"A democracia continua a ser o melhor regime, e isso são boas notícias, mas os políticos têm de ser melhores." A mensagem é clara e foi deixada por Ayesha Hazarika, comentadora política, no final do debate "Como impedir a destruição da democracia?", que aconteceu na quinta-feira no Quartel do Carmo, em Lisboa, lugar emblemático ligado ao 25 de Abril de 1974. O encontro, que juntou os académicos norte-americanos Daniel Ziblatt e Sheri Berman, foi o último ponto da conferência "Cinco Décadas de Democracia, que futuro?", organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), a propósito do 25 de Abril..Focando-se numa perspetiva global sobre o estado da democracia, os oradores analisaram a evolução e o estado dos regimes democráticos. Apesar das ameaças, como o populismo e a desinformação, o sentimento é de otimismo. Porquê? "As democracias podem autocorrigir-se", refere Sheri Berman, professora na Universidade de Columbia, pegando em algo já discutido antes por Daniel Ziblatt. E exemplifica: "Tivemos, há pouco tempo, atentados terroristas na Europa, imensos tiroteios e protestos enormes nos Estados Unidos, e ainda assim as democracias conseguiram recalibrar-se. E essa habilidade existirá se não deixarmos o regime degradar-se. Até líderes como Viktor Órban [presidente húngaro] ou Erdogan [presidente turco] não conseguem mudar drasticamente." Já Daniel Ziblatt, professor na Universidade Harvard, considera que "ao fim e ao cabo, a democracia é competição. É sobre ter a liberdade de poder escolher, e é bom quando isso acontece", referiu..Antes, a plateia completamente lotada - com alguns rostos como Aníbal Cavaco Silva, ex-Presidente da República, ou Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD e ex-ministro - assistiu à apresentação do livro O Essencial da Política Portuguesa, recém-editado pela Tinta da China em parceria com a FFMS. Na apresentação, Pedro Magalhães, um dos três coordenadores da obra, reforçou o papel importante que este compêndio tem no panorama académico português. Ao todo, são oito partes, quase mil páginas ("É o essencial, isso demonstra, julgo, o interesse pelo tema e a complexidade", disse). E mais do que uma mensagem transversal, o que o livro permite é, como assumiu o académico, um retrato geral sobre Portugal. "É um livro plural. É composto por 48 capítulos", que vai desde a análise histórica ao sistema político português, passando pelos movimentos sociais e pelas políticas públicas, terminando a focar-se na Defesa Nacional. Além de Pedro Magalhães, também os investigadores António Costa Pinto e Jorge Fernandes coordenaram a obra, composta por artigos científicos de outros académicos..rui.godinho@dn.pt