Marcelo considera caso do procurador um "desleixo lamentável" e Marisa Matias "situação grave"

No primeiro frente-a-frente televisivo, na RTP1, para as eleições presidenciais, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Marisa Matias, os dois candidatos a Belém criticaram fortemente o caso do currículo com dados falsos de José Guerra.
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Começaram de uma maneira cordial o primeiro debate televisivo, na RTP, para as presidenciais. Marcelo Rebelo de Sousa e Marisa Matias criticaram fortemente o caso que envolve o José Guerra e informações falsas no seu currículo que serviu de base para concorrer a procurador europeu .

O recandidato a Belém garantiu não ter ouvido as explicações da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, sobre o assunto, momentos antes na RTP, pelo que disse esperar mais informações, mas com os dados que foram tornados públicos deu o veredicto: "Há aqui um desleixo que é lamentável".

Marisa Matias secundou essa interpretação: "É uma situação obviamente grave. Não consigo encontrar razão para mentir em currículos. É preciso exigir mais esclarecimentos".

A SIC e o Expresso noticiaram que, numa carta enviada para a União Europeia (UE), o executivo apresenta dados falsos sobre o magistrado preferido do Governo para procurador europeu, José Guerra, depois de um comité de peritos ter considerado Ana Carla Almeida a melhor candidata para o cargo.

Na carta, a que os dois órgãos tiveram acesso, José Guerra é identificado com a categoria de "procurador-geral-adjunto", que não tem, sendo apenas procurador, e como tendo tido uma participação "de liderança investigatória e acusatória" no processo UGT, o que também não é verdade, porque foi o magistrado escolhido pelo Ministério Público para fazer o julgamento e não a acusação. O que foi reconhecido como "lapso" pela ministra da Justiça.

O recandidato a Belém, interpelado por Carlos Daniel sobre a sua decisão, enquanto Presidente da República, em relação ao próximo estado de emergência, anunciou que tenciona propor apenas mais oito dias aos partidos e ao Parlamento. Isto até reunir com os especialistas de saúde pública e ter mais dados sobre os contágios nas férias.

Os candidatos convergiram sobre a necessidade de existir estabilidade política até 2023 e ambos manifestaram a convicção que haverá entendimentos políticos capazes de levar o governo até final do mandato. O recandidato a Belém rejeitou a ideia de que foi uma muleta do executivo de António Costa.

"Não, não tem de ser seguro de vida, tem de ser fator de estabilidade do governo. É importante que este governo dure até 2023. Tive pena que não tivesse havido neste orçamento uma base mais alargada, mas acredito que no próximo será possível". Foi assim que Marcelo respondeu à pergunta de Carlos Daniel sobre se tinha sido o tal seguro de vida de António Costa.

Marisa Matias, eurodeputada e dirigente do Bloco de Esquerda, garantiu que também se candidata pela "estabilidade". Apesar do seu partido ter votado contra o Orçamento do Estado para 2021, a candidata manteve a ideia de que há condições para "entendimentos estáveis" à esquerda, se acabarem os bloqueios que impedem uma resposta mais eficaz à crise económica e social. "A crise pandémica veio destapar problemas que já existiam", defendeu e citou os problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Marcelo, que já a tinha elogiado entre outras coisas pelo combate que fez pelo estatuto dos cuidadores informais - e teve elogio de volta pelo empenho enquanto Presidente nesta matéria - recebeu as críticas de Marisa sobre o seu apoio aos privados no setor da Saúde com a ideia que já foi mais além do que os partidos à direita queriam quando decretou o segundo estado de emergência. Quando abriu a porta a acordos "pontuais" com os hospitais privados e do setor social em caso de necessidade.

Citaçãocitacao "Achei que não devia ser o Presidente da República a substituir-se à hierarquia do Estado"

O ponto de maior fricção, num debate que não teve picardias, foi quando o tema do cidadão ucraniano morto por agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras no aeroporto de Lisboa veio à baila. Marisa criticou o "silêncio" de Marcelo, nomeadamente perante a família de Ihor Homeniuk e foi , mais do que uma vez, interrompida pelo opositor. Marcelo justificou: "Achei que não devia ser o Presidente da República a substituir-se à hierarquia do Estado".

