José Croca Favinha: "Um presidente para pós-2026? Que entre em todas as faixas da sociedade, que seja exemplo para todos"
O comodoro e diretor do Museu de Marinha navega na exposição DN Tesouro Nacional e analisa o estado da Armada, dos media, do país e do mundo. Destaca o papel dos militares e acredita que nem situações como a de Tancos ou do Hospital Militar de Belém abalaram a confiança dos portugueses nas fardas.
Até 28 de fevereiro está patente no Museu de Marinha, em Belém, a exposição DN Tesouro Nacional. Numa visita guiada com o diretor do Museu, são lembradas as primeiras páginas mais marcantes do Diário de Notícias, os grandes heróis da Marinha e apontados desafios futuros.
Relacionados
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Vamos começar junto à imagem do fundador do Diário de Notícias, Eduardo Coelho, que foi pioneiro, em 1864, ao criar um jornal diário acessível, democrático e compreensível para todos. Se Eduardo Coelho é uma referência para o Diário de Notícias, quem é a referência para a Marinha?
Este período histórico é muito relevante para a Marinha, porque sofreu uma grande transformação nessa época. Houve alguma estabilidade política e a Marinha sofreu com isso, especialmente, em termos de equipamentos e de navios, isto estava no período da Revolução Industrial.
A Marinha, mais ou menos na mesma altura, no fim dos Anos 50 e início dos Anos 60 do século XIX, incorporou pela primeira vez navios de propulsão a vapor, que permitiram que a Marinha ressurgisse novamente e que tivesse algum papel em África.
Um dos principais políticos que fez essa reformulação na Marinha foi o então Marquês de Sá da Bandeira.
No seu entender, que papel teve a comunicação social na divulgação dos feitos da Marinha. Recorda-se de alguma notícia em particular?
Os militares nessa altura também eram um pouco políticos, tinham uma intervenção política na sociedade e também escreviam artigos para os jornais. Em meados do século XIX, posso apontar o comandante da Marinha dessa época, que terá sido o mais importante, e que comandou o primeiro navio de propulsão a vapor. Falo do Infante D. Luís, oficial de carreira, só que, infelizmente, o seu irmão mais velho, que estava destinado a ser rei, faleceu, e ele foi obrigado a abandonar a carreira na Marinha e a tornar-se rei. É caso para dizer que perdemos um grande marinheiro.
"Há uma grande revolução em termos tecnológicos e para ocuparmos o mar português precisamos de meios que nos permitam defender os nossos interesses. Devíamos ter mais financiamento."
Na altura em que foi publicado o primeiro número do DN, o jornal foi inovador até na sua forma de financiamento, ao conseguir ter pequenos anúncios que financiaram o jornal, modelo inspirado em jornais franceses. No caso da Marinha, e da Defesa em geral - e perante a atual situação de guerra na Europa - pergunto: é preciso um reforço do financiamento?
Sou suspeito para falar desse assunto. Claro que na Marinha queremos sempre mais e melhores meios, como qualquer organização. O Almirante Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada, será a pessoa mais indicada para isso, mas de qualquer forma há novamente uma grande revolução em termos tecnológicos.
Para ocuparmos o nosso imenso mar português, que faz parte do nosso caráter nacional e que nos distingue do resto da Europa, precisamos de ter meios tecnologicamente avançados que nos permitam estar muito tempo no mar a defender os nossos interesses.
Respondendo concretamente à sua pergunta, sim, acho que devíamos ter mais financiamento para a Marinha.
A expansão da Plataforma Atlântica é uma preocupação e um objetivo para o país. É um dos grandes desafios para a nova era, que se inicia com 2023?
Sim, é um desígnio nacional perseguido há vários anos, nomeadamente com a extensão da plataforma continental junto das Nações Unidas. Portanto, não é apenas um desígnio da Marinha, mas também do país, que já perseguimos há muitos anos, porque as pessoas entendem a importância que essa área tem para o país.
