"Não se pode lutar pela sobrevivência do CDS quando se trabalha na sua destruição"

Adolfo Mesquita Nunes pediu um congresso antecipado, Filipe Lobo dÁvila, primeiro vice-presidente, bateu com a porta. José Ribeiro e Castro, antigo presidente do CDS, diz que a direção tem sido alvo de "guerrilha".

"Não se pode lutar pela sobrevivência do CDS quando se trabalha para a sua destruição". José Ribeiro e Castro, antigo presidente dos centristas, não poupa críticas àqueles que estão a "estão a lançar o partido numa luta interna inoportuna", que fragiliza a posição do CDS. O antigo líder - que apoiou Francisco Rodrigues dos Santos no último congresso - diz que a direção "tem sido alvo de uma guerrilha permanente" que "faz mal ao partido". E dispara: "Há movimentações que parecem articuladas com interesses de outras forças políticas".

Nos últimos dias, o CDS agitou-se, primeiro com o antigo vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes a pedir um congresso extraordinário. Ontem foi a vez de Filipe Lobo d"Ávila - primeiro vice-presidente dos centristas - lançar nova acha para a fogueira, demitindo-se da direção. A saída tem especial significado por se tratar do principal apoio que o atual líder, Francisco Rodrigues dos Santos, conseguiu congregar no último congresso - Lobo d´Ávila é o líder do Juntos pelo Futuro, que recolheu 14,5% dos votos em congresso. Dois vogais da comissão executiva, que pertencem ao mesmo grupo, também deixaram a direção.

Filipe Lobo d"Ávila sai com estrondo. Na carta dirigida a Francisco Rodrigues dos Santos, a que o DN teve acesso, afirma que é a própria sobrevivência do partido que está em risco. "A mensagem não passa. As pessoas não nos ouvem. O CDS não é considerado. Os indicadores são trágicos. A projeção externa ou não existe ou não é boa", escreve o dirigente demissionário, para concluir assim: "Por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca".

Lobo d"Ávila não atribui culpas diretas a Francisco Rodrigues dos Santos e diz, aliás, que o atual presidente enfrentou condições particularmente difíceis. A começar pelo contexto da pandemia, e prosseguindo com o facto de o líder não estar no Parlamento, com as "enormes restrições financeiras que vinham inexplicavelmente do passado" e com "um clima de difícil articulação com o grupo parlamentar".

Com as sondagens a porem o partido em mínimos históricos, à beira da irrelevância política (0,8% da intenção de voto para as legislativas, segundo a mais recente sondagem da Aximage para o DN/JN e TSF, publicada esta terça-feira), Adolfo Mesquita Nunes - antigo secretário de Estado do Turismo e vice-presidente do partido na direção de Assunção Cristas - escreveu um artigo a defender a convocação de um congresso antecipado. "A crise de sobrevivência que o CDS hoje atravessa não conseguirá ser resolvida com esta direção. Daqui a um ano, será tarde demais" escreveu no texto publicado no jornal online Observador. O CDS "tem de tomar uma decisão: quer mudar de caminho enquanto é tempo, e portanto mudar de direção; ou quer seguir o caminho até aqui, mantendo tudo como está?", questiona Mesquita Nunes, que propõe realização de um Conselho Nacional urgente que discuta se deve devolver a palavra aos militantes através de um congresso eletivo, se necessário em formato digital como há dias a Democracia Cristã alemã organizou". Na resposta, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu, em entrevista à rádio Observador, que "não se convocam [eleições] por dá cá aquela palha". Mas desafiou os críticos a arranjar as assinaturas necessárias.

Mesquita Nunes não disse claramente que será candidato à liderança, mas o desafio deixa-lhe pouco espaço para não avançar. No CDS acredita-se, aliás, que o antigo vice-presidente do partido fará esse anúncio em breve. E, nesse cenário, será o candidato congregador dos centristas críticos da atual direção. Mas, mesmo na circunstância de não avançar, os dados estão lançados para convocar um novo congresso que, a concretizar-se, não ficará sem disputa. Crítico de primeira hora de Francisco Rodrigues dos Santos, João Gonçalves Pereira, presidente da distrital de Lisboa, vereador na capital e deputado, garante que se chegará à frente. "Se não houver mais ninguém terei de ser consequente", diz ao DN, defendendo que o CDS "precisa de ter um rumo". Ontem, em entrevista ao Público, Nuno Melo admitiu também uma candidatura, mas apenas se o congresso se realizar em 2022, no final do mandato de Francisco Rodrigues dos Santos.

Atual direção "deve cumprir mandato"

Para Ribeiro e Castro a atual direção do CDS "deve poder cumprir o seu mandato" - "as pessoas gostam tanto de dizer que são institucionalistas, é só fazer o que dizem". O antigo líder do CDS - que foi também alvo de uma fortíssima contestação interna - lembra "que não é a primeira vez que o partido se confronta com este tipo de problemas, que acontece de forma recorrente". E é mau para o CDS: "Projeta a imagem de um saco de gatos, pouco credível, pouco sólido. O partido não pode estar mobilizado se está entretido consigo próprio". "Algumas das pessoas que estão hoje a movimentar-se têm enormes responsabilidades no resultado desastroso do partido nas legislativas. Tivemos um vice-presidente que se foi embora a poucos meses da eleição, que deixou a presidente do partido sozinha", critica Ribeiro e Castro, numa referência a Mesquita Nunes.

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