Maria João Avillez percorreu a vida de Mário Soares no livro-entrevista.
Maria João Avillez percorreu a vida de Mário Soares no livro-entrevista.Arquivo DN

Maria João Avillez: “Todos os momentos são bons para lembrar Mário Soares”

Autora de A História Contada com Maria João Avillez, que será lançada esta segunda-feira, gostaria sobretudo que a obra fosse lida pelos mais jovens.
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O lançamento de A História Contada com Maria João Avillez, que vai decorrer esta segunda-feira, às 18.30, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, é visto pela jornalista como uma excelente oportunidade para recordar, ou descobrir, o percurso e pensamento político do homem que fundou o PS e, mais tarde, foi primeiro-ministro e Presidente da República. “Todos os momentos são bons para lembrar Mário Soares. Este, apesar de tudo, talvez seja um pouco melhor”, diz Maria João Avillez, acerca da reedição, em dois volumes, da entrevista biográfica que fez ao estadista, que morreu em 2017.

Maria João Avillez realça que não o diz devido à conjuntura que se vive em Portugal, recusando que exista uma crise política semelhante às muitas que o seu entrevistado enfrentou. “Basta que o Orçamento seja aprovado e não há crise nenhuma”, sustenta, deixando claro que se refere à importância da sua figura. De tal forma que, quando o DN lhe pergunta qual dos políticos no ativo sairia mais beneficiado de aprender as lições de Mário Soares, não hesita na resposta: “Muito sinceramente, todos. Até pode pôr em maiúsculas.”

Quanto aos leitores que gostaria de conquistar para os dois livros, integrados na coleção “Obras de Mário Soares”, admite que o que mais gostava - “seria até um sonho meu”, diz - era que fossem lidos por pessoas de 20 e 30 anos.

“Sei que são dois volumes, que podem impressionar, que se pode achar que é muita coisa e que pode ser entediante, mas de qualquer maneira está aqui uma trajetória de vida que em cada etapa tem muito interesse, fornece informação sobre comportamentos, atitudes e épocas da história recente da vida política, social, económica e cultural portuguesas”, diz, desejando ainda que aqueles que já conhecem possam regressar às suas páginas. “Este é um livro para ser lido e relido.”

Convicta de que, ao contrário das dúvidas que por vezes se levantam quanto ao conhecimento das ideias de Sá Carneiro no PSD, toda a gente no PS sabe o que Soares era, Maria João Avillez acrescenta que o entrevistado, “além de ser um social-democrata, também “foi um grande combatente pela liberdade, antes e depois do 25 de Abril, e foi um não-desistente. 
Os dois tomos do livro-entrevista acompanham uma vida “que não foi só vitórias e facilidades”, incluindo derrotas eleitorais e internas, como quando se autossuspendeu de secretário-geral do PS por não aceitar o apoio à recandidatura presidencial de Ramalho Eanes. “Isso compõe um mosaico que torna muito interessante a sua vida ser melhor conhecida. Mas o PS sabe quem ele é: foi um grande social-democrata e foi sempre a social-democracia que ele perfilhou e aplicou.”

Esta reedição inclui um estudo de David Castaño, em que o historiador - que teve acesso aos arquivos da Fundação Mário Soares e Maria Barroso - chama a atenção para momentos em que o antigo Presidente da República moderou o tom das suas respostas antes da publicação original da longa entrevista biográfica. Também salta à vista que Soares não raras vezes punha em causa as perguntas, mas Maria João Avillez ressalva que, apesar de se tratar de um entrevistado “muito combativo”, nunca houve falta de “amabilidade e boa educação”. E afirma, mesmo não lhe cabendo gabar o seu trabalho, “os livros talvez não sejam maus porque houve justamente essa vivacidade e, por vezes, essa combatividade”.

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Dois volumes agora reeditados abrangem a trajetória de vida do antigo Presidente da República.

“Era uma pessoa que se queria ter em nossa casa porque era muito interessante a conversar e um grande contador de histórias. Era muito engraçado, muito bom observador, uma pessoa de riso fácil. Tenho muitas saudades dele”, diz ao DN a jornalista, que nos primeiros anos do regime democrático conheceu de perto Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Diogo Freitas do Amaral.

Daquele que chegou a mais altos cargos recorda um homem que adorava a vida: “Tanto podia gostar de uma coisa tão simples quanto um banho de mar, ou de entrar numa livraria, como do grande combate político. A vida para ele não era só a política, de maneira nenhuma. Era a sua família, que era importantíssima para ele, as suas casas, os seus quadros e os seus amigos.”

O lançamento dos dois tomos de A História Contada com Maria João Avillez, com o primeiro dedicado à Ditadura e Revolução e o segundo à Democracia - O Presidente; será hoje, às 18.30, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, sendo apresentando por Teresa Patrício Gouveia.

Os dois livros, que trazem aos leitores as respostas do fundador do PS que se tornou primeiro-ministro e Presidente da República às perguntas de Maria João Avillez, constituem o terceiro volume da coleção “Obras de Mário Soares”, editada pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda e coordenada por José Manuel dos Santos, um dos assessores e colaboradores mais próximos de Soares.

A coleção, iniciada com As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga e Portugal Amordaçado, implicou a investigação de mais de dois milhões de documentos do arquivo de Mário Soares, incluindo muitos inéditos.

“Este vasto espólio tem sido estudado, transcrito e anotado, dando-se a conhecer, nesta coleção, pela primeira vez, toda a obra escrita e o pensamento do político e intelectual Mário Soares, figura fundamental da nossa História Contemporânea, cujos testemunhos são uma fonte primária, insubstituível e essencial da historiografia portuguesa, mas também europeia e mundial recentes”, defendem os editores.

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