"Em termos militares, há 30 anos deu-se um salto tecnológico com as fragatas Vasco da Gama. Hoje em dia continuamos a ter a ambição, numa altura em que decorre uma guerra de drones. A ambição continua."
Em 1867, por exemplo, quando Portugal decidiu abolir a pena de morte, Victor Hugo, grande escritor francês e referência, à época, enviou uma carta ao DN dirigindo-a a toda a nação. Nessa carta, elogiava um Portugal que estava à frente do seu tempo, um país vanguardista. Olhando para os dias de hoje, teremos perdido esta ambição de estar à frente dos tempos enquanto nação?
Penso que não. A área que mais conheço, que é em termos militares, lembro-me que há cerca de 30 anos demos um salto tecnológico muito grande com as fragatas Vasco da Gama e sempre procurámos acompanhar os melhores e estar ao seu nível, e conseguimos.
Atualmente, continuamos a ter essa ambição. Nesta altura de guerra, de drones e desta nova tecnologia que todos os dias vemos nos jornais, a Marinha procura acompanhar esses tempos e essas novas tecnologias.
Num espetro mais alargado, para o comum dos portugueses e sua forma de estar, reconhece no povo português essa ambição de estar à frente do seu tempo ou haverá também alguma desilusão a nível da política?
Temos casos espantosos de sucessos de tecnologia. Ainda ontem observei uma discussão desse tipo e posso apontar várias empresas que são exemplos de sucesso. Às vezes, é preciso ser um bocadinho mais resiliente e ultrapassar as dificuldades que surgem inevitavelmente, não podemos desistir logo à primeira.
As pessoas estão cá, têm formação muito elevada, tecnologicamente é desafiante para os mais novos acompanharem esses desenvolvimentos e, na minha perspetiva, penso que é só uma questão de sermos mais resilientes para atingirmos os nossos objetivos.
Podemos aprender isso com os militares?
Sim, acho que sim.
"Quando não estamos em guerra é difícil compreender a necessidade dos militares. Mas os portugueses reconhecem os valores militares, mesmo que apareçam casos que não se coadunam com esses valores."
O DN noticiou as mudanças de regime em Portugal, em 1910 a república, em 1926 o golpe militar que institui a ditadura, e o 25 de Abril de 1974 que devolve a liberdade. Olhando para todos estes momentos históricos, que análise faz hoje do estado da República portuguesa?
É uma pergunta difícil. Na implementação da República houve um corte muito grande com o passado e, como disse, era muito normal os militares estarem envolvidos na política. Aliás, a Marinha estava no centro de Lisboa e teve vários exemplos de grande envolvimento nessa ação.
Atualmente, isso já não acontece, e ainda bem, até porque há o controlo democrático das instituições e do país. Penso que a nossa democracia, atualmente, está estabilizada e consolidada, poderá haver alguns pormenores que teremos de aperfeiçoar no dia a dia, mas penso que estamos bem na Europa democrática e que somos um exemplo para outros.
"Na pandemia os militares intervieram e o Almirante Gouveia e Melo chefiou a equipa. Deu-se uma grande projecção aos militares e os portugueses podem ter confiança neles para resolver situações de crise."
A credibilidade e a confiança são essenciais nos media e esta é uma das marcas do DN ao longo destes 158 anos. Na área militar, a confiança também é determinante. Considera que os portugueses continuam a acreditar nos militares? E até que ponto o papel dos militares na gestão da pandemia poderá ter ajudado, ou não, no reforço dessa confiança?
Quando não estamos em tempo de guerra é difícil compreender a necessidade dos militares. Só nas grandes crises é que se vê imediatamente a utilidade dos militares para as pessoas comuns.
É preciso fazer alguma pedagogia, porque os militares não nascem espontaneamente, as instituições militares, um navio de guerra ou uma unidade do Exército, demoram anos a desenvolver-se.
