Isabel Santos: "A Ucrânia terá de fazer o seu processo até à adesão. É preciso tempo"
Isabel Santos esteve em Portugal para visitar locais onde foram aplicados fundos europeus. Em conversa com o DN, em Lisboa, a eurodeputada socialista falou sobre o futuro do projeto europeu, os Direitos Humanos e a guerra na Ucrânia.
A União Europeia (UE) vai ter de assumir um papel geopolítico cada vez mais ativo porque, em política, não há espaços vazios. Se houver espaços vazios, serão ocupados por outros atores que têm uma ação não-moderada pelo nosso conjunto de valores". Ou pelo menos assim considera Isabel Santos, eurodeputada do PS. Além disso, diz, "a UE tem prestado um grande apoio à Ucrânia", mas é necessário não esquecer que "há um agressor e um agredido, e só se pode tomar a opção por um lado: o do agredido". Apesar do conflito, "é necessário não esquecer o diálogo e as negociações. Isto só pode acabar assim", refere.
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Já sobre a adesão à UE, Isabel Santos pede calma. "Há sempre um conjunto de reformas a ser feitas ao nível interno para que os países possam corresponder aos critérios de Copenhaga [que definem a adesão], relembra, frisando de seguida: "A Ucrânia terá de fazer o seu processo até à adesão. Não é um processo simples, necessita de tempo".
Em Portugal para uma série de visitas a locais onde foram aplicados fundos europeus, e, por entre reuniões relacionadas com o European Media Freedom Act (iniciativa que pretende proteger e assegurar o pluralismo e independência dos media na UE), Isabel Santos esteve à conversa com o DN num hotel em Lisboa. A eurodeputada é uma dos nove eleitos pelo PS em 2019, nas últimas europeias.
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No Parlamento Europeu, Isabel Santos é, entre outras funções, membro da Comissão de Assuntos Externos ou da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos.
O dia da eurodeputada é, por isso, "muito intenso". "Como se sabe, as decisões ao nível comunitário são tomadas por consenso. Isso exige um trabalho de concertação muito grande", explica. Em comparação com a Assembleia da República (onde Isabel Santos também foi deputada), "o trabalho é mais intenso", com plenários, reuniões de grupos de trabalho e, no caso da eurodeputada socialista, há ainda a "tentativa de manter o contacto com as pessoas", para tornar a política mais próxima. Neste caso concreto, "não são só cidadãos portugueses, há também de outras nacionalidades, que muitas vezes veem esclarecer dúvidas" sobre as questões que Isabel Santos trabalha, sobretudo os Direitos Humanos.
Mais portas, menos muros
E é precisamente para os Direitos Humanos que a conversa com a eurodeputada segue, com o foco a serem as pessoas que todos os dias tentam chegar à Europa em busca de uma vida melhor e de oportunidades.
Com migrantes a continuarem a morrer no Mediterrâneo (nos primeiros meses do ano, já morreram 225 pessoas em travessias para a Europa. O último naufrágio, a 26 de fevereiro, fez, pelo menos, 62 mortes). Mas Isabel Santos recusa utilizar o termo "crise", preferindo em vez disso falar em "questão migratória" ou "movimentos migratórios". "Quando em 2015 entraram, nas nossas fronteiras, 1,5 milhões de pessoas, começámos a falar de crise migratória. Não era verdade, porque quando a guerra [na Ucrânia] eclodiu, entraram quase 8 milhões de pessoas e ninguém falou em crise", explica.
"Neste momento, devemos ter uma política migratória assente na abertura de corredores humanitários para quem procura asilo e para os refugiados", afirma a eurodeputada. Relembrando que há "narrativas, sobretudo feitas pela extrema-direita" que semeiam "o medo do outro", Isabel Santos considera que essa postura "não é positiva nem para a União, nem para quem vem". Há, por isso, "uma solidariedade europeia que tem de ser robustecida e uma análise profunda de como projetamos o nosso futuro enquanto União".
Enumerando vários exemplos de Estados-membros que começam a ter cada vez mais população envelhecida e, com isso, uma diminuição de pessoas em idade ativa, Isabel Santos sublinha o caso de Portugal, que poderá perder cerca de dois milhões de pessoas em idade ativa. A Alemanha, diz, pode perder cerca de 11 milhões. Olhando para estes dados, "não temos por que construir muros ou fechar portas, negando a possibilidade de uma vida digna e em segurança a quem a procura em solo europeu", diz a eurodeputada. Neste caso, o exemplo português - em que o governo facilita a entrada de pessoas da CPLP que procurem trabalho por cá - é um bom ponto de partida que, no entender da responsável, poderá ser replicado a nível comunitário.
E o futuro?
Sobre os próximos tempos, o que levanta preocupações para Isabel Santos?
Por um lado, um projeto em que está mais envolvida, "a transição do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência, que passará a ser a Agência da UE para a Droga". Além disso, a eurodeputada admite que "existem grandes preocupações" devido à guerra na Ucrânia, e que por isso "a solidariedade deve continuar a ser aprofundada". E, por fim, "as preocupações face ao futuro, de uma transição ecológica e digital justa, que não pode ser esquecida apesar da situação de emergência".
rui.godinho@dn.pt
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