O debate em que o PS poupou o caso Selminho a Rui Moreira

Onze candidatos à Câmara Municipal do Porto discutiram ideias para a cidade esta noite num debate na RTP 1. Um debate de Rui Moreira contra dez.

"O caso Selminho não é um tema político. Não quero dar a Rui Moreira uma oportunidade para se vitimizar."

A afirmação pertenceu ao candidato do PS à Câmara do Porto, Tiago Barbosa Ribeiro, no debate que esta noite juntou na RTP 1 os onze candidatos à "Invicta". Afirmação controversa e depois contrariada pelo candidato do BE, Sérgio Aires. "Há uma dimensão política nesta caso", afirmou.

Rui Moreira, neste aspeto, voltou a assegurar total inocência ("a minha família nada ganhou com isto"), dizendo esperar que no julgamento de novembro se faça justiça.

Já Vladimiro Feliz, do PSD, voltou a insistir no argumento de que, se o caso fosse com ele, não seria candidato à autarquia - e outros candidatos disseram o mesmo.

Foi por iniciativa do moderador do debate, o jornalista Hugo Gilberto, que o suposto convite do PSD a Rui Moreira para ser candidato do partido nestas eleições autárquicas se tornou tema no início do debate, que teve lugar no salão árabe do Palácio da Bolsa.

Vladimiro Feliz, o candidato do PSD, tentou evitar o assunto ("não falo do que não sei") mas acrescentaria que "nunca houve a hipótese" de o PSD apoiar Moreira. Este, pelo seu lado, assegurou ter sido convidado por duas pessoas mandatadas pela direção do partido (mas não pelo próprio Rui Rio).

Antes, o presidente da câmara, novamente recandidato como independente (a um terceiro e último mandato, se for reeleito), tinha sido questionado sobre o facto de a sua campanha ter o orçamento mais alto de todas as centenas de candidaturas autárquicas por esse país fora.

"A ideia de que a democracia tem de ser muito barata é uma ideia que me incomoda", respondeu o autarca. Acrescentou que as suas candidaturas nunca "excederam" os respetivos orçamentos.

No debate, o candidato do PS, Tiago Barbosa Ribeiro, afirmou claramente o seu propósito: "Estou aqui para ganhar a Câmara." E depois focou-se numa das principais críticas à gestão de Rui Moreira: "É a autarquia que menos apoiou comerciantes na pandemia." Segundo acrescentou, agora, nestas autárquicas, Moreira só está " a prometer para os próximos quatro anos o que prometeu há quatro e não cumpriu".

Numa segunda ronda, Tiago Barbosa Ribeiro manifestar-se-ia empenhadamente regionalista. "Para mim, regionalização era amanhã." Também defendeu que a autarquia deveria recolher mais competências da administração central.

Depois de Tiago, a candidata da CDU, Ilda Figueiredo, também se mostraria empenhada na regionalização. "O Porto é vítima da falta da regionalização. O Norte, aliás, também é vítima."

Rui Moreira interviria nesta parte da discussão dizendo, no essencial, sobre regionalização, que não aconteceu porque o Parlamento não quis (ao decretar a necessidade imperativa de um referendo). E assim refutou as críticas do candidato do PS, que o acusou de ser contra a regionalização.

Mais tarde, Tiago Barbosa Ribeiro voltaria à carga, dizendo que só não avançou porque houve pessoas a votar contra no referendo - sendo um deles Rui Moreira. Dirigindo-se ao recandidato independente, disparou: "Não pode arvorar-se em defensor da regionalização depois de ter votado contra."

Já quanto à descentralização de competências da administração central para a administração autárquica, o presidente recandidato à câmara sublinharia a excelência do que se passou com os transportes.

Criticou, porém, o que o Governo propôs ao Porto quanto à área da Saúde, dizendo que a autarquia vai ter de arcar com novos custos na ordem dos nove milhões de euros, recebendo para isso um pacote financeiro de pouco mais de um milhão de euros.

