O “elo fraco” do Governo que “está a criar problemas” e “instabilidade”
A 14 de junho, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, “deu a mão” à ministra da Saúde e “ensaiou” a justificação que quatro dias depois, a 18 de junho, era suposto Ana Paula Martins dar para corrigir, em parte, o que tinha dito a 12 de junho sobre as administrações dos hospitais. Mas, num “desacerto”, referem fontes social-democratas, a titular da pasta da Saúde acabou por contradizer o colega de governo.
“Obviamente que o Governo se revê nas declarações” de Ana Paula Martins, disse o ministro da Presidência. E ao “obviamente” acrescentou “a importância de valorizar os profissionais, a gestão e as direções” desvalorizando as críticas às “lideranças fracas” das administrações hospitalares que, tentou esclarecer, não são sobre “várias administrações hospitalares, mas sobre uma, nomeadamente a da Unidade Local de Saúde (ULS) de Viseu Dão-Lafões”.
A 12 de junho, Ana Paula Martins tinha afirmado que as lideranças em saúde são “fracas” e que “tem de haver escrutínio, tem de haver avaliação de desempenho para os gestores (…). Nós precisamos de ter à frente dos hospitais e à frente dos serviços lideranças que sejam mobilizadoras”.
Seis dias mais tarde, a 18 de junho, veio dizer que tinha sido “mal-interpretada”, mas, e ao contrário do argumento de Leitão Amaro, manteve no alvo as lideranças. “Naturalmente, terei de ser suficientemente humilde para perceber que não foi assim interpretado, mas foi exatamente o objetivo de, enquanto responsável da saúde, dizer que temos mesmo de ter atenção a quem escolhemos para liderar as nossas equipas”, afirmou.
E sobre o caso da Unidade Local de Saúde (ULS) de Viseu Dão-Lafões? A ministra disse desconhecer as razões da demissão do conselho de administração que alegou “quebra de confiança política”.
Leitão Amaro, pelo contrário, a 14 de junho, justificou que “a senhora ministra até esteve quatro horas em reunião [com o conselho de administração], co-desenhando um plano” para que a situação [o encerramento da urgência pediátrica] se resolvesse porque essa decisão foi tomada “à revelia do Governo”.
O “desacerto”, que “por sorte” - diz fonte do PSD ao DN - passou “despercebido”, acabou “diluído” no anúncio de que o Governo iria criar uma comissão para auditar os conselhos de administração dos hospitais e na nomeação de Gandra D’Almeida, escolhido a 22 de maio para diretor do SNS.
Este episódio “interno”, após o da troca de acusações e alegações com Fernando Araújo, que se demitiu da Direção do SNS, somou-se a “outros” públicos, lamenta fonte governamental, sem “qualquer necessidade”.
Acresce, sustenta outra fonte, um plano de emergência e transformação para a Saúde, apresentado no final de maio, que “não parece, bem pelo contrário, resolver os problemas”; as exigências “justas” de médicos e enfermeiros que continuam sem resposta [a próxima prioridade de Montenegro são os militares]; a “instabilidade criada” no INEM; e até a “falta” de colaboração da Defesa - a “aparente recusa” de prestação de cuidados a civis [o apoio às urgências em Lisboa] no Hospital da Estrela.
Na sexta-feira, Leitão Amaro veio pela segunda vez “dar a mão” à ministra. O argumento? O que se está a passar no INEM é culpa do Governo PS que deixou uma situação “dramática”.
A fonte do DN lembra que “num sector que precisa de soluções, o que surgem são problemas. [ A ministra] É um elo fraco”. E acrescenta que Ana Paula Martins também está a ser “vítima de um leque vasto de prioridades” noutras áreas da governação. “O que temos até agora? Anúncios de comissões, auditorias, entradas e saídas de dirigentes e promessas”, resume fonte social-democrata.
Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, percebe as dificuldades iniciais, mas esperava da ministra “uma abordagem mais positiva” dado que tem “havido muitos problemas”, mas, adianta, “as coisas a partir de setembro/outubro têm que começar a normalizar e o ministério da Saúde começar a apresentar soluções concretas”.
Estas leituras coincidem com as críticas da líder parlamentar do PCP, que para além de alertar para o “agravar” da situação, para a “falta de profissionais, a desvalorização das carreiras, os baixos salários, para a falta das condições de trabalho”, também concorda com a ideia de que “o ministério da Saúde está a criar problemas”.
“É o que está a acontecer”, diz igualmente Marisa Matias, do BE, que não encontra “soluções”, por exemplo, no plano de emergência, mas, sim “um reforço da privatização” do SNS.
“O governo não assumiu qualquer compromisso para revolver estes problemas. Anúncios há muitos, mas só isso”, reforça Paula Santos.
“Houve uma identificação dos problemas, mas não há uma única proposta efetiva para os resolver”, acrescenta Marisa Matias.