Em termos de valores, penso que não há dúvida nenhuma de que os portugueses reconhecem que os militares têm valores que são idóneos e que, por vezes, podem até aparecer casos que não se coadunam com esses valores que defendemos, mas penso que a população tem confiança em que os militares defenderão os valores morais dos portugueses.
Está a referir-se ao caso dos fuzileiros acusados de homicídio pelo Ministério Público?
Não me estava a referir a ninguém em especial, mas as pessoas às vezes utilizam casos particulares para tentar dizer que afinal os militares não são como dizem e que não defendem estes valores, mas isto não é verdade.
Há sempre exceções, mas não devem afetar a confiança que os portugueses têm nos militares. Claro que os militares intervieram durante a pandemia, o Almirante Gouveia e Melo chefiou a equipa, e não há dúvida nenhuma de que se deu uma grande projeção aos militares. Além de que mostrou a confiança que os portugueses podem depositar nos militares para resolver situações complicadas e de crise. Isso reflete bem a utilidade que os militares têm para o país.
Mesmo quando há notícias menos positivas, como o caso de Tancos ou do Hospital Militar de Belém? Os portugueses não perderam a confiança nos militares?
Não, acho que continuam a confiar. Sou marinheiro, andei no mar, e os pescadores gostavam de ver que estávamos ali ao pé deles e que fossemos em auxílio quando necessário. Eles reconhecem o nosso papel e confiam em nós.
Ainda assim, estas notícias entristecem-no ou preocupam-no?
Claro, sempre que há notícias desfavoráveis entristecem-me.

Favinha elogia os feitos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral na Travessia do Atlântico Sul, noticiada pelo DN.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Relativamente à política, considera que os casos e casinhos a que temos assistido estão a deixar os portugueses descrentes na República?
Sempre que existem casos como esses, há sempre quem aproveite para só lembrar as coisas más e não as boas. As coisas más são mais fáceis de projetar do que as boas, demora muito tempo a criar um bom-nome, que pode ser imediatamente desfeito à primeira coisa.
Mas acho que os portugueses gostam de viver em democracia, acham que a nossa organização democrática é forte e, pronto, este jogo político penso que faz parte do jogo democrático, pelo menos na minha opinião, de quem não está envolvido na política.
"Um militar na Presidência? "Os militares não devem ser menos cidadãos que os restantes (...) O Almirante Gouveia e Melo seria um bom candidato a presidente da República, com certeza."
O General Ramalho Eanes continua a ser acarinhado por muitos portugueses, é uma referência militar para muitos. Gostaria de voltar a ver um militar na Presidência da República? Faria sentido para o país?
Não tenho nenhuma predileção especial, só acho que os militares não devem ser menos cidadãos que os restantes, devem ser vistos em pé de igualdade. Desde que seja uma pessoa qualificada, com prestígio, que tenha autoridade moral perante os portugueses, pode ser militar ou civil, não tenho uma predileção específica.
E poderia ser o Almirante Gouveia e Melo?
O Almirante seria um bom presidente da República, certamente.
Do espólio doDN faz parte a notícia da eleição do primeiro presidente da República, Manuel de Arriaga. De que tipo de líder precisará o país para o futuro pós-2026?
Tem de ser uma pessoa que, entre em todas as faixas da sociedade, penetre em todos os estratos sociais, que seja transversal e com uma história pessoal e profissional que seja exemplar para todos os portugueses.
Um perfil conciliador ou combativo?
Conciliador tem de ser sempre, diplomático também, tem de persistir. Tem de ter definido um objetivo para o país e persegui-lo, mas tem de ser com certeza um perfil conciliador e diplomático, caso contrário penso que não poderia ser presidente da República.
O DN noticiou, por exemplo, a primeira guerra mundial, notícia publicada a 29 de julho de 1914. A Europa tem sido cenário de várias guerras. Qual foi a sua reação quando viu eclodir um novo conflito na Europa, desta vez na Ucrânia?
