otimismo”.

Para quem já é vice-presidente do Partido Popular Europeu, mas só chegou ao Parlamento Europeu há cinco anos, numa legislatura “marcada pela pandemia”, é evidente que os recém-chegados sentirão o impacto. “Estamos a falar de uma instituição muito grande e de um processo legislativo complexo, para o qual é importante ter as redes necessárias”, diz, ciente de que “conhecer as pessoas relevantes demora o seu tempo”.

Quanto à saída de compatriotas que representam outras famílias políticas, Lídia Pereira diz que será preciso “criar novas pontes de contacto” que substituam as que existiam entre as diferentes delegações portuguesas. Mas, para já, “fundamental é vencer esta batalha eleitoral” e “garantir que há espaço para a moderação e para o diálogo, para que possamos continuar a trabalhar juntos e a representar Portugal ao mesmo alto nível”. 

DETALHES

Voto em mobilidade

O facto de as eleições de 9 de junho decorrerem quando muitos portugueses aproveitam os feriados para sair do local de residência leva a que, desta vez, seja possível votar em qualquer parte do país. As mesas de voto têm cadernos eleitorais digitais, e o Cartão do Cidadão gera um boletim de voto. O mesmo no estrangeiro, mas só em postos consulares e diplomáticos.

E também antecipado

Tal como tem sucedido noutros atos eleitorais, será possível recorrer ao voto antecipado no domingo anterior, 2 de junho. Os eleitores interessados em fazê-lo têm de registar-se na plataforma online Voto Antecipado ou através de carta.

Mais famílias políticas

Neste momento os deputados portugueses no Parlamento Europeu estão divididos entre Socialistas & Democratas (PS), Partido Popular Europeu (PSD e CDS), Esquerda (Bloco de Esquerda e PCP) e Verdes (o independente Francisco Guerreiro, eleito pelo PAN). As sondagens indicam que vão passar a haver no Identidade e Democracia (Chega) e Renovar Europa (Iniciativa Liberal).

Número não se altera

Portugal continuará a eleger 21 deputados para o Parlamento Europeu em 2024, apesar de o número de mandatos ter aumentado de 705 para 720. Ganharam dois deputados, em relação a 2019, França, Espanha e Países Baixos, enquanto nove países ficaram com mais um lugar: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Finlândia, Irlanda, Letónia, Polónia. 

Quem são os cabeças de  lista para as europeias?

AD
SEBASTIÃO BUGALHO
28 ANOS

Foi jornalista e, até ser anunciado como candidato, era comentador político na SIC Notícias. Foi também colunista do DN. Na apresentação da candidatura, o agora cabeça de  lista garantiu querer cumprir o mandato até ao fim. “Estamos mesmo prontos para o combate”, assegurou.

PS
MARTA TEMIDO
50 ANOS

Ministra da Saúde de 2018 a 2022, lidera agora uma lista completamente renovada do PS às europeias. Em 2023 foi eleita presidente do PS Lisboa (sendo a única a concorrer ao cargo). Nas últimas legislativas, foi eleita deputada pelo Círculo Eleitoral de Lisboa.

CHEGA
TÂNGER CORRÊA
72 ANOS

Vice-presidente do partido desde 2020, foi diplomata por mais de 40 anos, servindo como cônsul em Goa e no Rio de Janeiro, embaixador na Sérvia ou no Egito. Antes do Chega, militou no CDS-PP e chegou a ser adjunto de Diogo Freitas do Amaral, quando foi ministro dos Negócios Estrangeiros.

IL
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
62 ANOS

Líder da Iniciativa Liberal até janeiro de 2023, foi também deputado até à última Legislatura (e foi o primeiro deputado de sempre do partido). Nas eleições de 10 de março, foi o candidato pelo Círculo da Europa, e não foi eleito. Agora, estreia-se como cabeça de lista a umas Europeias.

BE
CATARINA MARTINS
50 ANOS

Foi coordenadora do Bloco desde 2012. Deixou a liderança em maio 2023. Saiu, depois, também da Assembleia da República, onde era deputada desde 2009. Candidata-se pela primeira vez a umas Europeias, liderando a lista por troca com Marisa Matias, eleita deputada nas legislativas de março.

CDU
JOÃO OLIVEIRA
44 ANOS

O ex-líder parlamentar comunista deixou o hemiciclo nacional após as legislativas de 2022, para onde não conseguiu ser eleito. Estreia-se agora como cabeça de lista a umas Europeias. Nas últimas, o lugar foi ocupado por João Ferreira (que viria a ser substituído por João Pimenta Lopes).

LIVRE
FRANCISCO PAUPÉRIO
29 ANOS

É o segundo candidato mais jovem, após Sebastião Bugalho. O processo eleitoral nas primárias internas foi atribulado mas, à segunda volta, acabou por garantir a eleição e foi confirmado como cabeça de lista. A n.º 2 é Filipa Pinto, que também foi candidata às Legislativas (não-eleita).

PAN
PEDRO FIDALGO MARQUES
37 ANOS

Formado em Dança, nasceu no ano em que Portugal aderiu à CEE (1986). No PAN, Pedro Fidalgo Marques é dirigente, membro e vogal da Comissão Política Nacional, o órgão máximo entre congressos. Foi o n.º 3 por Lisboa nas últimas eleições legislativas.

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