Pedro Nuno nem precisou de muitas armas contra o "caminho da paz" de Raimundo
Os últimos temas do debate entre Pedro Nuno Santos e Paulo Raimundo, que decorreu neste sábado na SIC, acentuaram o que já estava a ser um desaire para o secretário-geral do PCP, que desde os primeiros segundos esteve muito menos eficaz e convincente do que nos debates anteriores.
Depois de ter defendido um "caminho da paz" que "não é compatível com a corrida ao armamento", Raimundo foi instado pela moderadora Clara de Sousa a explicar como se enfrentaria a invasão da Ucrânia sem fornecer armas e equipamentos para travar as tropas russas. E pior ainda foi ouvir a reação do secretário-geral do PCP à referência que Pedro Nuno Santos fizera na véspera à morte numa prisão russa do opositor ao regime de Putin, Alexei Navalny, dizendo que se curvava perante a sua coragem. Sem surpresa, Raimundo limitou-se a dizer que Navalny "morreu em circunstâncias que estão por apurar", aparentando ter absoluta confiança nos presumíveis responsáveis pela sua morte para explicarem, sem sombra de dúvidas, as circunstâncias do óbito.
Enquanto Raimundo ia comparando a morte do líder da oposição russa, prisioneiro político do regime de Moscovo, com a do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, que morreu sob custódia do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras no aeroporto de Lisboa, Pedro Nuno Santos sentiu necessidade de vir em socorro do eventual futuro parceiro, recordando que, durante a geringonça, o PS conseguiu trabalhar com o PCP apesar daquilo que distancia os dois partidos no que toca a política externa. Pouco antes, o secretário-geral do PS reiterou que Portugal "não desiste da pertença à NATO", que continua a ser importante para a defesa dos seus membros, apesar de os países da União Europeia terem sido capazes de se entenderem no apoio à Ucrânia.
Mas logo no início, mesmo quando referiu os dois anos de maioria absoluta, com problemas no Serviço Nacional de Saúde, habitação e salários, a intervenção de Paulo Raimundo pautou-se pela escassez de energia para convencer quem quer que seja de que, "se alguém quer mudança para o país, a única opção é o voto necessário na CDU".
Por seu lado, Pedro Nuno Santos quase encolheu os ombros quando Clara de Sousa lhe perguntou se não se arrisca a esvaziar os potenciais parceiros de esquerda com apelos ao voto útil. "Apelo ao voto no PS. Desejo o melhor para o PCP, para o Bloco de Esquerda e para o Livre, mas quero que os portugueses votem no meu programa", disse o secretário-geral do PS, garantindo ter "as melhores respostas para os problemas do país" e para "derrotar a direita e a Aliança Democrática".
Enquanto Raimundo voltava a referir-se aos "cem anos de experiência acumulada no combate à direita, venha de onde vier e tenha a forma que tiver", elogiando "a grande coerência da CDU" e o "porto seguro" que os eleitores têm no PCP, Pedro Nuno Santos iniciou o mais incisivo ataque que fez ao interlocutor num debate de baixa intensidade, recordando que a Agenda para o Trabalho Digno não pôde contar com o voto dos comunistas.
Sem perder a fleuma sanjoanense, mesmo quando o secretário-geral do PCP o comparou ao presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, por fazer as perguntas "quanto é que custa?" ao ouvir propostas comunistas, Pedro Nuno Santos foi fazendo contas ao impacto orçamental dos aumentos de salários e de pensões, bem como programas de habitação, defendidos pelo interlocutor. "Não podemos fazer uma chuva de promessas que não são realizáveis", sentenciou, voltando a apresentar o argumento da redução da dívida pública.
O mesmo se passou na parte do debate dedicada ao Serviço Nacional de Saúde. Repetindo que "não há balas de prata" capazes de resolver de imediato todos os problemas - que, ao contrário da também eventual futura parceira Mariana Mortágua, Paulo Raimundo foi inábil em colar a quem participou na maior parte dos oito anos de governação socialista -, Pedro Nuno Santos advogou uma "relação de honestidade e transparência com os portugueses". E, ouvindo o líder comunista insistir em que a "questão fundamental é a falta de profissionais" no Serviço Nacional de Saúde, sem conseguir explicar muito bem como fixaria os existentes e recrutaria os necessários, regressou à necessidade de melhorias organizacionais.
"A esquerda tem de fazer esse debate", defendeu Pedro Nuno Santos, mesmo tendo o cuidado de fugir ao tema do regresso das parcerias público privadas - que Clara de Sousa recordou ter sido defendido para o Hospital de Loures pelo edil socialista, Ricardo Leão -, contrapondo que "o importante é que os governos deem autonomia às administrações hospitalares".