José Cardoso: “O partido pretende ser digital e a app faz rigorosamente tudo”
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José Cardoso: “O partido pretende ser digital e a app faz rigorosamente tudo”

Ex-candidato à liderança da Iniciativa Liberal, José Cardoso está a lançar o Partido Liberal Social, que espera ter legalizado a tempo das autárquicas. Promete juntar preocupações sociais e ambientais à defesa do crescimento económico, e ter vocação para governar.
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O Partido Liberal Social (PLS) foi anunciado a poucos dias das eleições para a Assembleia Regional da Madeira e para o Parlamento Europeu. Não teme ser acusado de estar a tentar influir nos resultados do seu antigo partido?
Não. Estamos à procura de pessoas para um projeto político diferente e novo. Não havia uma data ideal... Agora há eleições, no início de julho há uma convenção da Iniciativa Liberal (IL), e não vamos, com certeza, contactar pessoas a meio de agosto, pois precisam de descanso. Estamos noutro ciclo político, que é de começar do zero. Não nos interessa minimamente o que outros partidos estão a fazer agora.

Sente-se representado nas eleições europeias de 9 de junho?
O problema das europeias é que me custa que o candidato que poderia cobrir essa área tenha pensado mais em si próprio, eventualmente no seu sucesso político, do que no sucesso do partido. Não decidi o que vou fazer, mas não é a minha preocupação número um.

As pessoas que o acompanham no lançamento do PLS são todas ex-membros da Iniciativa Liberal? 
Algumas virão da IL, e outras da sociedade civil, eventualmente passando por outros partidos, como o PSD, que também tem liberais. Acho que virão pessoas novas, um pouco de todo o lado. 

Debateu o projeto com ex-dirigentes da IL, como Catarina Maia, Paulo Carmona e Carla Castro?
Falei com muita gente, mas o objetivo era ser o menos personalista possível. Não gosto de partidos presidencialistas, e disse-o muitas vezes na IL. Não quero o desenvolvimento do PLS focado em alguém com visibilidade pública adicional, mas sim na capacidade de atrair pessoas de valor e dar-lhes protagonismo. É um trabalho árduo, mas correto num partido liberal. Há mais Carlos Guimarães Pintos, mais Josés Cardosos, mais Carlas Castros. Na sociedade civil há muita gente com valor. 

Não confirma nem desmente que tenha debatido o projeto com os ex-dirigentes da IL que mencionei.
Não vou especificar nenhum, mas falei com muitos. Pergunto-me se algum partido começou com um projeto político tão estruturado como nós. As pessoas que disse, e as outras de quem falei, que se calhar não têm visibilidade pública, terão a certeza se é um projeto onde se enquadram ou não. Não há coisa pior num partido, e isso acontece nos outros: as pessoas aderem com ideia de que o partido é uma coisa, e depois é outra. Aconteceu na IL.

Falando sobre posicionamentos, o PLS assume-se como liberal, social e ecologista. A conciliação desses pilares é o fator distintivo? 
O fator distintivo é a capacidade de intervir socialmente. Não consigo entender porque é que os liberais têm tanto medo de falar de temas sociais. Têm medo de serem identificados como socialistas, mas há muitos problemas que não se resolvem sem políticas públicas. Se os políticos não demonstram que se estão a esforçar deixamos esse discurso para os populistas. O PLS quer distinguir-se por ter uma intervenção social permanente. Tendo o liberalismo tanto sucesso na Europa, trazendo bem-estar às pessoas, se lhe acrescentarmos um olhar atento sobre as questões sociais, temos o melhor dos mundos. E não existe nenhum partido político em Portugal que o faça.  

E há a questão do ecologismo, porque uma coisa muito atirada aos liberais é o alegado desinteresse com questões ambientais...
Existe o discurso de que, se houver crescimento económico, os problemas todos se resolvem. Efetivamente, os países com maior desenvolvimento económico são aqueles que estão mais facilmente a conseguir resolver o problemas de poluição e de reciclagem. Mas a  ecologia é muito mais do que problemas de alterações climáticas. É muito mais uma filosofia de estarmos perante a natureza do que propriamente a resposta a problemas que agora se agudizaram e que estão na ordem do dia.

Definem-se como “um partido de governo” e não como “um partido só de protesto”. É uma crítica implícita ao seu antigo partido?
Isto é uma crítica implícita a muitos partidos. 