Um choque, embora para nós, militares, não tenha sido exatamente uma surpresa. Apesar de em Portugal, durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial, nunca termos sentido muitos impactos no nosso território continental - embora sentíssemos nos nossos militares empenhados no exterior -, agora fazemos parte desta grande Europa, com todos os nossos aliados, e temos de estar solidários com esta Europa democrática a que pertencemos.

O Bergantil Real teve como última missão receber a Rainha Isabel II, em Lisboa, em 1957.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Acredita que a Europa poderá ficar mais unida e até vir a ter uma política de defesa comum?
Sim, já há vários anos que é um objetivo da Europa, embora não muito ativo por vezes. Vamos ver se os principais países da Europa se põem de acordo com isso e se podemos ter um papel nessa organização.
E devíamos ter um papel?
Certamente.
Apreciando outras primeiras páginas do arquivo do DN, destaca-se outra: a Travessia do Atlântico Sul, a 19 de abril de 1922, com Sacadura Cabral e Gago Coutinho. E atualmente quem serão os grandes heróis na Marinha?
É mais uma pergunta difícil. Foram apoiados pelo governo da altura com meios para fazer a travessia e todo o país estava por trás deles. Foi um grande desígnio nacional.
Não podemos esquecer que tínhamos acabado a Primeira Guerra Mundial, tinha havido a epidemia espanhola, tínhamos alguma estabilidade política e as pessoas reviram-se nisto como um objetivo comum.
Foram dois heróis que trouxeram inovação, até porque desenvolveram um novo método de navegação a nível mundial. Depois, tiveram a coragem de fazer esta travessia, persistiram e tiveram resiliên- cia para ultrapassar todos os vários obstáculos que foram surgindo. Fez 100 anos o ano passado, e há dias encerrámos as comemorações dos 100 anos desta travessia para relembrar que os portugueses conseguem fazer muito boas coisas.
Atualmente, a Marinha continua a ter pessoas muito capazes, mas claro que só nos tempos de crise é que se dá relevância às pessoas.
E quem serão os heróis hoje?
Ficava-me mal dizer, deixo isso à sua consideração.
Percorrendo esta primeira página, podemos ler que "as pessoas percorreram as ruas de Lisboa aclamando os nomes dos dois gloriosos aviadores. O Diário de Notícias faz transmitir graficamente a todo o país e à imprensa parisiense a nova e brilhante etapa percorrida".
Continuando a percorrer o espólio, o DN foi sempre acompanhando o que se passa no Brasil. Este ano, o país voltou a ter Lula da Silva como presidente e, também este ano, assistimos à invasão do Planalto. Que futuro antevê para a relação entre Portugal e Brasil, tendo em conta os crescentes populismos e extremismos? Poderão deixar marcas nas relações entre os dois países?
Penso que não, pelo menos ao nível dos brasileiros e dos portugueses não me parece. Temos um grande património em comum que nos une, a língua, apesar de às vezes surgirem algumas dificuldades a nível político, o que é normal.
O Brasil é um grande país, é um país estruturante, uma grande potência do mundo e os portugueses sempre tiveram vontade de ter laços estreitos com os nossos amigos brasileiros.
Foi lá que chegaram Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
Exatamente, até quando se comemorava um século da Independência do Brasil. O ano passado, quando se comemorou dois séculos da Independência do Brasil, estamos agora mais unidos que nunca, penso eu, embora haja algumas dificuldades.
O Brasil tem os seus problemas, tem problemas de dimensão diferente dos portugueses, são adequados à sua dimensão enquanto país gigantesco, mas certamente que os vão resolver. Penso que podemos ajudá-lo num bom caminho, se eles assim o desejarem.
Preocupa-o esta onda crescente de populismos e de extrema-direita, particularmente na Europa?
