A ideia da reindustrialização do país já constava da moção setorial que Pedro Nuno Santos levou ao Congresso da Batalha.
A ideia da reindustrialização do país já constava da moção setorial que Pedro Nuno Santos levou ao Congresso da Batalha.Leonardo Negrão/Global Imagens

Pedro Nuno Santos afina discurso do PS sem desalinhar das contas certas

Novo líder parte da “obra feita” de Costa e centra discurso na saúde, educação, habitação e economia. Novidade é o destaque dado à reindustrialização do país.
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Uma mudança de paradigma na economia e um reforço dos serviços públicos, sem descurar as contas certas. Serão esses os pontos em que se vai estruturar a campanha do PS para as legislativas e o discurso que Pedro Nuno Santos fará no Congresso, este domingo, apontará já esse caminho.

Um dos socialistas que tem estado a trabalhar com Pedro Nuno Santos na estratégia para a campanha diz que a premissa do discurso do novo líder é a de fazer valer o legado de António Costa puxando pela “obra feita”, mas assinalando que é preciso “melhorar o que merece ser melhorado”.

Saúde, educação, habitação e economia são, segundo fontes do núcleo duro de Pedro Nuno Santos, as áreas em que o líder socialista se vai concentrar ao longo da campanha. Mesmo que o discurso que está a ser preparado para o encerramento do Congresso esteja a ser pensado mais como “um enunciado geral” do que já avançando muitas medidas concretas. Ainda que, com o texto a ser trabalhado até ao final, não esteja fora de hipótese que haja medidas para anunciar.

A reindustrialização do país

Uma das ideias fortes de Pedro Nuno Santos é a reindustrialização do país. A ideia não é nova: já constava da moção setorial que Pedro Nuno levou ao Congresso da Batalha e é essencial no pensamento estratégico do socialista.

“Pedro Nuno Santos é um fã das indústrias, mais do que das startup que estão na moda agora”, diz uma fonte próxima, explicando que a visão do líder socialista passa por ter o investimento público e as universidades do Estado a alavancar o investimento e o desenvolvimento de novas tecnologias no privado. Na altura do Congresso da Batalha, Pedro Nuno dava como exemplo a forma como o investimento público na NASA permitiu a empresas como a Google desenvolver tecnologia que hoje faz parte do Google Maps.

Agora, os pedronunistas dão outros exemplos. “Para o Pedro Nuno, a indústria naval é uma das que são muito importantes. Se for preciso o Estado ter novos patrulheiros, o que faz sentido é que sejam construídos em Portugal”. Outro exemplo: garantir que são essencialmente de produção nacional os componentes dos aviões da TAP (muitos já são feitos cá) ou que a instalação de uma fábrica em Portugal seja a contrapartida da compra de material circulante pela CP. “É um eixo central [do pensamento de Pedro Nuno Santos] a ideia de uma economia mais produtiva e transformadora com o Estado e as empresas públicas como alavanca do investimento privado”, diz outra fonte.

Pedro Nuno Santos também quer puxar pela ideia de elevar o salários médios, mas está fora de questão (como exigem o PCP e o BE) rever a legislação laboral para reforçar a contratação coletiva, repondo o princípio do tratamento mais favorável e acabando com a caducidade. “Tudo o que for feito será em sede de concertação social”, assegura-se no núcleo do líder socialista. Além disso, deverão ser dados sinais pelo Estado, quer através da continuação do aumento do salário mínimo nacional, quer através da melhoria dos salários da Administração Pública.

Mantra das contas certas é para manter

Ainda que não esteja definido em que moldes, Pedro Nuno Santos já deixou claro que pretende repor os tempos de serviço congelados no tempo da troika, incluindo o dos professores. Mas uma coisa é certa: essa reposição será feita de forma faseada e sem nunca pôr em causa as “contas certas”, uma frase que não sairá dos slogans socialistas.

“A ideia é tentar equilibrar as contas públicas, com a qualidade do serviço público”, defende um elemento próximo do líder, que acha que esse reforço no investimento público é essencial. “Uma das coisas que faz crescer a extrema-direita é a má qualidade dos serviços públicos e os ressentimentos que isso gera”, defende, explicando que o PS nunca porá em causa o que está estabelecido por Bruxelas em termos de finanças públicas. “Não precisamos é de ir além das regras europeias”.

Além de ter prometido repor faseadamente o tempo de serviço congelado aos professores, Pedro Nuno Santos já foi deixando no ar a ideia de que quer reforçar o SNS, sem ser concreto no que fará. Nunca esclareceu, por exemplo, se defende a dedicação exclusiva dos médicos ou se quer reforçar a capacidade dos hospitais públicos na realização de exames complementares de diagnóstico e não é ainda claro quando o fará. Para já, deixou apenas pistas vagas sobre como pretende “conseguir que o SNS torne desnecessário” o recurso a seguros de saúde, como fez numa entrevista ao Eco, ou falando na “internalização” de recursos, como adiantou em entrevista à TSF em novembro.

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