Livre. "Dores de crescimento? Já tivemos muitas, demasiadas"

Livre reúne-se este fim de semana em congresso, com duas listas a disputar a direção, mas com um propósito comum: fazer crescer o partido, que vai ter agora Rui Tavares no Parlamento.
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O Livre reúne-se este fim de semana no XII congresso e, pela primeira vez, a direção do partido vai ser disputada por duas listas. Duas candidaturas lideradas por mulheres: de um lado está Teresa Mota, líder da lista que tem como número dois Rui Tavares; do outro Patrícia Robalo, arquiteta de 39 anos, que defende mais participação e democracia no partido. Oposição interna? "Não somos oposição, somos alternativa", diz ao DN. O objetivo final é comum: ajudar o partido a crescer.

Ex- coordenadora da Assembleia do Livre, Patrícia Robalo sustenta que o partido "está numa nova fase de crescimento à qual é preciso dar bases sólidas". E isso passa por expandir e "descentralizar as estruturas", mas também por "diversificar caras". Na moção que leva ao congresso, intitulada Concretizar o Livre, esta lista "alternativa" aponta a "falta de preparação e trabalho contínuo para a implementação do partido para além das campanhas e momentos de maior visibilidade", assim como uma "concentração excessiva de trabalho e influência num grupo restrito de membros", que "tem resultado numa significativa resistência à descentralização do partido, cuja força está muito concentrada em Lisboa e arredores". Outro ponto focado é a "pessoalização" do Livre, que "é nefasta ao seu crescimento" e descaracteriza a sua natureza "partilhada", "sem lideranças estanques, centralizadas ou indevidamente hierarquizadas".

"Nós sentimo-nos bastante bem representados pelo Rui [Tavares], mas qualquer estrutura partidária precisa de várias caras, várias vozes, não só para construir propostas sólidas a partir do contraditório, mas também porque existe um conhecimento técnico e cívico variado entre nós, que dá maior lastro ao partido", diz Patrícia Robalo.

Para a lista B é também necessário "equilíbrio entre convergência e afirmação" do Livre - a coligação com o PS nas últimas autárquicas em Lisboa teve a discordância de boa parte dos membros da lista. E esta é também uma preocupação para o futuro, expressa na moção: o Livre deve começar desde já a preparar-se para eventuais eleições antecipadas em Lisboa.

Já Teresa Mota integra o atual Grupo de Contacto (a direção) do Livre - é uma das seis pessoas que se recandidata, num total de 15. Assume a "herança" do grupo que agora cessa funções e aponta também o crescimento do partido como a principal meta para os próximos anos. Uma preocupação que também terá por pano de fundo evitar dissabores futuros, depois do que aconteceu em 2019? "Dores de crescimento? Já tivemos muitas, demasiadas, daqui para a frente só pode correr bem", responde.

Antiga professora de biologia e geologia, depois investigadora, agora sócia-gerente de uma pequena empresa de geologia, com 57 anos, Teresa Mota era apenas votante do Livre quando, em 2019, decidiu candidatar-se às primárias abertas no partido. Acabou por ser votada para cabeça de lista por Braga, onde reside - "Foi a minha primeira experiência político-partidária". Mais tarde chegou o convite para integrar o Grupo de Contacto e foi então que se tornou aderente. Este ano repetiu a candidatura como cabeça de lista por Braga.

Entre os desafios que aponta para o próximo mandato, há um que Rui Tavares repetiu durante a campanha eleitoral e que destaca em particular: "Trabalhar sobre um modelo de desenvolvimento baseado numa economia do conhecimento, uma proposta que queremos trabalhar não só no partido, mas em conjunto com os cidadãos".

Sendo a eleição para o Grupo de Contacto feita pelo método de Hondt, o mais provável é que a direção venha a integrar elementos de ambas as listas em disputa. Os dois lados desvalorizam. "A partir do momento em que exista um grupo de contacto deixa de haver duas listas", diz Teresa Mota. "Mais do que haver divisões, que às vezes são demasiado simplistas, é preciso que entre os dois projetos se encontre uma base de convergência", refere, por seu lado, Patrícia Robalo.

Além do Grupo de Contacto, o congresso que decorrerá no Convento de São Francisco, em Coimbra, elegerá também a nova Assembleia, órgão que é votado uninominalmente. Neste sábado são discutidas as duas moções globais.

O Livre chega ao 12.º congresso ainda sob o eco da eleição de Rui Tavares para a Assembleia da República, uma prova de vida do partido depois de ter conseguido eleger em 2019, perdendo a representação parlamentar dois meses depois, quando retirou a confiança política à deputada Joacine Katar Moreira. Num partido que não tem formalmente um líder, Tavares é, indiscutivelmente, o protagonista maior. O historiador deverá voltar agora à direção do Livre, avançando como número dois da lista A, que apresenta ao congresso uma moção intitulada "O futuro nas nossas mãos". Desde 2015 que Rui Tavares integra apenas a Assembleia, o órgão máximo do partido entre congressos. Tavares já assumiu o objetivo de eleger, no futuro, não apenas um deputado único, mas um grupo parlamentar.

susete.francisco@dn.pt

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