Penso que os extremismos são mais fáceis de vender do que as posições equilibradas. Tem de haver alguém que traga as posições equilibradas para a mesa e as defenda com veemência e vigor.
Penso que é isso que faz, não só em Portugal, mas também na Europa e no mundo, para que consigamos desenvolver países com regimes democráticos, equilibrados, que defendam as pessoas e o seu bem-estar.
Voltando ao tema do financiamento na Armada, desde a época dos submarinos que não se noticiam grandes investimentos. É sabido que muito do equipamento da Marinha está a ficar obsoleto. O museu corre o risco de receber algumas dessas peças para se tornarem peças de museu?
Sempre que um navio é abatido, as peças vêm aqui para o museu, portanto, graças a Deus sempre foi assim. Apesar de sermos um museu que pertence à Marinha, e é nossa responsabilidade conservarmos o nosso espólio e essas peças dos navios que vão deixando o serviço, não somos só um museu da Marinha de guerra, somos um museu da maritimidade nacional. Se percorrer o museu, e convido todos a visitá-lo, verá que temos também um discurso sobre a linha de pesca, sobre as embarcações tradicionais, as embarcações de recreio, os navios mercantes, as galeotas.
Nesse aspeto, é um museu de Marinha. O investimento da Marinha, também não sou a pessoa indicada para falar sobre isso, mas existe uma lei de programação militar que penso que está agora em discussão, em que os projetos da liderança da Marinha estão refletidos.
Não sei exatamente analisar o ponto de situação, enquanto diretor de museu não estou diretamente envolvido, mas penso que a Marinha estará com o Ministério da Defesa e o governo, a defender os novos projetos.
Mas precisamos de uma fragata Vasco da Gama novamente a circular e a levantar ferro?
Sempre. Isto é assim ao longo da nossa história, desde o século XVI que tivemos estas dificuldades sobre o equipamento, os novos programas de renovação, sempre tivemos pouco dinheiro. O país sempre teve dificuldades em edificar os novos programas de renovação e agora é exatamente a mesa situação.
"O Museu faz este ano 160 anos. Está em curso um projecto de renovação museográfico, falta é o financiamento para executar. Há outros projetos para melhorar acessibilidade e interatividade."
Só a fragata Vasco da Gama terá cerca de 116 metros de comprimento, provavelmente será difícil de a encaixar aqui, na área que acolhe a exposição DN Tesouro Nacional ou no restante espaço. Que projetos tem para o museu para 2023?
Esperamos que o museu fique cada vez melhor, cada vez mais moderno e atrativo. É esse o nosso objetivo e desígnio.
Como é que pretende fazê-lo? Com maior interatividade?
Neste momento, está em curso um projeto de renovação museográfico, parte da exposição permanente já foi renovada. O que falta? Já temos um projeto definido, falta é o financiamento para executar.
Queremos que o museu se adapte aos portugueses, à atualidade, à forma de fazer museologia e de passar as mensagens também. Fora isso, temos um programa de melhoria de acessibilidades do museu que é apoiado pelo Turismo de Portugal, para que seja acessível a pessoas com diversas limitações, físicas, visuais, etc.
Ontem, por exemplo, inaugurámos os novos áudio-guias do museu, o que permite a pessoas com limitações terem acesso aos conteúdos do museu. Temos um novo espaço imersivo no Pavilhão das Galeotas em que as pessoas que são surdas, por exemplo, podem ter linguagem gestual portuguesa e ver o que é descrito no filme.
Temos vários outros projetos nesta ordem de ideias para melhorar a interatividade. Queremos chegar através das redes sociais e dos conteúdos que projetamos para fora.
Este ano, fazemos 160 anos, o museu tem mais um ano que o DN [fará 159 a 29 de dezembro de 2023], e nesse âmbito queremos fazer ressaltar o melhor que o museu tem. Vamos fazer uma exposição temporária sobre João Vaz, um grande pintor do século XIX.
