Carla Castro não aceitou lugar de quase impossível elegibilidade oferecido pela Comissão Executiva de Rui Rocha.
Carla Castro não aceitou lugar de quase impossível elegibilidade oferecido pela Comissão Executiva de Rui Rocha.Tiago Petinga / Lusa

Pacto para tirar Carla Castro das listas da AD desmentido por PSD e Iniciativa Liberal

Próximos da deputada acusam Rui Rocha de “chantagear” Luís Montenegro, excluindo acordo pós-eleitoral se a rival na disputa da liderança fosse deputada independente.
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A deputada da Iniciativa Liberal (IL) Carla Castro não regressará à Assembleia da República na próxima legislatura, decorrente das eleições de 10 de março, cumprindo a intenção, avançada pela própria quando ficou de fora das listas do seu partido, de suspender a atividade política, retomando as profissões de gestora e professora universitária. Após ter recusado o sétimo lugar por Lisboa (com hipóteses de passar a quinto), que era de quase impossível elegibilidade, oferecido pela Comissão Executiva de Rui Rocha, também está posta de parte a hipótese de integrar as listas da Aliança Democrática (AD), o que levou alguns dos seus apoiantes a acusar o presidente da IL de “fazer chantagem” a Luís Montenegro, dizendo ao líder social-democrata que o seu partido não estaria disponível para qualquer tipo de acordo pós-eleitoral que viabilizasse um futuro governo se Carla Castro fosse deputada independente. No entanto, essas alegações estão a ser desmentidas pelos dois partidos.

Contactada pelo DN, fonte oficial da IL “nega categoricamente qualquer contacto com o PSD sobre as suas listas e os seus candidatos”. E a Comissão Executiva dos liberais acrescenta que “desconhece qualquer negociação, mais antiga ou mais recente, entre o PSD distrital ou o PSD nacional e Carla Castro”. Algo que, segundo próximos da atual deputada, nunca chegou a acontecer.

Pelo lado do PSD, fonte da direção social-democrata desmentiu ao DN que tenha havido qualquer exigência desse tipo por parte da líder dos liberais. Admitindo que a eventual inclusão de Carla Castro nas listas da AD teria “vantagens e desvantagens”, nomeadamente no que toca ao apelo ao voto útil para a concentração de votos na coligação, que procura pôr termo a um ciclo de mais de oito anos de governação socialista. O mesmo responsável comenta que, de qualquer forma, a IL “nunca poderia aprovar ou deixar de aprovar um programa de governo só por causa da inclusão de uma deputada nas listas”.

Havendo quem defenda que um pacto de agressão é desnecessário devido ao claro pressuposto de que um convite de Luís Montenegro a Carla Castro seria encarado como “uma facada nas costas” à Iniciativa Liberal, que mesmo ficando de fora da coligação pré-eleitoral que juntará PSD, CDS-PP, PPM e independentes - que terá sido aprovada ontem, depois da hora de fecho da edição, pelos sociais-democratas e pelos centristas nos respetivos conselhos nacionais - pode ser essencial para garantir que o “bloco de direita”, que por enquanto todos dizem deixar de fora o Chega, tem mais deputados do que a soma de PS, Bloco de Esquerda, PCP (com ou sem regresso do PEV ao Parlamento) e Livre, com o PAN em posição mais equidistante.

De qualquer forma, entre os apoiantes de Carla Castro, que na convenção da IL de 21 e 22 de janeiro de 2023 obteve 44% dos votos na corrida à sucessão de João Cotrim Figueiredo na liderança do partido, mantém-se a convicção de que Rui Rocha fez saber a Luís Montenegro que pretendia contar com a atual deputada liberal entre os independentes que serão integrados nas listas de candidatos a deputados da AD.

Segundo esses membros e ex-membros da IL, a alegada exigência de Rui Rocha deve-se ao reconhecimento de que Carla Castro “levaria muito eleitorado” para a AD e pela falta de vontade de “a ter do outro lado da negociação” num entendimento pós-eleitoral. E as mesmas fontes defendem que o efeito fragilizador para o PSD da alegada “chantagem” leva a que os dois partidos prefiram “dar-lhe uma roupagem de pacto de não-agressão”. Algo que dizem começar a evidenciar-se em detalhes significantes, como a exclusão do PSD do grupo de partidos que praticam “linguagem socialista” - nos quais foram incluídos o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e o Chega - numa das mais recentes mensagens de propaganda eleitoral divulgadas pela IL.

Mesmo ficando fora das listas da AD, o partido liderado por Rui Rocha conta reforçar o grupo parlamentar, nomeadamente através da eleição de um deputado por Aveiro - onde o cabeça de lista, Mário Amorim Lopes, tenta ultrapassar as objeções dos núcleos locais à escolha de alguém a quem chegaram a chamar “alienígena ao distrito” - ou da obtenção de um quinto deputado por Lisboa e eventualmente do terceiro pelo Porto. Mas também existe o receio de que a concentração de votos nas listas da AD, com Luís Montenegro a afirmar que não será primeiro-ministro se não tiver mais votos do que o PS, possa levar à perda de mandatos.

Certo é que continua a haver desfiliações de membros da IL. A mais recente foi a do ex-conselheiro nacional José Cardoso, que foi candidato à liderança na convenção em que Rui Rocha se tornou presidente do partido.

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