PSD. Foco na mobilização dos militantes e no apelo ao debate
O desafio mantém-se nesta derradeira semana de campanha para as eleições internas no PSD. Jorge Moreira da Silva chama a debate público o opositor, Luís Montenegro. Mas a resposta está dada, um rotundo "não", escudado no argumento de que a agenda não permite e que, tudo aponta, não terá reverso.
"Há a necessidade de um debate entre candidatos", insiste ao DN Carlos Eduardo Reis, diretor de campanha de Jorge Moreira da Silva. E argumenta: "Quando digo um debate, não digo um duelo, mas é importante que o maior partido da oposição se dê ao respeito e que perceba que o mínimo que pode fazer é colocar os dois candidatos a discutir o futuro do partido e do país. Se isso não acontecer, é uma grande falta de respeito não só pelos militantes como pelos portugueses. Não seremos alternativa se fizermos das eleições no PSD um ato de sonambulismo político."
O DN também questionou o diretor de campanha de Luís Montenegro, o antigo eurodeputado social-democrata Carlos Coelho, mas a resposta foi o silêncio. Ou melhor, a resposta já estava dada pelo próprio candidato, que, apesar de "adorar" os debates, alegou agenda preenchida para responder ao desafio. E lembrou que Moreira da Silva testou positivo à covid-19 em plena campanha e isso inviabilizou os que já estavam apalavrados com os canais de rádio e televisão.
Mas se esta é a picardia que marcou e marca o confronto entre os dois candidatos, os diretores de campanha estão mais preocupados com a dinâmica da última semana, sendo que o balanço de ambos é muito positivo sobre o caminho percorrido até aqui, embora com alguma apreensão à mistura.
"Retiro da campanha que é necessário mobilizar os militantes, vejo algumas pessoas um pouco desmobilizadas e isso é sensível no universo eleitoral menor do que nas últimas diretas, e que já não foram propriamente um sucesso", afirma Carlos Coelho, apontando à redução do universo de militantes com quotas pagas e com capacidade de escolher o novo líder.
Mas o diretor de campanha do antigo líder parlamentar do PSD afirma que toda a campanha valeu a pena. "Vejo muitas pessoas que não conheciam bem Luís Montenegro a consolidarem uma opinião positiva depois de falarem com ele, o que corrobora a ideia que tínhamos no início de que era preciso multiplicar as oportunidades de encontro do candidato com os militantes. Pô-lo a percorrer o país. Vejo as pessoas com vontade que o partido tenha uma guinada para a frente, que tenha um espaço de oposição mais forte ao PS, mas também de maior coesão interna."
Carlos Eduardo Reis, deputado e homem forte do PSD de Braga, sinaliza o cansaço eleitoral que se abateu no PSD - que passou por duas eleições internas em pouco tempo e as europeias, autárquicas e legislativas - para sublinhar a tarefa de "mostrar aos militantes e à sociedade civil que era importante debater o futuro do partido, a tarefa mais difícil perante uma maioria absoluta do PS e perante a situação internacional que mudou completamente desde as últimas diretas e as legislativas, com uma guerra na Europa".
A segunda fase, diz o diretor de campanha de Moreira da Silva, foi mostrar aos militantes as diferenças entre o projeto do candidato e o do "concorrente". "Nesse sentido, com certeza que gostaríamos que a campanha fosse mais longa e que tivéssemos mais tempo. Agora dentro do que temos tido, acho que o aproveitámos ao máximo. Este percalço do Jorge ter apanhado covid não ajudou à agenda, mas o balanço que faço é positivo, porque onde temos ido temos sentido apoio, onde Jorge Moreira da Silva tem falado e tem explicado o seu programa tem surtido efeito", garante.
Das ideias que rolaram nestes dias de vaivém ao encontro dos militantes, Carlos Coelho não considera que a da "pacificação" do partido seja a mais importante. "Quando Luís Montenegro diz que vai construir um projeto alternativo, que começou com a ideia do Movimento Acreditar, parece-me que vai ao encontro do que as pessoas pedem, que o PSD seja oposição e que construa uma alternativa ao PS."
Carlos Eduardo Reis destaca da mensagem de Jorge Moreira da Silva a ideia de que é preciso assentar no crescimento económico a base do desenvolvimento do país e da resolução dos problemas nacionais. "O crescimento económico é a pedra de toque, mas não o fazendo de qualquer maneira, fazendo-o com sustentabilidade em várias áreas, desde a segurança social à saúde, mas também no ambiente." Há ainda, frisa, a ideia da necessidade de alterar a mensagem do partido, de a tornar mais moderna e mais eficaz.
Cada diretor de campanha, como é óbvio, acredita que o seu candidato é a melhor solução para a sucessão de Rui Rio. Carlos Coelho sublinha as capacidades de liderança de Luís Montenegro e a de comunicação. "Sabe liderar equipas, tem uma ideia para o país, conhece bem o partido e é aquela pessoa que neste momento acho que melhor conseguirá construir uma solução de consenso e unidade. Porque o partido precisa disso no momento atual, não precisa de mais guerras internas, precisa de um esforço de pacificação interna", frisa Carlos Coelho.
Além do projeto que propõe para o PSD e o país, Carlos Eduardo Reis explica o que o levou a apoiar e a ser diretor de campanha de Jorge Moreira da Silva: "Quando se olha para alguém que deixou de forma desprendida tudo para trás, uma carreira internacional em pleno mandato, que até podia ser renovado (diretor na OCDE), e vem sacrificar-se porque acredita que pode fazer a diferença no partido e no país, quem seria eu para não estar disponível para mais este combate?"
E que erros Montenegro e Moreira da Silva não podem cometer se forem eleitos presidentes do maior partido da oposição?
"Luís Montenegro tem de ser fiel ao que tem dito e ao que tem mostrado, que é uma grande capacidade de contacto com os militantes, e isso deve continuar. Ele tem demonstrado uma grande vontade de apresentar uma alternativa, em que a política não é na base de construções teóricas ou filosóficas ou de cálculos eleitorais, mas pela voz das pessoas, encontrando respostas concretas para os seus problemas."
Já sobre a linha justa de Moreira da Silva se ganhar as diretas, o seu diretor de campanha afirma: "Não pode fechar o partido em si. Além de ter de fazer a união com critério, com pessoas que acrescentem, tem de ir buscar gente de fora." E acrescenta ainda: "Há pessoas que querem participar na vida do PSD mas que não moram em Lisboa e há que dar oportunidades iguais aos mesmos militantes e aos que querem participar, não no PSD de Alfândega da Fé ou de Oliveira do Hospital, mas sim no PSD do ambiente, da sustentabilidade, das finanças, do crescimento económico. Temos de alargar a nossa base consoante a vontade de participação dos militantes, e isso faz-se muitas vezes não entregando um cartão às pessoas, não filiando as pessoas, mas chamando essas pessoas para causas. E o Jorge é a pessoa mais competente e mais preparada para poder fazer este caminho de chamar as pessoas, independentemente da sua filiação, para os temas que são importantes debater para o futuro do país."
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