O recandidato a um segundo mandato em Belém foi ainda criticado pela recandidata às presidenciais (esta é a segunda vez que Marisa Matias avança para a corrida presidencial) por não ter combatido o aumento do período experimental dos novos contratados e não se ter ido ao encontro dos jovens e das ideias que têm defendido, como as questões climáticas.

A eutanásia, cujo diploma deverá chegar a Belém ainda antes das eleições de 24 de janeiro, era um dos temas que poderia ter dividido os dois candidatos. Mas se Marisa considerou que se trata de "um progresso", Marcelo escudou-se no facto de desconhecer a versão final da lei que vier a ser aprovada no Parlamento. E mais não disse.

E apesar de toda a simpatia para a adversária do Bloco de Esquerda, Marcelo não quais assumir que se não fosse candidato votaria em Marisa, mas não fechou a porta. "Depende...Teria de comparar com os outros candidatos". Já Marisa foi clara a afastar a ideia de que poderia algum dia escolher o atual Presidente da República na hora de votar para Belém. "Acho que não, respeito muito o trabalho que foi feito, mas temos visões muito diferentes". Admitiu que se ficar abaixo dos 10% que obteve nas presidenciais de 2016 fará toda a diferença para os combates que quer travar.

Já sobre a "azia" que alguns social-democratas e centristas poderão sentir com o seu mandato na hora de ir às urnas, Marcelo usou uma versão pragmática: " Normalmente vota-se no possível no que existe. Admito que quando se trata de pessoas não escolhem o ideal, mas o possível dos melhores de possíveis".

Vão ser 16 os frente-a-frente nas televisões e Marcelo abre e fechas os debates dos candidatos presidenciais.

Depois deste primeiro debate da série de 16 entre candidatos a Belém, segue-se, seis dias depois, outro entre o atual Presidente da República e Ana Gomes. Mas também a 2 de janeiro, o candidato comunista João Ferreira e André Ventura vão encontrar-se TVI24.

No dia seguinte ao arranque dos debates, Marcelo terá um frente-a-frente com Tiago Mayan. No dia seguinte, Ana Gomes se estreia.-se na SIC-Notícias em debate com Marisa Matias.

A lógica acertada entre os diretores de informação das estações de televisão e os representantes das candidaturas é de dois debates no mesmo dia, à exceção de dia 3 de dezembro em que só haverá um. A RTP fará todos os debates na RTP1, e a SIC e TVI darão dois no canal generalista e três no cabo.

A 12 de janeiro a RTP fará um debate com todos os candidatos que irão a votos e que será moderado pelo jornalista Carlos Daniel. Os debates nos canais generalistas serão às 21:00 e no cabo às 22:00.

As rádios TSF, Rádio Renascença e Antena1 vão fazer um debate com todos os candidatos a 18 de janeiro entre as 9:00 e as 11:00.

São estas as datas dos próximos debates televisivos:

3 de janeiro, domingo

Marcelo Rebelo de Sousa - Tiago Mayan (RTP1)

4 janeiro, segunda-feira

Marcelo Rebelo de Sousa - João Ferreira (TVI)

Marisa Matias - Ana Gomes (SIC-Noticias)

5 de janeiro, terça-feira

João Ferreira - Ana Gomes (RTP1

André Ventura - Tiago Mayan (SIC-Notícias)

6 de janeiro, quarta-feira

Marcelo Rebelo de Sousa - André Ventura (SIC)

João Ferreira - Tiago Mayan (TVI24)

7 de janeiro, quinta-feira

Marisa Matias - André Ventura (SIC)

Ana Gomes - Tiago Mayan (TVI24)

8 de janeiro, sexta-feira

Ana Gomes - André Ventura (TVI)

Marisa Matias - João Ferreira (RTP1)

9 de janeiro, sábado

Marcelo Rebelo de Sousa - Ana Gomes (RTP1)

Marisa Matias - Tiago Mayan (SIC-Notícias)

12 de janeiro, terça-feira

Debate com todos os candidatos

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