De Lisboa para o país, candidatos à câmara não faltam à chamada
A corrida autárquica à principal câmara é sempre intensa e muito disputada. É uma espécie de palco de Lisboa para o país, onde se fazem até Presidentes da República, no caso Jorge Sampaio, e primeiros-ministros, como António Costa ou Pedro Santana Lopes. Mas também pode ser um palco para tentar reanimar partidos, tal é o peso que o município tem na geografia política nacional. Exemplo disso mesmo é a candidatura de Rui Tavares à presidência da câmara pelo Livre, num momento em que o partido ainda negoceia uma eventual coligação pré-eleitoral com o agora recandidato Fernando Medina.
O cabeça de lista do PS tardou - como fazem quase todos os candidatos no poder -, mas na segunda-feira arrancou para a campanha ao lado do secretário-geral do partido e primeiro-ministro, António Costa.
Evitando terreno armadilhado até às eleições, ou o caso conhecido como Russiagate - o envio de dados pessoais de ativistas para as embaixadas -, Fernando Medina apontou à resolução dos problemas que a pandemia trouxe à cidade. "Quero ser muito claro: nada neste tempo se sobreporá à nossa missão de proteger Lisboa e os lisboetas. Nenhuma ação nos distrairá do fundamental: auxiliar os mais necessitados, apoiar a economia e o emprego, promover a testagem em massa, apoiar a aceleração da vacinação", afirmou o autarca, que já em modo pré-eleitoral passou em revista as medidas tomadas até agora no âmbito do programa municipal Lisboa Protege. Rendas acessíveis, creches gratuitas, passe único foram bandeiras que hasteou. E também não se deteve nas críticas de que tem sido alvo por parte do seu principal adversário, o social-democrata Carlos Moedas.
Moedas, que corre pela coligação PSD/CDS/MPT/PPM e Aliança, foi uma das vozes que explorou o caso e pediu mesmo a demissão de Medina. O candidato tem andado muito no terreno, porque, mesmo tendo sido comissário europeu e secretário de Estado adjunto de Passos Coelho, precisa de firmar a sua notoriedade junto dos eleitores lisboetas.
Este candidato tem vindo a acenar com um novo modelo de gestão da Câmara de Lisboa, nomeadamente a proposta da criação de uma assembleia de cidadãos permanente e um modelo de cidade de proximidade, em que cada bairro esteja dotado de todo o tipo de equipamentos, incluindo os culturais.
Já Rui Tavares, historiador , escolhido em primárias no partido, assumiu, em entrevista ao Expresso, que o regresso a este combate eleitoral tem o propósito de dar um novo fôlego à força política que ajudou a fundar, depois do revés que sofreu com a saída de Joacine Katar Moreira. A deputada, agora independente, entrou em confronto com o Livre, que pela primeira vez tinha conseguido eleger um representante na Assembleia da República.
Rui Tavares vai agora à luta com mais oito candidatos na esperança de que a mensagem do seu partido chegue para que nas próximas eleições legislativas volte a ter a capacidade de mobilizar um eleitorado mais vasto. E também já tem bandeiras para Lisboa: entre várias medidas, propõe um programa de renovação de casas e de locais de trabalho para melhorar o isolamento térmico e a eficiência energética; um meio de transporte alternativo, Os Amarelinhos, que são miniautocarros elétricos para servir o transporte escolar e ajudar também os cidadãos com mobilidade reduzida.
O Bloco de Esquerda aposta em Beatriz Gomes Dias, a deputada bloquista que tem sido responsável na Assembleia da República pelas áreas de combate ao racismo, de defesa dos direitos dos migrantes e pela área da cultura. O BE volta a entrar na corrida a solo em Lisboa, depois de uma má experiência com o cabeça de lista que escolheu em 2017, no caso Ricardo Robles (que tinha conseguido 7,14%). Isto porque em julho de 2018 o então vereador bloquista renunciou ao mandato na sequência do polémico caso da venda de um prédio em Alfama, de que era proprietário, para criação de apartamentos de alojamento local.
A CDU volta ao clássico João Ferreira para disputar a presidência da Câmara de Lisboa. O eurodeputado comunista foi também o protagonista da candidatura à Presidência da República nas últimas eleições.
O partido de André Ventura, que concorre pela primeira vez a estas eleições, pôs na corrida um comunicador: Nuno Graciano, protagonista de diversos programas de entretenimento da TVI, SIC e CMTV. Os dirigentes do Chega defendem que a personalidade escolhida é conhecida "dos portugueses como um lutador e um homem de convicções, sem qualquer vestígio de politicamente correto, representando, desta forma, aquele que é o espírito do partido".
O Iniciativa Liberal, que também concorre pela primeira vez à Câmara de Lisboa, teve um desaire com a escolha do primeiro candidato, Miguel Quintas, que desistiu poucos dias após ter assumido a candidatura e invocou "motivos pessoais". Acabou por ser um dos fundadores do partido, Bruno Horta Soares, a tomar o seu lugar.
Seis meses depois de fazer o primeiro congresso, o recém-nascido Volt vai às suas primeiras eleições - com o presidente, Tiago Matos Gomes. O candidato do partido pan-europeu declarou concorrer em nome de uma cidade mais humanizada, verde, cuidada e cujos cidadãos participem na decisão.
Pelo PAN corre a escritora e ex-jornalista Manuela Gonzaga. Com esta candidatura, o partido visa dar continuidade ao trabalho pelas causas do PAN em Lisboa, cidade onde elegeu nas últimas eleições um grupo municipal com dois deputados.
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