Direita aproveita desgaste do PS e passa a esquerda pela primeira vez

Cenário é inédito nos barómetros, desde o arranque, em julho de 2020. Socialistas perdem sete pontos face às Legislativas e os sociais-democratas acrescentam dois.

É um cenário inédito nos últimos dois anos: o conjunto de partidos da direita já vale mais do que a soma da esquerda, de acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Mais do que o crescimento do PSD (30,9%), é o desgaste do PS (34,5%) que contribui para este cenário virtual, com os dois principais partidos separados por menos de quatro pontos. O Chega mantém-se isolado no terceiro lugar (8,9%) e a Iniciativa Liberal no quarto (6,7%), com BE (3,8%) e CDU (3,2%) já distantes. Seguem-se PAN (3%), Livre (2,1%) e CDS (1,9%).

Oito meses depois de vencerem as eleições Legislativas com maioria absoluta, os socialistas perdem um pouco mais de um ponto percentual face a julho, e sete se a comparação se fizer com janeiro. O aumento do custo de vida e as medidas do governo para lhe fazer frente ajudarão a explicar a erosão. Como revelámos na passada sexta-feira, é grande a contestação à solução encontrada, por exemplo, para as pensões, sobretudo entre a população mais velha. E essa desilusão faz-se notar nas intenções de voto: o PS ainda está à frente do PSD nos inquiridos com 65 ou mais anos, mas a diferença passou de nove para apenas três pontos.

Direita mais forte

Assim, não só António Costa não conseguiria agora renovar a maioria absoluta, como a sua margem para conseguir formar uma maioria desapareceria. Uma hipotética geringonça com toda a esquerda parlamentar valeria nesta altura cerca de 44 pontos percentuais (bem longe dos 51 que somava em janeiro), menos três que o conjunto dos três partidos mais à direita, que valem agora cerca de 47 pontos (41 nas últimas Legislativas). Se à esquerda se juntasse o PAN, e à direita o CDS, esta última continuaria em vantagem (dois pontos). Não é feito menor: nunca aconteceu ao longo desta série de barómetros, ou seja, desde julho de 2020.

Quando se comparam os resultados atuais com o barómetro anterior (julho), há mais dois partidos em baixa, mas em patamares muito diferentes. Apesar de perder 1,3 pontos, o Chega consegue manter o terceiro lugar e fica quase dois pontos acima do seu resultado de janeiro. E mostra força nas regiões norte, centro e sul do país. O cenário é mais sombrio para o BE: perde quase dois pontos (um face às Legislativas) e fica apenas umas décimas acima da CDU e do PAN, alcançando o seu melhor resultado na Área Metropolitana de Lisboa.

Liberais em alta

Em alta, e para além do PSD de Luís Montenegro, está a Iniciativa Liberal, sobretudo quando se compara com o último ato eleitoral (ganha quase dois pontos). E confirma-se a tendência para uma maior implantação nas grandes cidades: os liberais seriam o terceiro maior partido no Porto e em Lisboa.

Ainda no que diz respeito à distribuição geográfica e concretamente à luta entre os dois maiores partidos, este barómetro mostra que os sociais-democratas juntaram a Região Centro ao Norte, que já detinham (ainda que aqui a vitória seja agora por uma escassa décima). Os socialistas destacam-se nas áreas metropolitanas. Já era assim em Lisboa, mas agora juntam-lhe uma liderança sólida no Porto.

Líder dos liberais é o único acima da linha de água

O liberal João Cotrim de Figueiredo é o único sobrevivente à vaga de avaliações negativas aos líderes partidários. Fica em primeiro lugar, com saldo positivo de seis pontos. António Costa afunda-se, a exemplo do seu governo e do seu partido, enquanto Luís Montenegro continua um ponto abaixo da linha de água, sem causar irritação, mas também sem entusiasmar. Mas, no que diz respeito a rejeição, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia que ninguém bate o comunista Jerónimo de Sousa.

O secretário-geral do PCP até melhora ligeiramente face ao barómetro de julho, mas fica com um saldo negativo de 44 pontos. Mesmo entre os que votam na CDU, cerca de um quarto dão-lhe avaliação negativa. O seu companheiro do fundo da tabela, André Ventura (saldo negativo de 31 pontos), não tem o mesmo problema: a percentagem de eleitores do Chega que lhe dá nota negativa é residual.

Quando se analisam os diferentes segmentos em que se divide a amostra percebe-se que o comunista atinge o máximo de rejeição na Área Metropolitana de Lisboa, enquanto o radical de Direita desce ao fundo no Porto. E que ambos são criticados, em particular, pelos eleitores mais velhos (em todos os casos referidos estão acima dos 60% de avaliações negativas).

Campeonato da indiferença

Analisando os resultados do único líder com saldo positivo, João Cotrim de Figueiredo, fica claro que isso também se deve, em larga medida, à relativa indiferença com que é avaliado: 56% dos inquiridos ou o avalia como "assim-assim" ou nem sequer dá opinião. Mas o liberal nem é o pior no campeonato da indiferença. Quem lidera é Rui Tavares (64%), do Livre, seguido de Nuno Melo (61%), do CDS, e Inês Sousa Real (57%), do PAN.

Luís Montenegro sofre de um problema semelhante, uma vez que 54% não têm do social-democrata uma opinião nem boa, nem má. Quando se analisam as respostas das diferentes faixas etárias, percebe-se que o melhor resultado do líder do PSD é entre os que têm 65 ou mais anos (tanto na percentagem de avaliações positivas como no saldo positivo de nove pontos). O rival socialista, que foi sempre o grande campeão dos mais velhos, sofre um revés: o saldo de António Costa entre os pensionistas é de 14 pontos negativos e são também estes os que lhe dão mais avaliações negativas (46%).

Se o ângulo mudar para a geografia, Luís Montenegro consegue um saldo positivo nas regiões norte e centro, e os piores resultados nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa (saldos negativos de dez pontos). Mas António Costa não se fica a rir, nem sequer nas grandes metrópoles, porque também é aqui que tem os seus piores resultados (saldos negativos de 17 pontos).

FICHA TÉCNICA

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política. O trabalho de campo decorreu entre os dias 21 e 24 de setembro de 2022 e foram recolhidas 810 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 810 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,44%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

rafael@jn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG