A sucessão de Jerónimo de Sousa por Paulo Raimundo na liderança do PCP continua a suscitar episódios inéditos face ao historial do partido nestes processos, pelo menos depois do 25 de Abril..Primeiro foram as revelações do próprio Jerónimo, furando o sigilo absoluto do partido sobre o que se passa dentro do Comité Central, quando admitiu que ali a escolha de Paulo Raimundo suscitou "alguma surpresa". Depois, não menos extraordinário, foi o facto de o ainda líder ter admitido, "porque o rigor dos números nesta matéria é importante", que a solução não mereceu apoio unânime mas apenas uma "ampla convergência"..CitaçãocitacaoBernardino Soares, João Oliveira ou João Ferreira. "Qualquer um reunia condições para assumir as responsabilidades de secretário-geral.".Esta terça-feira, novo facto inédito. Uma das mais importantes figuras do sindicalismo do PCP, Arménio Carlos, líder da CGTP de 2012 a 2020, veio a público, numa entrevista à rádio do Observador, dizer que a escolha de Raimundo foi "uma surpresa" não só "para a opinião publica" como também para "a generalidade dos militantes" dado que "as perspetivas apontavam para outros" membros do partido, como, segundo reconheceu, Bernardino Soares, João Oliveira ou João Ferreira ("qualquer um reunia condições para assumir as responsabilidades de secretário-geral")..Citaçãocitacao"Não se pode negar o óbvio: a posição inicial do PCP de não abordar a invasão da Ucrânia gerou imediatamente uma contestação generalizada.".Arménio Carlos - que integrou o Comité Central do PCP de 1988 a 2020 - não hesitou na entrevista em exigir do seu partido, agora com Paulo Raimundo à frente, que dê um "salto qualitativo" para "ultrapassar os problemas" que "decorrem" tanto "do declínio eleitoral [do partido]" como da sua "posição inicial" face à guerra da Ucrânia, "que não caiu bem junto da opinião pública". É que "não se pode negar o óbvio: a posição inicial do PCP de não abordar a invasão da Ucrânia gerou imediatamente uma contestação generalizada" e isso depois "gerou dificuldades". "A posição inicial do PCP deveria ter sido: "O PCP condena a invasão da Ucrânia mas isto não acontece por acaso, é o resultado de uma politica desenvolvida desde 2014 e que atingiu níveis cada vez mais preocupantes com a pressão que estava a ser feita sobre a comunidade russófona de Donetsk", afirmou..Citaçãocitacao"Acho que ele é um bom camarada mas isto é como tudo na vida: precisa de ter o seu espaço, precisa de se ir afirmando e precisa do apoio dos militantes do partido.".Na entrevista, Arménio fragilizou o currículo de Raimundo no trabalho sindical dizendo que o futuro líder do partido não fazia "o acompanhamento central do movimento sindical" mas apenas "o acompanhamento de um ou outro setor de atividade"..Agora, concluiu, o futuro líder tem dois "grandes desafios": por um lado, "demonstrar aos militantes e ao eleitorado do PCP e da CDU" que "pode continuar a contar com um PCP interveniente, incisivo e dinâmico"; por outro, fazer com que "esta mensagem seja alargada à população em geral". "Acho que ele é um bom camarada mas isto é como tudo na vida: precisa de ter o seu espaço, precisa de se ir afirmando e precisa do apoio dos militantes do partido.".Esta terça-feira, Jerónimo de Sousa renunciou ao mandato de deputado, sendo substituído por Duarte Alves. Jerónimo fará o discurso de despedida da liderança no sábado de manhã, a abrir os trabalhos da Conferência Nacional que o partido convocou para o fim de semana. Pelas 19.00, reunirá o Comité Central para confirmar a escolha de Paulo Raimundo..joao.p.henriques@dn.pt