Políticos e Papa: Da adesão do ateu PCP à distância do Chega católico 

Da adesão total (Marcelo e Costa), à grande consonância (o PCP), passando pelo silêncio (IL, Livre, BE e PAN) e acabando na ausência (Chega). Eis a relação dos políticos com o Papa.
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De uma ponta à outra: a viagem do Papa Francisco a Portugal foi encarada pelos protagonistas políticos as mais variadas formas, numa gama de reações que foram da comunhão absoluta (mesmo em notórios ateus, como António Costa, que tratou Francisco por "santo padre"), ao silêncio (Iniciativa Liberal, Livre, Bloco de Esquerda, PAN), terminando no ostensivo afastamento.

Neste plano, o do afastamento, o caso mais notório representou-se na figura de André Ventura. Embora exiba permanentemente o seu catolicismo empenhado, tendo-se já várias vezes feito fotografar rezando em igrejas, o presidente do Chega está apoiado em setores religiosos para quem Francisco é um inimigo a abater: evangélicos e católicos ultra conservadores.

Citaçãocitacao"Este Papa tem contribuído para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa e acho que em breve vamos todos pagar um bocadinho por isso."

Em novembro de 2021, numa entrevista DN/TSF, dificilmente poderia ter sido mais claro: "Acho que este Papa tem prestado um mau serviço ao cristianismo. Acho que tem mostrado a esquerda revolucionária quase como heroica e a esquerda europeia marxista como a normalidade. Este Papa tem contribuído para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa e acho que em breve vamos todos pagar um bocadinho por isso."

Não admira, assim, que Ventura não tenha estado em nenhum evento com o Papa, preferindo ir para a Madeira fazer campanha. Ontem, no Twitter, apertado pelo retumbante sucesso de adesão popular que foi "esta incrível JMJ em Portugal", reconhecia que o mesmo Papa que no seu entender está a "destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa" foi afinal portador em Lisboa de uma "mensagem poderosa e revigorante".

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E assim como o Papa e a JMJ afastaram o católico Chega, também, ao invés, mobilizaram a adesão do mais ateu dos partidos parlamentares, o marxista-leninista PCP.

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O dado mais surpreendente nesta adesão - aliás publicamente salientado pelo Presidente da República - foi uma nota publicada no Twitter pela JCP, a organização de juventude dos comunistas: "A JMJ, enquanto momento de grande dimensão juvenil representa um potencial espaço de partilha, reflexão e convergência em defesa de valores como a paz, a fraternidade, o combate à pobreza, precariedade e às desigualdades, a que a JCP atribui uma importância redobrada."

Mas o próprio PCP salientou no seu site a presença do seu secretário-geral, Paulo Raimundo, no encontro que o Papa teve, no CCB, com as autoridades nacionais, sublinhando que produziu um discurso "com significado", nomeadamente na "condenação" das "dificuldades e da precariedade que muitos jovens enfrentam" - "preocupações" que têm "muita relevância". A esta nota, os comunistas relacionaram ainda uma outra, com vídeo, onde João Ferreira, vereador dos comunistas em Lisboa, associou o partido ao "acolhimento da cidade de Lisboa aos muitos milhares de jovens" que vieram à JMJ, dizendo ainda que o chefe da Igreja Católica produziu "palavras com significado que sublinhamos e valorizamos".

No topo da hierarquia do Estado a consonância com o Papa foi absoluta.

Como se esperaria, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, devotou-se a tempo inteiro à visita papal, desde o momento em que Francisco chegou (manhã de quarta-feira) até ao momento em que partiu (ontem ao fim da tarde). E o primeiro-ministro fez exatamente o mesmo - porventura com menos intensidade mas, como Marcelo, não falhando nenhum dos momentos de massas.

Citaçãocitacao"As polémicas, mais uma vez, foram absurdas, como foram há 25 anos as polémicas sobre a Expo e como o foram as polémicas sobre o Euro 2004."

Ontem, entrevistado no Telejornal da RTP 1, Marcelo salientou que o Estado português fez "muitíssimo bem" ao associar-se aos custos da JMJ porque "acontecimentos como este há poucos". Dias antes sublinhava a importância do empenhamento político da juventude. "Tem uma força, uma esperança, um capital de futuro que mais ninguém tem."

Costa também salientou o sucesso da JMJ: "Temos boas razões para estarmos todos satisfeitos e orgulhosos porque, mais numa vez, o país mostrou que, polémicas à parte, fomos capazes". Ou seja: "As polémicas, mais uma vez, foram absurdas, como foram há 25 anos as polémicas sobre a Expo e como o foram as polémicas sobre o Euro 2004".

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