Vamos publicar um livro sobre a história do museu, vamos fazer uma exposição temporária sobre modelos porque, como viu, o museu tem modelos de embarcações ao longo dos séculos, é uma das nossas grandes mais valias.
Queremos rejuvenescer esta ligação do museu com estes modelistas navais. Portanto, temos um programa de atividades bastante extenso, no qual estamos a trabalhar com muita vontade.
Na exposição do DN, qual é a peça que mais aprecia e porquê?
A peça do Diário de Notícias, sem ser a primeira edição que é fantástica e que é um objeto histórico sem igual, há os quadros que pertencem à coleção do DN, nomeadamente o quadro de José Saramago.

Do espólio do DN, Croca Favinha destaca o retrato de Saramago, Nobel da Literatura.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
José Saramago foi diretor do DN. mais tarde foi cronista do DN. Porque é que elege esta peça?
Tem uma leitura sobre a pessoa que nos revela um pouco o que ela era. Apesar de nunca ter conhecido pessoalmente José Saramago, revela uma pessoa muito autêntica. Ficamos com o Prémio Nobel para sempre, com a sua imagem e com a forma séria como encarava o mundo.
"Na época em que nasceu o DN, os militares tinham intervenção política, escreviam nos jornais. Dessa altura, na Marinha destaco o Infante D. Luís que comandou o primeiro navio de propulsão a vapor."
Neste percurso pelo Diário de Notícias, referiu que há um duelo que se evidencia. Qual é ele?
Queria chamar à atenção para a parte das peças da Marinha que aqui estão e para aquela curiosidade da implantação da República e do facto de os oficiais de Marinha serem muito interventivos na política.
E, nessa altura, resolviam as suas divergências com duelos, algo inimaginável atualmente. Mas eram duelos com regras e testemunhas. Por acaso, estão ali dois quadros de oficiais da Marinha que intervieram nesses duelos na Estrada da Musgueira, que foram retratados pelo Diário de Notícias, jornal de referência.
Seguimos viagem para a exposição permanente do Museu de Marinha. Para si, quais são as duas principais peças e porquê?
A primeira é a nossa coleção de astrolábios portugueses, do século XVI, que demonstra por que é que estabelecemos novas rotas marítimas pelo mundo. Tínhamos a capacidade para isso e os instrumentos utilizados eram feitos cá, desenvolvidos e feitos por portugueses.
Uma das provas disso é o astrolábio náutico português e o Museu da Marinha orgulha-se de ter a maior coleção em exibição do mundo e são todos feitos por portugueses. Têm gravados os nomes das famílias que os fizeram e foram recuperados de destroços afundados no mar.
No princípio dos Anos 80 do século XX não tínhamos nenhum, mas atualmente temos esta coleção magnífica que o país e o museu trabalharam para expor.
A segunda peça é um Bergantim Real que está no Pavilhão das Galeotas. Escolhi-a por causa da sua dimensão e pela sua relevância histórica, assim como pelo seu aspeto artístico. É uma embarcação de aparato, pertencia aos reis, foi mandada construir para os momentos faustosos da vida dos reis no Tejo.
A sua última missão foi em 1957 quando a rainha Isabel II veio a Lisboa e desembarcou do iate real Britânia para o Terreiro do Paço, a bordo do Bergantim Real. Após essa tarefa, recolheu aqui ao museu, onde foi restaurado, e felizmente hoje tem este aspeto magnífico, o original.
Partilhar
No Diário de Notícias dezenas de jornalistas trabalham todos os dias para fazer as notícias, as entrevistas, as reportagens e as análises que asseguram uma informação rigorosa aos leitores. E é assim há mais de 150 anos, pois somos o jornal nacional mais antigo. Para continuarmos a fazer este “serviço ao leitor“, como escreveu o nosso fundador em 1864, precisamos do seu apoio.
Assine aqui aquele que é o seu jornal