O desfecho já era esperado, mas foi confirmado no final do debate. PS, PSD e CDS-PP juntaram-se para chumbar os projetos de três outros três partidos: Chega, PCP e PAN que procuravam melhorar as condições da carreira dos polícias..Ainda que com diferentes formulações, os três projetos de lei procuravam legislar e, assim, garantir a aplicação do chamado suplemento de missão para PSP, GNR, e outras forças, como a Polícia Marítima ou os guardas prisionais. E mesmo depois de Pedro Nuno Santos ter acusado o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de ter “fracassado” aquela que era uma das “grandes promessas” da campanha eleitoral (o acordo com as forças de segurança), os socialistas juntaram-se aos partidos do Governo e não viabilizaram estas propostas. Assim que ouviram o desfecho da votação, as várias centenas de manifestantes nas galerias do Parlamento bateram em retirada e deixaram os seus lugares -- não sem antes proferirem palavras de descontentamento, como “vergonha". Isto sob um coro de aplausos da bancada do Chega, com todas as outras em silêncio..Toda a discussão foi, de resto, pautada por uma postura bastante agressiva, com várias bancadas a trocarem acusações entre si durante as cerca de duas horas de discussão. Isto levou a que, em diferentes ocasiões, o debate tenha sido interrompido pelo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco..O tom mais crispado começou logo na primeira intervenção. André Ventura, o primeiro a falar, afirmou que o partido nada mais queria do que “corrigir uma injustiça histórica” e acusou PS e PSD de humilharem as forças de segurança - que “não querem cêntimos, mas sim dignidade”. A resposta não tardou e Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, recusou receber “lições no respeito pelas forças de segurança”. Isto motivou protestos aqui e ali, e a intervenção de António Filipe, do PCP, começou mesmo com atraso, com Aguiar-Branco a ter de pedir que os ânimos se acalmassem..Também o PS esteve debaixo de fogo, fosse pelo Chega (que aludiu várias vezes ao facto de em oito anos de governação o PS ter querido “virar polícias contra polícias”), ou pelos partidos mais à direita. O PSD, por exemplo, acusou os socialistas de terem criado uma “situação de injustiça” que “não foram capazes de resolver”. E, tendo em conta que “mais 300 euros por mês [o valor do Governo para o subsídio de risco] é muito dinheiro”, Hugo Soares questionou Pedro Delgado Alves: “É ou não um valor razoável e compatível com as contas públicas?”.Enquanto isto, as galerias iam enchendo aos poucos. A afluência ao debate foi tanta que houve pessoas a entrar para as galerias com quase uma hora e meia de atraso em relação ao início dos trabalhos. E até as galerias superiores (que geralmente estão fechadas) tiveram de ser abertas. Não sem antes haver, mais uma vez, pedidos de Aguiar-Branco aos deputados: “Assim não é possível... Sem gritaria”..Contudo, já na reta final da discussão, Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, subiu ao púlpito para uma das intervenções que mais “gritaria” causou. Acusando André Ventura de incitar a “práticas do Bloco de Esquerda e do PCP, do PREC, responsável por cercar deputados” ao pedir que os agentes das forças de segurança estivessem presentes no debate. Foi ainda mais longe, pegando na proposta do Chega de conferir direito à greve às polícias. “É uma irresponsabilidade”, atirou, e deu um exemplo, com recurso a uma notícia. Qual? Um deputado municipal do Chega em Braga, que foi condenado por extorsão. “Assim, este deputado municipal podia continuar a exercer a sua atividade.” No final da intervenção, Rui Rocha passou à frente da bancada do partido de André Ventura (ao invés de circular por dentro do hemiciclo, como costuma acontecer). Isto valeu-lhe muitas críticas e gritos vindos dos 50 deputados do Chega, e até o presidente em exercício (Marcos Perestrello) afirmou que podia ter tido outra atitude.