“Farsismo nunca mais”, diz Rui Tavares a um Ventura que o acusou de ser amigo de Putin

“Farsismo nunca mais”, diz Rui Tavares a um Ventura que o acusou de ser amigo de Putin

Foi mais a berraria do que a troca de ideias, num debate entre Livre e Chega que baixou o nível como poucas vezes aconteceu nestes frente a frentes. Rui Tavares denunciou a utilização da imagem dos seus filhos, André Ventura acusou-o de “hipocrisia”.
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Rui Tavares começou o debate com André Ventura com uma nota inicial que haveria de marcar todo o confronto. Tavares revelou que os seus filhos foram fotografados consigo num pátio da escola internacional privada e que as imagens foram partilhadas nas redes sociais para demonstrar “uma pseudo-hipocrisia” o facto de não estarem na escola pública. O líder do Livre considera que isso foi potenciado pela forma como o deputado do Chega Pedro Frazão trouxe o tema para o plenário da Assembleia da República duas vezes.

Para o provar, Tavares levou dois exemplares do Diário da República, nos quais se transcrevem as intervenções feitas por Frazão em plenário, nas quais ataca a suposta hipocrisia de um deputado que defende a escola pública e tem os filhos no privado. “Fez uma arma de arremesso político, que depois dá nestas coisas”, apontou o deputado do Livre, dizendo que os deputados do Chega “geram um ambiente” que leva a situações como esta e que, depois, “a segurança de crianças é posta em causa”.

Tavares procurou desmontar a tese da hipocrisia, explicando que em sua casa “as responsabilidades parentais são partilhadas” e que a sua mulher, sendo diplomata, tem os filhos na escola internacional para que, quando for colocada noutro posto diplomático, as crianças não percam o ano. “Há um limiar de decência mínima que ninguém deve ultrapassar”, disse.

Ventura ataca “hipocrisia” de Tavares por causa de escola dos filhos

Se Tavares esperava que André Ventura se retratasse, enganou-se. Ventura passou ao ataque e explorou precisamente o que entende ser a hipocrisia de Rui Tavares. “Hoje vai ficar com o epíteto da maior hipocrisia política que eu alguma vez vi num debate”, afirmou.

Rui Tavares tentou demonstrar que a hipocrisia está do lado do Chega, apontando a forma como Ventura defende Viktor Orban ao mesmo tempo que se apresenta como um paladino da luta contra a corrupção. “Orban, o genro, o cunhado, os amigos são todos os homens mais ricos da Hungria”, notou, frisando que não o eram antes de o húngaro chegar ao poder.

Na mesma linha de raciocínio, Rui Tavares foi buscar o exemplo de Donald Trump,  que prometeu lei e ordem e “não saiu do poder antes de escaqueirar o Capitólio” e o de Jair Bolsonaro, que prometeu limpar o país e “não saiu sem se defecar no Palácio do Planalto”.

“São os farsantes”, atacou Tavares, depois de explicar o debate que na academia hesita em classificar estas figuras da família política de André Ventura como
extrema-direita ou nacionalistas populistas. “Farsismo nunca mais”, disse, provocando uma escalada de reação de Ventura.

“Vocês são a pior hipocrisia”, reagiu o líder do Chega, que vinha com várias folhas impressas para mostrar. Uma delas era para dizer que Rui Tavares fez parte do European Alternative, uma organização financiada pelo “maior oligarca do mundo, George Soros”, um homem que acusou de financiar “a ideologia de género”.

“Nunca recebi um tostão. Fiz parte de um conselho consultivo”, ripostou Rui Tavares, frisando que este tipo de afirmações faz lembrar “as mentiras que na História já foram mentiras assassinas”.

Quem é mais amigo de Putin?

Rui Tavares também vinha munido de imagens e uma delas era de Mateo Salvini, o político que André Ventura apontou já como sendo o que mais admira atualmente. “O seu líder de referência tem como referência Vladimir Putin”, atacou, mostrando uma fotografia de Salvini com uma t-shirt com a imagem do presidente russo.

Quando houver eleições para o Parlamento Europeu, defendeu Tavares, os eurodeputados do Chega “irão para o grupo mais pró-Putin da União Europeia”.

Ventura foi buscar uma notícia na qual o Papa Francisco agradece à Hungria por ter aberto as suas portas aos refugiados da Ucrânia. “Não me vem dar lições de moral”, atacou o líder do Chega, que começou a tentar colar Rui Tavares aos regimes da Venezuela e de Cuba, que disse estarem do lado da Rússia contra a Ucrânia. Tavares foi negando, mas Ventura foi repetindo a acusação.

De outros temas, falou-se pouco e quase sempre neste registo, com Ventura a acusar Rui Tavares de querer libertar todos os presos e Tavares a apontar as falhas nas propostas de aumentas de penas para a corrupção e confisco de bens – notando aliás, que na Europa, trabalhou na definição de uma diretiva europeia que permite precisamente confiscar bens que sejam produto de corrupção.

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