As trocas de acusações marcaram o debate parlamentar.
As trocas de acusações marcaram o debate parlamentar.Leonardo Negrão / Global Imagens

PS alia-se a PSD e CDS e trava propostas do Chega

O debate ficou marcado por acusações e troca de galhardetes entre as bancadas, com centenas a assistir nas galerias. O resultado? Um bloco central que votou contra Ventura.
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O desfecho já era esperado, mas foi confirmado no final do debate. PS, PSD e CDS-PP juntaram-se para chumbar os projetos de três outros três partidos: Chega, PCP e PAN que procuravam melhorar as condições da carreira dos polícias.

Ainda que com diferentes formulações, os três projetos de lei procuravam legislar e, assim, garantir a aplicação do chamado suplemento de missão para PSP, GNR, e outras forças, como a Polícia Marítima ou os guardas prisionais. E mesmo depois de Pedro Nuno Santos ter acusado o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de ter “fracassado” aquela que era uma das “grandes promessas” da campanha eleitoral (o acordo com as forças de segurança), os socialistas juntaram-se aos partidos do Governo e não viabilizaram estas propostas. Assim que ouviram o desfecho da votação, as várias centenas de manifestantes nas galerias do Parlamento bateram em retirada e deixaram os seus lugares -- não sem antes proferirem palavras de descontentamento, como “vergonha". Isto sob um coro de aplausos da bancada do Chega, com todas as outras em silêncio.

Toda a discussão foi, de resto, pautada por uma postura bastante agressiva, com várias bancadas a trocarem acusações entre si durante as cerca de duas horas de discussão. Isto levou a que, em diferentes ocasiões, o debate tenha sido interrompido pelo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.

O tom mais crispado começou logo na primeira intervenção. André Ventura, o primeiro a falar, afirmou que o partido nada mais queria do que “corrigir uma injustiça histórica” e acusou PS e PSD de humilharem as forças de segurança - que “não querem cêntimos, mas sim dignidade”. A resposta não tardou e Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, recusou receber “lições no respeito pelas forças de segurança”. Isto motivou protestos aqui e ali, e a intervenção de António Filipe, do PCP, começou mesmo com atraso, com Aguiar-Branco a ter de pedir que os ânimos se acalmassem.

Também o PS esteve debaixo de fogo, fosse pelo Chega (que aludiu várias vezes ao facto de em oito anos de governação o PS ter querido “virar polícias contra polícias”), ou pelos partidos mais à direita. O PSD, por exemplo, acusou os socialistas de terem criado uma “situação de injustiça” que “não foram capazes de resolver”. E, tendo em conta que “mais 300 euros por mês [o valor do Governo para o subsídio de risco] é muito dinheiro”, Hugo Soares questionou Pedro Delgado Alves: “É ou não um valor razoável e compatível com as contas públicas?”

Enquanto isto, as galerias iam enchendo aos poucos. A afluência ao debate foi tanta que houve pessoas a entrar para as galerias com quase uma hora e meia de atraso em relação ao início dos trabalhos. E até as galerias superiores (que geralmente estão fechadas) tiveram de ser abertas. Não sem antes haver, mais uma vez, pedidos de Aguiar-Branco aos deputados: “Assim não é possível... Sem gritaria”.

Contudo, já na reta final da discussão, Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, subiu ao púlpito para uma das intervenções que mais “gritaria” causou. Acusando André Ventura de incitar a “práticas do Bloco de Esquerda e do PCP, do PREC, responsável por cercar deputados” ao pedir que os agentes das forças de segurança estivessem presentes no debate. Foi ainda mais longe, pegando na proposta do Chega de conferir direito à greve às polícias. “É uma irresponsabilidade”, atirou, e deu um exemplo, com recurso a uma notícia. Qual? Um deputado municipal do Chega em Braga, que foi condenado por extorsão. “Assim, este deputado municipal podia continuar a exercer a sua atividade.” No final da intervenção, Rui Rocha passou à frente da bancada do partido de André Ventura (ao invés de circular por dentro do hemiciclo, como costuma acontecer). Isto valeu-lhe muitas críticas e gritos vindos dos 50 deputados do Chega, e até o presidente em exercício (Marcos Perestrello) afirmou que podia ter tido outra atitude.

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