Para politicamente correto já temos o PSD. Não precisamos de mais”, declarou André Ventura no encerramento da Convenção Nacional do Chega, em Viana do Castelo, no qual reafirmou as principais bandeiras do partido: “autoridade e ordem”, fiscalização ao RSI, “banho de ética” para a República e “imigração controlada”, só para quem “vem por bem”..André Ventura acabou a sua intervenção a garantir que está tão preparado agora para ser primeiro-ministro como Francisco Sá Carneiro estava em 1979, com a AD. Sá Carneiro foi, não só por Ventura, o político mais citado no Congresso. Mas as citações ao fundador do PSD não alteraram em nada o discurso do partido..“E chamam-nos a nós fascistas? Chamam-nos a nós radicais? Eu sou absolutamente radical contra a corrupção, contra o compadrio que tomou conta de Portugal”, declarou Ventura sem mostras de querer moderar um discurso que tem sido vencedor não só em Portugal, mas noutras partes do mundo nas quais a extrema-direita está em ascensão..De resto, sem falar em ciganos, prometeu “fiscalização à subsidiodependência”. E voltou à tese de que só são bem-vindos os imigrantes “que vierem por bem”, deixando no ar uma desconfiança sobre os que vêm sobretudo de partes do mundo com culturas e religiões diferentes. “A imigração tornou-se hoje uma questão relevante para Portugal”, garantiu, prometendo maior controlo sobre as entradas. “Devemos ter uma imigração que nos faça mais ricos e não que nos faça mais pobres”, disse, frisando que “quem vem tem de saber dizer ‘olá, bom-dia’”..Tudo para todos.Ventura prometeu um pouco de tudo para todos. Aos polícias da PSP e GNR prometeu uma equiparação salarial à PJ, aos professores, a recuperação integral do tempo de serviço congelado, faseadamente em quatro anos, aos pensionistas, pensões mínimas ao nível do salário mínimo nacional em seis anos..Como é que vai financiar tudo isso? Vai cortar na “ideologia de género”, em observatórios e fundações e “na enormidade de cargos políticos”. Tudo sem contas, a não ser os 400 milhões que disse estarem no Orçamento do Estado para a igualdade de género e dos quais, afinal, só 81% dizem respeito a medidas exclusivamente dedicadas ao combate à discriminação entre homens e mulheres..Chamando à corrupção o maior de todos os vírus, propôs que “todos os políticos condenados por corrupção fiquem impedidos para sempre de exercer cargos políticos” e que “todos os que, sendo ministros ou secretários de Estado, tenham feito negócios com empresas nunca mais na vida possam ir trabalhar para essas empresas”..Promessas para a saúde e habitação.Para a saúde, prometeu “revitalizar as PPP” (que foram introduzidas por um governo PS e continuam a existir) e “permitir que o público e o privado funcionem em harmonia”, coisa que está prevista na Lei de Bases da Saúde aprovada pelo PS. Prometeu ainda criar uma “regra vinculativa sobre o tempo máximo de espera para consultas e cirurgias” e, “quando o Estado não conseguir, que o faça o privado”, algo que existe para as operações através do cheque-cirurgia..Para responder à crise habitacional, Ventura falou em pôr “a banca e os seus lucros a pagarem o crédito à habitação”. Uma promessa que tinha sido feita em agosto pelo governo de extrema-direita em Itália, com uma taxa de 40%, e acabou, em setembro, por se ficar por uma taxa de 0,1% sobre os ativos totais da banca, depois de pressões do BCE e de as ações dos bancos terem caído a pique.."Populismo no seu estado puro”.No final da Convenção, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, que representou o partido enquanto o líder Luís Montenegro se manteve em silêncio durante todo o fim de semana, disse que o discurso do presidente do Chega tinha sido “o populismo no seu estado mais puro”, frisando que os problemas não se resolvem com “uma espécie de vendedores de banha da cobra”. Para ele, ficou absolutamente claro que “o futuro não passa por aqui”, porque “a governação de um país é uma coisa séria, responsável”. Antes destas declarações, André Ventura tinha dito aos jornalistas que a presença do secretário-geral do PSD era “um bom sinal”, pelo peso político que tem o dirigente social-democrata..Mas as provocações de André Ventura ao PSD não se ficaram por aqui. Ventura quis passar a ideia de que há uma transferência de militantes do partido de Montenegro para o seu. Para o demonstrar, teve, contudo, apenas Henrique Freitas, um antigo militante social-democrata, que chegou a ser secretário de Estado de Durão Barroso, mas que está longe de ser uma figura da primeira linha do PSD. A última vez que Henrique Freitas foi notícia foi em 2009, quando o seu nome caiu das listas de deputados do PSD por Lisboa. E, desde então, não se tem ouvido falar dele, que este fim de semana andou pela Convenção do Chega..Neste encontro, o governo marcou presença através do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, que sublinhou que as propostas do Chega traduziam “o princípio do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde”..Comentando a intervenção do líder do Chega, João Paulo Correia criticou não só os ataques à imigração e à igualdade de género, mas também a “bomba atómica nas contas públicas” lançada por Ventura no decorrer da reunião, através de propostas que “não foram explicadas”, mas que representariam um encargo de mais de 11 mil milhões de euros anuais para o Estado.