Em particular a um que não se tornou partido de governo agora? 
O problema é que muitas críticas que fazemos viram-se contra nós próprios. E há quem acabe por encontrar mais conforto na capacidade de criticar, pois está sempre com a arrogância intelectual de que os outros são sempre muito maus e nós é que somos muito bons. O problema é o dia em que têm de pôr a mão na massa. Há que criar uma cultura dentro do partido de pessoas dispostas a governar e que não centrem a política na crítica fácil, mas em procurar factos e fazer propostas que contribuam para a melhoria de diferentes temas.

Se tivesse agora oito deputados, o PLS ter-se-ia esforçado por integrar uma solução governativa?
Estará sempre disponível para integrar uma solução governativa. mas precisa de uma lista de propostas, exigências e desejos que quer ver refletida na governação. Obviamente que depende da votação o poder de influir no governo, mas sou adepto de que os partidos existem para governar e representar quem neles votou. 

Defendendo que o PLS “não é opositor por princípio a um conservador ou a um progressista, mas sim a todas as formas de autoritarismo”, onde é que se posicionam no espectro partidário? E em que parte do hemiciclo ficariam sentados os vossos futuros deputados?
Opomo-nos ao autoritarismo, que se pode refletir em progressismo e em conservadorismo, na direita e na esquerda. Há autoritarismo por todo o lado. Os partidos liberais acabam por ser identificados com o centro-direita porque, ao defenderem a liberdade das pessoas, acabam por não se poder identificar com o socialismo, que tem uma atitude autoritária na organização social e económica

Iniciando-se agora a recolha das 7500 assinaturas para a legalização, quando prevê que o PLS possa ir a votos? 
A próxima eleição prevista são as autárquicas, daqui a um ano e três meses, provavelmente. Esperamos estar nessas eleições, apesar de a nossa preocupação ser mais a da construção do projeto político.  

A hipótese de legislativas antecipadas não é só académica...
Depende muito do Orçamento do Estado, mas tenho um feeling que não vai acontecer a queda do governo, por ser tão recente.

Nos estatutos do PLS estão temas que defendeu na IL, como retirar direito de voto no Conselho Nacional a titulares de outros órgãos. Tal defesa de democracia interna é  uma bofetada de luva branca?
Não. É cumprir em atos o que se diz em palavras. Não faz sentido em democracia atropelarmos a separação de poderes. Castra toda a capacidade de um partido aproveitar a energia das pessoas. 

No que toca à atenção às incompatibilidades mencionam os laços familiares em primeiro grau e ser remunerado pelo partido, direta ou diretamente. É mais uma regra baseada naquilo que muitos dos que saíram da IL criticavam ao funcionamento interno do partido? 
Estive quatro anos e meio na IL, três dos quais no Conselho Nacional, pelo que muito vem da experiência da IL. Outras coisas eram ideias minhas, outras são práticas políticas de outros partidos.

Preveem estruturas de simpatizantes que podem participar na dinâmica partidária, mas sem direito a eleger ou a ser eleito. O que sucedeu no Livre inspirou-vos a não irem mais longe?
Antes disso já tínhamos estudado as diretas. Ainda dentro da IL tinha refletido. As diretas não parecem uma solução que aporte mais democracia e é melhor a candidatura nominal, em que ao longo do tempo se escrutina a pessoa, dentro do partido, para saber que tipo de político é, e o que defende.

Os simpatizantes podem aceder à vossa app Liberal Social, apresentada como uma ferramenta que dá acesso total à vida partidária?
A app não é para simpatizantes. Nesse caso optámos por uma base de dados, como se fosse uma newsletter georreferenciada, para manter o simpatizante mais próximo da realidade locais do partido. A app está direcionada para quem tem uma utilização diária

O que pretendem com essa app?
O partido pretende ser digital e a app faz rigorosamente tudo: convocatórias, documentação, fóruns de debate, participação política, cobrança de quotas... Toda a vida do partido passa por aí. Só não serve para fazer votações, infelizmente, por questões de segurança. Teremos que procurar outra aplicação digital para fazer votações.

A app está em desenvolvimento?
Está pronta. Foi a primeira coisa de que tratámos, curiosamente, porque não fazia sentido criar um partido se não fossemos capazes de pôr as pessoas a falarem umas com as outras. Se entrar um membro em Bragança, o que fazemos? Dizemos “bem-vindo”. E depois? Como o manter informado, atualizado, participante, com capacidade de intervenção? Era uma premissa criar um partido em que as pessoas, ao entrarem, em 24 horas são parte ativa. Gostava que o PLS fosse um partido que não fica de quatro em quatro anos à espera de eleições nacionais, mas que todos os dias faça trabalho de formiguinha pelo país fora.

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