A explosão do fenómeno do alojamento local foi também um dos temas do debate, com Diamantino Raposinho (Livre) e Bebiana Cunha (PAN) a defenderem medidas de controlo, como por exemplo o estabelecimento de zonas de exclusão.

Bebiana Cunha, por outro lado, aproveitou para, questionada pelo moderador, defender a necessidade de se construir na cidade uma instalação ("ou até mais do que uma") para consumo assistido de drogas (as chamadas "salas de chuto").

Já André Eira, candidato do novo partido Volt (um partido europeu agora com expressão nacional) defenderia que a construção de habitação social no Porto deve aumentar, ascendendo a 25% do total da construção, um valor que, segundo assegurou, é a de, por exemplo, Viena de Áustria. Eira defenderia também uma aposta forte na construção através de cooperativas de habitação, de forma a aumentar a oferta de casas com custos controlados.

O candidato do BE, Sérgio Aires - partido sem representação na vereação - disse que o principal propósito da sua candidatura é "tentar passar mensagem que é possível outra cidade" e "fazer as pessoas entender que há alternativas dentro de uma esquerda socialista". Aires explicou também uma das principais bandeiras do BE: "Trazer mais transparência para que os portuenses saibam o que se passa na câmara."

No final, o moderador concedeu 90 segundos a cada candidato para lançar uma mensagem sem contraditório.

Ilda Figueiredo, da CDU, diria que "a pandemia mostrou a profunda desigualdade na cidade", ou seja, "as agruras tornaram-se mais claras".

Sérgio Aires, do BE, prometeu trazer à vereação "maior transparência" e "até mais democracia". Lançou também a Rui Moreira um apelo, sobre a definição do PRR para a cidade: "Fale com os cidadãos, faça essa discussão."

Pelo PAN, Bebiana Cunha sublinharia que o pior do último ano foi a aprovação do PDM, plano que no seu entender "hipoteca a vida da cidade por muitos anos" por não favorecer "lógicas de proximidade" na distribuição dos serviços públicos.

António Fonseca, do Chega, disse que o melhor do ano no Porto foi a vacina anti-covid e o pior o facto de a autarquia não ter, na pandemia, "respondido às necessidades" da população.

André Eira, do Volt, definiu que o pior da cidade é o "afastamento dos cidadãos" face aos processos políticos decisórios na municipalidade.

Diamantino Raposinho, do Livre, considerou que o pior da gestão autárquica foi a indiferença face ao problema das alterações climáticas. Defendeu, neste contexto, a necessidade de um "grande plano de transição ecológica" para o Porto, limitando cada vez mais, por exemplo, a circulação automóvel.

Já Diogo Araújo Dantas, candidato do PPM, considerou que o que importa é que os portuenses tenham "alguém a trabalhar para eles" e não apenas pessoas "em defesa dos seus interesses".

Bruno Rebelo, do Ergue-te, disse que o melhor do Porto são "as suas gentes, os tripeiros". Como prioridade do seu programa salientou a necessidade de haver "mais segurança" na cidade.

Quanto a Rui Moreira, considerou que o "maior problema" da cidade "é a questão do centralismo" de Lisboa: "Há questões como a TAP que são resolvidas de uma penada, esquecendo completamente esta cidade." Sobre o futuro, assegurou que não fará promessas de "grandes obras" mas antes de coisas mais concretas (baixar o preço da água, baixar o IMI, ter escolas de qualidade para as crianças da cidade).

O penúltimo a falar foi Vladimiro Feliz, candidato do PSD. Segundo afirmou, o melhor do último ano no Porto foi "o trabalho de referência" feito pelas instituições do SNS na cidade no combate à pandemia. Já o pior foi que Rui Moreira "apenas cumpriu 53% das promessas de há quatro anos".

O debate foi encerrado por Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, que também salientou como o melhor do ano no Porto as suas gentes e o trabalho das instituições de saúde. Como ações prioritárias para o próximo ano salientou a área social de apoio aos setores mais desfavorecidos da cidade, a necessidade de um plano económico de recuperação pós pandemia e a necessidade um plano de transição ecológica.

O debate terminou pelas 23h50, exatamente duas horas depois de se ter iniciado.

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