As duas maiores bancadas do parlamento - PSD e PS - travaram esta sexta-feira a intenção do Livre, IL, BE e PAN de criação de um círculo de compensação nacional no sistema eleitoral para a Assembleia da República..No debate, a única ideia que mereceu maior consenso partiu da bancada socialista e relacionou-se com a criação de um grupo de trabalho, no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, para a codificação da legislação eleitoral..Em relação aos restantes diplomas em debate, o Livre avançou com a proposta de criação de um círculo de compensação nacional de 37 deputados, a Iniciativa Liberal de 30 e o Bloco de Esquerda de dez, com o PAN a estender as suas propostas ao princípio da agregação de círculos eleitorais..Todas estas forças políticas, assim como o PCP, consideraram que o atual sistema eleitoral para a Assembleia da República, com a progressiva diminuição da população nas zonas do interior e sua concentração no litoral, diminui a representatividade territorial e reduz a proporcionalidade, beneficiando o PSD e o PS..Pela parte do PSD, o deputado Hugo Carneiro acusou os autores dos projetos de pretenderem obter "ganhos de secretaria" em termos de representação a partir de mudanças a operar no sistema eleitoral. Centrou a prioridade do PSD nas mudanças para a melhoria do voto dos emigrantes -- ponto em que criticou o PS..O vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves frisou que o sistema eleitoral é a pedra basilar do regime constitucional e deixou um aviso: "Prestaríamos um mau serviço à democracia portuguesa se revolucionarmos algo que não precisa de qualquer revolução e que tem vindo a cumprir a sua missão"..Pedro Delgado Alves defendeu depois que o Índice de proporcionalidade do sistema eleitoral português -- a relação entre a percentagem de votos e a percentagem de assentos - "está consistentemente acima de 90%, uma média muito boa quando comparada com outras democracias".."A engenharia eleitoral tende a correr mal, porque não conta com a autonomia dos eleitores", alegou ainda..A intervenção mais dura contra Pedro Delgado Alves partiu do porta-voz do Livre, Rui Tavares, que invocou o caso de Portalegre, que só elege dois deputados.."Estamos perante uma crise de representação no país por razões de origem geográfica. Estamos a falar de direitos cívicos. Estamos a falar de igualdade razoável", acentuou..Críticas duras ao PSD e PS partiram também do deputado da Iniciativa Liberal Rodrigo Saraiva, acusando estes partidos de usarem o argumento "de que não é tempo" para travarem a revisão da lei eleitoral.."A responsabilidade da governabilidade e da estabilidade é dos 230 deputados e não dos eleitores. Estamos perante um Bloco Central de desculpas, nunca querem resolver nada", acusou..Distante do tom usado pelo PSD, o deputado do CDS-PP João Almeida admitiu a discussão destes temas em sede de especialidade, mas criticou a opção da Iniciativa Liberal de juntar no mesmo diploma questões como fim do dia de reflexão, a maior flexibilidade na marcação do dia das eleições e a criação de círculo de compensação nacional..Pela parte do PCP, António Filipe não se opôs enquanto princípio à criação de um círculo de compensação nacional e reconheceu que o atual sistema beneficia o PS e o PSD, mas apontou dificuldades nos projetos do Livre, da Iniciativa Liberal e do PAN. Se fossem concretizados, tal como estão, introduziria problemas agravados de representatividade num número maior de círculos eleitorais..A deputada do PAN, Inês de Sousa Real, considerou "inaceitável que sistema eleitoral fique cristalizado, com um elevado número de votos desperdiçado". Paulo Muacho, do Livre, estimou em quase 20% o total de votos "desperdiçados", ou seja, que não servem para a conversão em mandatos..O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, procurou acentuar que a sua bancada apresentou um projeto mais "moderado", com um círculo de compensação nacional mais reduzido de dez deputados, do que a Iniciativa Liberal e Livre. Argumentou que o projeto do BE introduziria menores alterações no conjunto dos atuais círculos distritais..A bancada do Chega defendeu a criação de um círculo de compensação, considerando estar-se perante um "egoísmo" do PS e do PSD, mas também a redução do número de deputados. O Chega centrou as suas intervenções na melhoria do voto dos emigrantes.