Pedro Nuno Santos foi ao palco do 24º Congresso do PS anunciar ao partido que está a construir “um projeto que junte convicção com responsabilidade”. O novo líder socialista não se cansou de repetir que cresceu e amadureceu, enfrentou os fantasmas da TAP e da ferrovia para se explicar e desfez os adversários à direita. No seu primeiro discurso como secretário-geral, Pedro Nuno disse ao que vem e prometeu “um futuro em que a esperança não é uma utopia, mas antes uma causa”..Pedro Nuno Santos começou por elogiar o legado dos últimos oito anos de governação e de António Costa (com quem esteve “desde a primeira hora”). “Credibilidade, competência, segurança. É isto que vai ficar para a história”, resumiu, garantindo que o costismo foi também um tempo de reformas estruturais, que demorarão alguns anos a dar frutos, e que foram “reformas silenciosas porque foram realizadas sob consenso”..Mas foi quando falou do seu próprio legado como ministro das Infraestruturas que levantou o véu do seu pensamento estratégico para o país. “As empresas públicas não estão condenadas a ser deficitárias”, declarou, depois de recordar como o Estado entrou para a TAP numa altura em que a gestão privada apresentava 200 milhões de resultados negativos e a deixou “a dar lucro em tempo muito antecipado em relação ao que estava previsto”. Mas a TAP, garantiu, não é caso único: a CP “pelo segundo ano consecutivo apresentará resultados positivos”..Se há quem possa usar este discurso para acenar com o medo de uma visão estatizante, o líder socialista não os deixa sem resposta: ”O Estado mínimo não funciona para a esmagadora maioria das pessoas. Só funciona para uma minoria absoluta, os privilegiados, os que não precisam dos serviços públicos para nada”, recorda..O “vazio” de Montenegro.Pedro Nuno Santos frisou ainda que na ferrovia está “em curso o maior investimento do país” nesta área nas últimas décadas, com a reabertura de linhas e a reativação das oficinas de Guifões e o lançamento do “maior concurso da história para comprar 117 comboios novos”..Há atrasos nas obras? “Se a oposição pode queixar de atrasos nas obras que existem de facto, é porque há obras em curso”, reage, atacando o legado de uma direita que desativou linhas e não fez obra. “Parar, recuar, desfazer é sempre muito mais fácil”, lançou..Apostado em apresentar-se como um fazedor, colou Luís Montenegro à herança dos tempos da troika e ao “vazio” da indecisão, na TAP, na localização do novo aeroporto e no TGV. Montenegro, acredita Pedro Nuno Santos, lidera um grupo de “antigos e ultrapassados velhos do Restelo” e representa “o vazio, o vazio de projeto, o vazio de liderança, vazio de de visão, o vazio de decisão”..E foi esse “vazio” do PSD que, em seu entender, abriu caminho à chegada de dois novos projetos políticos, que considera radicais. “A política tem horror ao vazio. Foi para ocupar o vazio do PSD que surgiram a IL e o Chega”, começou por dizer, antes de descrever a IL como um projeto que promove um “individualismo radical” sob uma capa de bom marketing político. “Por trás de todo aquele espalhafato esconde-se um projeto de alteração radical da sociedade”, afirmou..O Chega, acredita Pedro Nuno, “não tem qualquer projeto sério para o país”, embora defenda um liberalismo clássico no qual “não há SNS, não há direito do trabalho” e não há escola pública. Fora esse projeto liberal, o socialista só vê no partido de André Ventura uma “retórica exaltada que nunca resolveu nem resolverá qualquer problema”..Da direita Pedro Nuno Santos não vê mesmo qualquer solução para o país. “A direita é sempre igual. Quando começa a correr mal atira as culpa para a esquerda e no final quer que o Estado subsidie os privados”, disse, a propósito da crise na habitação na qual assacou culpas à Lei Cristas, sem, contudo, anunciar a intenção de reverter a legislação que liberalizou de forma profunda o mercado de arrendamento..No dia a seguir ao Tribunal de Contas ter divulgado uma análise à privatização da ANA feita por Pedro Passos Coelho que o TdC acusa de não ter acautelado o interesse público, Pedro Nuno Santos não poupou as privatizações feitas pela direita . “Privatizaram sem acautelar o interesse público”, disse, sem se comprometer, porém, com qualquer reversão ou tentativa de reganhar controlo público sobre algumas das áreas chave que foram privatizadas..Pedro Nuno Santos manteve, aliás, o mantra das contas certas, tentando contrapor essa forma de gestão do PS aos cortes feitos por PSD e CDS. O PS é, diz, “um partido para quem contas certas não significam cortes na certa” e que, respeitando as regras europeias, não deixa de tentar negociar alguma flexibilidade. “Nós batemo-nos em Bruxelas para cumprir aquilo com que nos tínhamos comprometido com os portugueses”, garantiu..Agora, Pedro Nuno quer “abrir um novo ciclo no país” que sirva para fazer o que está por fazer. “Nem tudo foi bem feito. Há ainda muito trabalho pela frente”, admitiu, defendendo que “o PS tem de saber ouvir o povo”, pondo no mesmo plano dessa escuta “trabalhadores e empresários”..As medidas que servirão para construir “o futuro com direitos e deveres”, que agora promete, ficarão para o discurso de encerramento, no domingo..margarida.davim@dn.pt