Críticas a António Costa já se ouvem no interior do PS
Primeiro-ministro censurado por dois seus ex-ministros. Em causa a entrevista à "Visão". Alexandra Leitão e Pedro Siza Vieira assumem publicamente "desconforto".
Relacionados
O teor de uma entrevista à Visão e as declarações irritadas que fez na quinta-feira passada sobre a ausência de um contacto telefónico com Carlos Moedas por causa das cheias em Lisboa ("ele também não me telefonou quando tive a casa inundada") colocaram o primeiro-ministro na mira de personalidades da direita - Paulo Portas e Luís Marques Mendes - mas também na de ex-ministros seus. No caso, Alexandra Leitão, ministra de 2015 a 2019 e agora deputada do PS, e Pedro Siza Vieira, independente, advogado, e ministro da Economia também no segundo governo de António Costa.
"Esta maioria absoluta está no início e não quero que seja uma maioria absoluta em declínio."
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Falando no "Princípio da incerteza", programa semanal da TSF e CNN onde discute a atualidade política com José Pacheco Pereira e António Lobo Xavier, Alexandra Leitão disse ter visto nas últimas declarações do chefe do Governo "um déjà vu relativamente a outras maiorias absolutas, até com repetição de algumas das palavras utilizadas noutras maiorias". Assumindo o "desconforto", acrescentou: "Esta maioria absoluta está no início e não quero que seja uma maioria absoluta em declínio."
A ex-ministra parecia estar a referir-se à declaração na entrevista à Visão onde Costa pediu à oposição para que se conforme com a ideia de que este governo é para quatro anos. Dirigindo-se especificamente ao PSD, afirmou: "Estão furiosos e ainda não digeriram a fúria [com a maioria absoluta obtida pelo PS]. Andam, desde o dia 30 de janeiro, a remoer. Habituem-se. Vão ser quatro anos, e habituem-se a viver com a escolha dos portugueses."
"Os queques, quando tentam guinchar, ficam ridículos perante o vozeirão popular que o Ventura consegue fazer."
No mesmo programa, os outros dois comentadores, Pacheco Pereira e Lobo Xavier (respetivamente ex-líderes parlamentares do PSD e do CDS) também censuraram Costa pela forma como se referiu à Iniciativa Liberal. Segundo o PM, a IL quer no Parlamento "guinchar um bocadinho mais alto do que o Chega". Ora isso "fica ridículo" porque "os queques, quando tentam guinchar, ficam ridículos perante o vozeirão popular que o Ventura consegue fazer". Para Lobo Xavier esta foi uma declaração "absolutamente imprópria" e para Pacheco Pereira uma "má educação".
"Cair na húbris"
Outro ex-ministro de Costa, Pedro Siza Vieira - foram aliás colegas em Direito - também assumiu "desconforto": "É uma entrevista de alguém que está completamente instalado, muito confortável na sua posição, híper-confiante, e é aí que alguma coisa dá uma sensação de desconforto a quem lê", disse.
"É uma frustração mesmo e um homem frustrado tende a ser irritado, intranquilo. Isto é humano."
Falando no programa "Bloco Central", na TSF, Siza Vieira considerou mesmo que Costa se expressou com "uma maneira de falar que me sugere aquela expressão grega, húbris": "Aquela tentação, aquele sentimento de quem que se sentia infalível e que punha em causa os deuses". Dizendo que há "muito indícios" que fazem recordar as maiorias de Cavaco Silva, o ex-ministro da Economia concluiu: "Sabemos que nas tragédias gregas aqueles que se deixavam cair na húbris acabavam por depois não ter um final muito feliz."
Domingo à noite, na SIC, Luís Marques Mendes, comentador político, ex-líder do PSD e conselheiro de Estado (designado pela quota pessoal do Presidente da República) pôs a irritação do primeiro-ministro à conta da "frustração" por não poder cumprir o sonho de transitar em 2024 para um alto cargo europeu. "É uma frustração mesmo e um homem frustrado tende a ser irritado, intranquilo. Isto é humano."
Partilhar
No Diário de Notícias dezenas de jornalistas trabalham todos os dias para fazer as notícias, as entrevistas, as reportagens e as análises que asseguram uma informação rigorosa aos leitores. E é assim há mais de 150 anos, pois somos o jornal nacional mais antigo. Para continuarmos a fazer este “serviço ao leitor“, como escreveu o nosso fundador em 1864, precisamos do seu apoio.
Assine aqui aquele que é o seu jornal