No debate desta segunda-feira para as eleições presidenciais, na TVI, entre João Ferreira e Marcelo Rebelo de Sousa, o recandidato a Presidente da República revelou que o primeiro-ministro mantém a confiança na ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, apesar dos desenvolvimentos no caso do currículo do procurador José Guerra..Marcelo lembrou a demissão do diretor-geral da Política de Justiça -que assumiu não ter responsabilidade na alteração do currículo de José Guerra, numa carta que foi retirada do site do Ministério da Justiça - e o facto de a ministra ter assumido o erros e a correção dos dados junto de Bruxelas..Mas afirmou ter recebido um telefonema de António Costa quando ia para o debate que lhe disse que "depois de tudo isto, ia emitir uma nota a reafirmar a confiança na ministra". O Presidente, lembrou, "não pode exonerar ministros sem ser por proposta do primeiro-ministro"..João Ferreira deixou apenas a nota de que se tratou de "uma notória trapalhada, desnecessária", mas também não pediu a demissão de Francisca Van Dunem..Citaçãocitacao"O Presidente não pode exonerar ministros sem ser por proposta do primeiro-ministro".O debate foi menos soft do que tinha acontecido com Marisa Matias. No confronto com João Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa teve de responder à acusação de falta de imparcialidade no seu mandato de cinco anos em Belém e de se ter colado à direita. O recandidato a Belém respondeu com o facto de vir dessa direita, mas ter coabitado com um governo socialista, apoiado por partidos de esquerda, em particular pelo PCP.."Em momentos chave em que era importante valorizar trabalho e trabalhadores, esse sinal não aconteceu" e "quando importava dar sinal em defesa dos micro e pequenos empresários, esse sinal não aconteceu", frisou João Ferreira..Marcelo socorreu-se de todos os argumentos para provar a sua independência, incluindo a de comentador na TVI, onde tantas vezes atacou o próprio PSD, partido que liderou. "Esta casa conhece a minha independência"..Citaçãocitacao"Em momentos chave em que era importante valorizar trabalho e trabalhadores, esse sinal não aconteceu".O Presidente/candidato defendeu que em Belém foi um fator de estabilidade e que as suas intervenções foram "estabilizadoras evitando crises, superando crises e contribuindo para evitar crises". E como já tinha dito no primeiro debate das presidenciais, em que se confrontou com Marisa Matias: "Esta legislatura tem de chegar até ao fim". O que não o impediu de afirmar que a "direita tem todo o direito de se reorganizar para concorrer "forte" às eleições de 2023. Porque "um sistema político manco, coxo, é um sistema político onde entram radicalismos populistas"..Marcelo voltou a desmontar a ideia de que será possível usar o poder de dissolução do Parlamento, a chamada "bomba atómica", já que "não é uma pressão de ar" e "tem efeitos colaterais", pelo que tudo fará para não a usar. Prometi assim ser um fator de estabilidade mesmo num segundo mandato, que habitualmente é mais acutilante e interventivo..João Ferreira esteve muito assertivo durante o debate em que os dois estiveram de pé. E voltou a criticar o excesso de estados de emergência - que o seu partido também rejeitou no Parlamento - com a ideia de que impediram de tomar medidas necessárias de reforço do Serviço Nacional de Saúde e de proteção do trabalho, além da mitigação dos apoios sociais aos trabalhadores e às micro e pequenas empresas..Marcelo trazia uma cartada para jogar. Defendeu a mais-valia dos estados de emergência para tomar as medidas com um chapéu constitucional e avançou coma defesa de um prolongamento das moratórias bancárias para as empresas para um período de pagamento de três a quatro anos, ao contrário dos seis meses a um ano como estão previstas agora. E afastou a possibilidade de um novo confinamento geral, apesar de só no dia 12 de janeiro ter um encontro com os especialistas de