Montenegro anuncia apoio de 75ME para Timor-Leste e visita ao país em junho de 2025
O primeiro-ministro anunciou esta segunda-feira que o acordo de cooperação assinado entre Timor-Leste e Portugal para os próximos quatro anos prevê um apoio financeiro de 75 milhões de euros e que visitará o país em junho de 2025.
O anúncio foi feito por Luís Montenegro num discurso após um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, na residência de São Bento, no qual disse que este apoio representa um reforço de cinco milhões relativamente ao quadro de apoio anterior e tem como objetivo, entre outros, ajudar a desenvolver a cooperação entre os dois países em matéria de educação e ensino da língua portuguesa.
"É um reforço que Portugal desenvolve para ajudar Timor-Leste em várias conquistas que edificam um Estado novo, moderno, eficiente, no que isso significa de serviço prestado às pessoas", frisou Montenegro.
O primeiro-ministro anunciou também que em junho de 2025 fará uma visita oficial a Timor-Leste, a convite de Xanana Gusmão, salientando que "só mesmo se algum acontecimento imprevisto o impossibilitar" essa deslocação não acontecerá.
Luís Montenegro afirmou que este encontro e os acordos assinados com Timor-Leste espelham "a relação inquebrantável de amizade, de solidariedade, de cooperação" entre os dois países.
Lembrando o processo de luta pela independência timorense, o primeiro-ministro salientou que o caminho que foi percorrido até 1999 - ano da independência - foi de "demonstração de que as causas grandes que mobilizam os homens e os povos são imortais e são o maior serviço que nós podemos prestar à humanidade".
O primeiro-ministro disse não lhe "sair da memória" as imagens do massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste, a 12 de novembro de 1991, e disse ter sido "sentido em Portugal como se estivéssemos lá".
"Tive uma juventude que acompanhou toda a luta que o povo timorense, muitas vezes comandado pela sua coragem e dos seus companheiros contra todas as adversidades, travou, é de facto emocionante poder tê-lo aqui, poder realizar esta reunião de trabalho que acabou de ser materializada nos acordos que foram assinados", acrescentou.
Montenegro agradeceu ainda ao Governo timorense pelo apoio financeiro de 2,5 milhões de dólares disponibilizado para o combate ao incêndio de grandes dimensões que atingiu a Madeira este ano.
"É de facto impactante, porque significa que mesmo à distância estiveram ao nosso lado naquele momento", salientou.
Foi assinado hoje o Programa Estratégico de Cooperação para o período 2024-2028 e mais dois acordos relativos a reabilitação de património e infraestruturas.
O novo Programa Estratégico de Cooperação para o período 2024-2028 terá cinco áreas prioritárias, nomeadamente Desenvolvimento Humano, Estado de Direito e Boa Governação, Administração Pública, Finanças Públicas e Economia, Juventude e Emprego e Oceanos Sustentabilidade e Infraestruturas.
Xanana Gusmão: Cooperação com Portugal é fundamental para o bem-estar dos timorenses.
Já o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, destacou a cooperação com Portugal, a qual, salientou, vai permitir que no seu país se possa trabalhar para o bem estar do povo timorense.
"Precisamos imenso (da cooperação). Somos ainda um país novo. Temos muitas dificuldades. Muitos obstáculos. Muitos desafios e contamos com a pronta solidariedade de Portugal (...) para permitir que no governo, ou nas instituições do Estado, possamos trabalhar para o bem-estar do povo timorense, para o bem-estar, criação de condições para as crianças timorenses, os jovens timorenses", afirmou.
Xanana Gusmão destacou que o apoio de Portugal é importante "sobretudo na consolidação da construção do Estado" timorense.
"É um processo que estamos ainda a tentar consolidar. E claro, esta formação toda que vai ajudar Timor a dar aos jovens timorenses. Vai permitir também que tenhamos uma segurança já na construção da nação, através de uma economia sustentável", acrescentou.
O líder histórico timorense evocou ainda a situação no Saara Ocidental na declaração que fez aos jornalistas após a assinatura de três acordos de cooperação com Portugal, referindo-se à importância do apoio português para a realização do referendo que abriu as portas à independência do seu país.
Segundo Xanana Gusmão, "sem o esforço, o amor, o carinho e a solidariedade de todo o povo português, das organizações da sociedade não teríamos conseguido" o referendo.
"Hoje em dia, o Saara está à espera há 32 anos e não consegue fazer nada", frisou, adiantando: "Estamos juntos nessa luta para permitir que o governo saarauí se sinta como os timorenses se sentiram desde há 25 anos para cá", evocando o referendo que abriu as portas à independência do seu país em 1999.
O Saara Ocidental é palco de um conflito de quase 50 anos com os independentistas da Frente Polisário, apoiados por Argel, que contestam o plano de autonomia proposto por Rabat em 2007 e exigem o cumprimento da resolução das Nações Unidas, datada de 1991, em que é exigida a realização de um referendo de autodeterminação na antiga colónia espanhola, anexada por Marrocos em 1975.