Nuno Melo quer três porta-vozes e organiza as "Conversas do Caldas"

Líder centrista garante que o seu mandato em Bruxelas é "fundamental para a afirmação do partido", já que não tem o palco parlamentar. E promete mobilizar os melhores quadros.

O novo líder do CDS quer preparar o mais rápido possível o partido para o desafio de recuperar o lugar que perdeu nas últimas eleições legislativas e reconquistar mandatos na Assembleia da República. Nuno Melo bate-se por um "partido mais ágil e assente em quadros", capaz de ter visibilidade pública, mesmo sem o palco parlamentar.

Vai propor, por isso, no primeiro Conselho Nacional da sua era, que seja convocado um congresso estatutário para que sejam aprovados, entre outras coisas, três porta-vozes do partido, um dos quais para a área económica. Neste momento, os Estatutos apenas permitem um porta-voz e do congresso eletivo do fim de semana passado saiu para essa função Isabel Galriça Neto, antiga deputada centrista.

Hoje na primeira reunião da nova Comissão Executiva do CDS, Nuno Melo vai avançar com a sua proposta para aumentar o número de vozes que poderão falar pelo partido em áreas setoriais.

"O CDS foi sempre eficaz quando foi reconhecido pelos seus quadros capazes. Isso ajudou à sua credibilidade e é isso que quero restituir ao partido", afirma ao DN.

É nesse sentido que diz ter criado grupos programáticos, com ligação ao gabinete de estudos do CDS, que terá atividade permanente, e que "será coordenado por pessoas muito competentes". E dá exemplos: na agricultura Luís Mira, secretário-geral da CAP; na Cultura, Isabel Freitas, professora universitária; na Justiça, José Cruz Vilaça, que foi presidente do Tribunal de Primeira Instância das Comunidades Europeias; e nas Finanças Paulo Núncio, antigo secretário de Estado daquela pasta no governo de coligação PSD/CDS.

"É através da credibilidade destas pessoas que podemos reconquistar a dos eleitores", afirma o presidente do CDS.

Vão nascer também as "Conversas do Caldas", conferências organizadas na sede do partido, no Largo do Caldas, e a partir delas discutir a política e fazer oposição ao governo.

A primeira conversa está já a ser organizada por Paulo Núncio e diz respeito ao aumento da inflação. "Este é um assunto muito sério porque vai ter um impacto muito grande na gestão da dívida pública, das empresas e das famílias", sublinha o também eurodeputado centrista que não encontra nas previsões do governo até 2026 nada sobre este impacto.

Nuno Melo aponta para "os valores recorde" da dívida pública, que já atingem os 177 mil milhões de euros/ano e a despesa pública prevista para 2022 de cerca de 110 mil milhões de euros. "Como é que isto é sustentável. É preciso discutir o assunto e nós vamos fazê-lo". A que acrescenta: "Temos a maior carga tributária de sempre e é por causa deste modelo económico do governo, que nos coloca já como o sétimo país mais pobre a UE - já fomos ultrapassados pela Polónia e a Hungria".

O próprio Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é desenhado, diz, para a dimensão pública e não para o investimento nos privados, que "são quem gera riqueza".

"Sacrifício pessoal e da família"

Nuno Melo, que foi eleito o passado fim de semana, em Guimarães - por 75% dos votos dos delegados ao 29.º congresso do CDS -, vai ter de conciliar o seu mandato de eurodeputado como de presidente do CDS. Mas considera o seu cargo em Bruxelas uma mais-valia. "O mandato no Parlamento Europeu é fundamental para a afirmação do CDS", assegura, já que é o único palco parlamentar que tem no momento.

Isto obrigará a "viagens constantes" entre Bruxelas, Lisboa e Porto (onde reside) e será "um sacrifício pessoal e familiar", que está "completamente disposto a fazer".

A ajudá-lo nesta tarefa de gerir o partido, Nuno Melo terá sete vice-presidentes, entre os quais Paulo Núncio, Telmo Correia, Diogo Moura (vereador na Câmara Municipal de Lisboa) e Ana Clara Birrento, que foi candidata ao município de Setúbal nas autárquicas de 2017, a que se juntam Álvaro Castello-Branco, Varandas Fernandes, Maria Luísa Aldim.

Pedro Morais Soares voltará a ocupar o lugar de secretário-geral e a médica Isabel Galriça Neto será a porta-voz do partido. Na coordenação autárquica ficou Mário Araújo e Silva. Como vogais da comissão executiva, órgão mais restrito da direção, Nuno Melo escolheu António Marinho, Catarina Araújo, Duarte Nuno Correia, Durval Tiago Ferreira e Francisco Kreye.

paulasa@dn.pt

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