saúde pública..João Ferreira contra-atacou com a acusação de que não defende o Serviço Nacional de Saúde e protege as confederações patronais, ao promulgar a legislação laboral. Deu o exemplo do salário mínimo nacional, cujos 635 euros foram considerados razoáveis pelo Presidente da República..Marcelo aproveitou para colar o opositor ao partido que o apoio, o PCP. "É preciso um Presidente que não seja de fação, que não seja um porta-voz de um partido, que seja de estabilidade e compromisso. Não há uns contra outros". Na legislação laboral, disse ter agido segundo a sua "consciência" e do salário mínimo nacional fixado este ano, e que ficou aquém do defendido pelo PCP, disse que "não é o ideal mas o possível"..Citaçãocitacao "É preciso um Presidente que não seja de fação. que não seja um porta voz de um partido, que seja de estabilidade e compromisso. Não há uns contra outros".E mais uma vez tinha um trunfo que jogou no momento, Os cinco orçamentos de Estado aprovados com os votos do PCP também tinham muito do que o partido não concordava. "O possível é muitas vezes diferente do ótimo"..Nas perguntas cruzadas entre candidatos, João Ferreira aproveitou para ir a dois pontos talvez mais frágeis do mandato de Marcelo, a da proteção dos jovens e da igualdade entre homens e mulheres. "O que fez ao longo do mandato para tornar isto realidade?", questionou. Marcelo garantiu que tanto num caso como no outro teve todo o empenho..Já Marcelo questionou o comunista sobre quais os grandes desafios da Presidência Portuguesa da União Europeia. João Ferreira disse estar preocupado com a reforma da Política Agrícola Comum e a eventual diminuição do orçamento da PAC. Defendeu também que é fundamental que no quadro financeiro plurianual e no plano de recuperação e resiliência defende que se "alinhe a utilização de um e de outro instrumentos com as prioridades do país e não com as determinadas a partir de Bruxelas".Inicialmente, RTP, SIC e TVI apenas tinham previstos debates entre seis candidatos - Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, Marisa Matias, João Ferreira, André Ventura e Tiago Mayan -, mas a aceitação da candidatura de Vitorino Silva pelo Tribunal Constitucional levou a televisão pública e o Porto Canal a proporem novos frente a frente para incluírem o antigo autarca do PS e fundador do partido RIR..Na terça-feira, 5 de janeiro, a RTP1 conta com o debate entre João Ferreira e Ana Gomes (21:00), enquanto a SIC Notícias transmite o debate André Ventura - Tiago Mayan, seguindo-se na RTP3, às 22:45, o confronto entre Vitorino Silva e Marisa Matias..Dia 6 de janeiro, decorrerão os debates Marcelo Rebelo de Sousa - André Ventura (21:00, SIC), João Ferreira - Tiago Mayan (TVI24, 22:00) e Vitorino Silva - Ana Gomes (22:45, RTP3)..No da 7 de janeiro, a SIC transmite o frente a frente de Marisa Matias - André Ventura, e na TVI24, uma hora mais tarde, decorre o debate Ana Gomes - Tiago Mayan. Na RTP3, às 22:45, será a vez de Vitorino Silva debater com Marcelo Rebelo de Sousa..A 8 de janeiro, o debate Ana Gomes - André Ventura decorre pelas 21:00, na TVI, enquanto o frente a frente Marisa Matias - João Ferreira é emitido a partir das 21:30 na RTP. No mesmo dia, pelas 22:45, será o debate entre Vitorino Silva e Tiago Mayan, na RTP3..A 9 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa defronta Ana Gomes na RTP1 (21:00) e Marisa Matias debaterá com Tiago Mayan, na SIC Notícias (22:00), com este primeiro ciclo a encerrar com o frente-a-frente entre Vitorino Silva e João Ferreira, às 22:45, na RTP3..No dia 12 de janeiro, a RTP transmite um debate com todos os candidatos, às 22:00..O Porto Canal anunciou, entretanto, já ter agendado mais cinco debates: Vitorino Silva - Marisa Matias (17 de janeiro); Vitorino Silva - André Ventura (dia 18); Vitorino Silva - Marcelo Rebelo Sousa (20 de janeiro); Vitorino Silva - Ana Gomes (dia 21) e Vitorino Silva - Tiago Mayan (22 de janeiro).