Ramalho Eanes: “Não percebo que estigmatizem o 25 de novembro”
RODRIGO ANTUNES/LUSA

Ramalho Eanes: “Não percebo que estigmatizem o 25 de novembro”

Antigo chefe de Estado lamenta que as Forças Armadas caminhem para a "irrelevância", teme que a guerra na Ucrânia se alastre aos países bálticos e que o conflito entre China e Taiwan desencadeie uma nova guerra mundial.
Publicado a
Atualizado a

O primeiro Presidente da República democraticamente eleito após o 25 de Abril, António Ramalho Eanes, lamenta o esquecimento do 25 de Novembro nas celebrações do 25 de Abril.

“A democracia foi prometida no 25 de abril, com estado de direito e eleições livres, mas o 25 de novembro foi a continuação do 25 de abril. Não percebo que estigmatizem essa data”, afirmou o antigo militar, de 89 anos, que salienta que o Partido Comunista Português (PCP) foi arrastado pela extrema-esquerda para tentar impor a sua ideologia. “Entendo que o esquecimento do 25 de novembro não ajuda a democracia”, reforçou.

“Entre o 25 de abril e o 25 de novembro houve um período muito complicado em que alguns grupos tentaram impor as suas ideologias. Mas o MFA não permitiu”, acrescentou Ramalho Eanes, que impediu a ilegalização do PCP: “Todos os partidos eram não necessários, mas indispensáveis.”

Questionado pela jornalista Fátima Campos Ferreira sobre o que mudou ao cabo de 50 anos de Democracia, o antigo chefe de Estado lembrou que “em 1974 os cidadãos não tinham direito à sua cidadania”.

Sobre a posição de Portugal na União Europeia, Ramalho Eanes frisa que “os 35 anos de fundos europeus foram extremamente importantes para a criação do Estado social português” e explicou o maior crescimento económico dos países de leste em comparação com Portugal: “Têm menos despesa com Estado social.”

Antigo militar, lamentou que as Forças Armadas caminhem “para a irrelevância”. “Nas Forças Armadas quase tudo está mal. Os chefes de Estado Maior fazem das tripas coração”, vincou, considerando “interessante” o debate sobre o serviço militar obrigatório, “para que os portugueses conheçam a situação das Forças Armadas, que percebam que a situação hoje é muito complicada, e que poderemos estar envolvidos numa guerra”.

“Acho que o Presidente da República não deveria ser o comandante supremo das Forças Armadas nominal, deveria ser o comandante real”, aditou.

Ramalho Eanes é contra a ideia de um Governo de unidade nacional, porque “mataria o pluralismo”, a não ser “numa situação de guerra”.

O antigo chefe de Estado teme que a guerra na Ucrânia se alastre aos países bálticos e que o conflito entre China e Taiwan desencadeia uma nova guerra mundial. “Se a Europa falhar na resposta à invasão russa da Ucrânia, vai ter problemas em algumas zonas do continente. Estou a referir-me aos países bálticos. Os EUA e a Europa não souberam responder à dissolução da União Soviética. Permitiram uma coligação entre Rússia, China e Irão. Xi Jinping já assumiu como missão a reunificação da China. Se China atacar Taiwan, os Estados Unidos dificilmente não vão responder, porque é uma zona geoestratégica muito importante. Aí vamos ter uma guerra mundial”, vaticinou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt