Coimbra. Coligação contra Machado diz ter "potencial de 46%"

Movimento que junta PSD, CDS, Nós Cidadãos, PPM, Volt, RIR e Aliança acredita na queda de Manuel Machado e tem uma certeza: "Ele só fica se for presidente." CDU está disponível para entendimentos pós-eleitorais com PS ou com coligação "de PSD". PS acredita numa vitória curta.
Publicado a
Atualizado a

Perdemos população [1,8% entre 2001 e 2021], 2600 pessoas são muitas famílias, mas se olharmos em redor vemos o contrário: Aveiro cresceu 3,1%, Leiria 1,4% e Viseu 0,4%. E se recuarmos mais uns anos, se formos até 2001, é pior: Coimbra perdeu quase 5% da população. Estamos com um problema demográfico grave... perdemos 50% dos jovens entre os 25 e os 29 anos. Somos o segundo pior concelho do país. E tudo isto tem uma explicação simples: falta de emprego e políticas erradas, desajustadas, da câmara. Olhe para a faixa etária 15-64 anos e verá que ficámos sem quase 20% da população ativa. E depois temos o envelhecimento: o índice de envelhecimento [número de pessoas acima dos 65 anos por cada cem pessoas abaixo dos 15] de Coimbra é de quase 206 quando a média nacional é de 165."

O diagnóstico de José Manuel Silva, candidato da coligação Juntos Somos Coimbra que junta PSD, CDS-PP, Nós, Cidadãos, PPM, Volt, RIR e Aliança, afirma que a marca "Coimbra, que é uma marca poderosa, entrou em declínio e isso reflete-se nos investimentos nas empresas, no emprego disponível. Coimbra perdeu 7% de emprego nas empresas quando o país cresceu 13%. Mas podemos comparar com o que se passa aqui à volta: os concelhos vizinhos cresceram 8% e a região centro 7%. Os oito anos da governação PS/PCP deixou-nos no terceiro lugar... dos últimos".

"Braga, por exemplo, produz quatro vezes mais do que Coimbra. Não há novas empresas a investir em Coimbra, há uma completa ausência de estratégia de desenvolvimento.... é preciso dar a volta a isto. Falei-lhe da marca Coimbra... sabe em que lugar estamos nas pernoitas, o número médio por turista? 249.º lugar em 308 concelhos. E somos o 230.º no rendimento que conseguimos captar com turistas. É por isso que estou confiante... que vamos ganhar as eleições, ganhar para bem de Coimbra", acredita o candidato.

"Ouvimos o outro candidato falar numa Coimbra que ninguém conhece", diz José Manuel Silva, "mas a verdade é outra. Sabe quantas empresas vieram investir em Coimbra nos últimos oito anos? Zero, nenhuma." E não há investimento porquê? "Porque fica tudo na gaveta, tudo demora eternidades. Dou-lhe dois exemplos: faz sentido alguém estar seis anos à espera de uma autorização para uma área coberta? Ou que uma licença de construção demore 23 meses?" E como se resolve isso? "Não há nenhum segredo, não tem segredos. As leis são iguais em todo o país. É aplicar a lei, acelerar o funcionamento da câmara." Só isso, basta isso? "Basta, é o suficiente... sim. Veja, por exemplo, a utilização dos fundos europeus para investidores: em Cantanhede ao fim de 30 dias está tudo resolvido... Coimbra demora três anos. Um presidente não é para andar a ver o tamanho das rotundas. Há obras com anos de atraso nas freguesias."

José Manuel Silva diz ter "a fortíssima convicção, é uma certeza humana"de que vai ganhar as eleições. "Temos um potencial de 46%." 46%, como? "Veja as forças políticas envolvidas nesta coligação e os resultados que, por exemplo, já foram obtidos há quatro anos. E estamos unidos, você não ouve ninguém dizer o contrário, não há divisões. Quer dizer... ouve o PS que tenta explorar o que não existe. Já o PS não tem potencial de crescimento. O Manuel Machado puxa sempre o PS para baixo. Nós não prometemos aeroportos onde eles não cabem. E depois há uma diferença clara: nós ficaremos cá... o Manuel Machado só fica se for presidente."

Francisco Queirós, candidato da CDU, vereador com o pelouro da habitação social (o único dos vereadores não socialistas com pelouros atribuídos), assegura estar "disponível para assumir um pelouro no executivo desde que os princípios do PCP sejam respeitados, sem pressão". Uma disponibilidade para "participar com o PS", mas também com "a coligação do PSD"(PSD-CDS/PP-Nós, Cidadãos-PPM-Volt-RIR-Aliança). "Votaremos contra quando tivermos que votar contra, mas procuraremos sempre entendimentos", afirma.

O candidato da CDU "obviamente"acredita que vai "ser eleito" - "somos a terceira força política" - e espera "reforçar" o número de eleitos (atualmente a CDU tem um vereador, dois eleitos na Assembleia Municipal e duas juntas de freguesia em 18), "apesar de ser difícil passar de um para dois vereadores". E a coligação liderada por José Manuel Silva? "É um homem de direita, não é um independente...está onde sempre esteve. A coligação não nos afeta. O povo dirá o que quer no dia 26."

Francisco Queirós diz ser "urgente mudar muita coisa em Coimbra, a começar pela postura: ter uma câmara de portas abertas e não um presidente que centraliza tudo. É preciso fazer outro caminho, ter uma máquina mais ligeira e mais transparente... é pesada. Todos se queixam de que as coisas não avançam porque se demora muito tempo". Estagnou? É o declínio de que muitos candidatos falam? "É um pouco isso, sim. Um pouco como o resto do país. Precisamos de uma economia produtiva e não especulativa, de industrialização de ponta. Há dificuldades, pouco investimento. É preciso dar passos largos para ter emprego de qualidade e isso não existe aqui."

Jorge Gouveia Monteiro, candidato do movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), que foi vereador CDU entre 1997 e 2009 (saiu do PCP em 2017) e que conta com o apoio do BE, faz questão de separar as águas entre o seu movimento e o de José Manuel Silva. "Não somos um movimento de agora... quem foi para os braços da direita foi o JSC (Juntos Somos Coimbra), aquela imposição do Rui Rio. E há muita gente insatisfeita com isto, ficou um puzzle complexo, muitos votos em trânsito de gente que não se revê naquele movimento. É uma coisa que não se sabe bem o que é... é um contraplacado."

O candidato do CpC (movimento que obteve em 2017 mais de 7% dos votos) assegura "estar a ganhar terreno, mas sabemos que leva tempo", e diz existir na gestão do socialista Manuel Machado um "desperdício de dinheiro", "obras mal feitas, injustificadas", "pavimentações que não eram prioridade" quando, por exemplo, "não há uma creche pública. Fica mais caro ter um filho na creche do que na universidade". "Há prioridades e repare que a câmara tem cerca de 400 mil euros por dia e não sabe fazer uso do que tem, não é por falta de dinheiro", garante.

Tiago Meireles Ribeiro, candidato da Iniciativa Liberal, que também acredita que "pode ser eleito vereador", defende "uma lufada de ar fresco para a cidade" e já se diz "vencedor" porque muitas das "ideias que apresentámos em junho" já foram "adotadas pelos outros partidos" e outras até pela autarquia.

O candidato da Iniciativa Liberal, que não vê em Manuel Machado "uma política ligada à realidade", olha para a "enorme coligação" de José Manuel Silva como uma "escolha nacional à revelia da vontade local". Porque não se juntaram à "enorme coligação"? "O que ali está não é uma força, é uma fragilidade... e na IL não queremos eleger o mesmo tipo de pessoas."

Filipe Reis, candidato do PAN, espera "melhorar os resultados de há quatro anos, os 1,6% de votos para a câmara e os 2,1% para a assembleia municipal, romper com essa fase, esse efeito psicológico de as pessoas não votarem num partido pequeno para não desperdiçarem votos. Mas creio que isso está a mudar, existe maior disponibilidade para as causas do PAN. Ideal seria a eleição de um vereador, mas estar na assembleia municipal, eleger um deputado, já abriria horizontes para eleições futuras".

O candidato do PAN afirma que o que lhe "causa maior estranheza e tristeza" na gestão PS/CDU na Câmara de Coimbra é ver a CDU jurar que não faz parte da maioria, que não tem responsabilidades apesar de ter um vereador com pelouros. É uma falta de solidariedade institucional e de lealdade, como se houvesse dois executivos na autarquia". E a gestão CDU? "Foram oito anos perdidos na habitação e um retrocesso claro na defesa da causa animal. Foi um gerir de costas voltadas e contra a sociedade civil."

Filipe Reis diz que a principal característica está na "falta de comunicação, na falta de diálogo, na falta de respostas. Estamos há dois anos à espera de uma resposta do vereador da CDU". E Manuel Machado? "Dois meses... parece um vírus a falta de respostas, de explicar as decisões. Por isso, essa crispação permanente, o estilo de não ter de dar contas a ninguém. Ou não dá importância ou diz que é errado." E como olha para a coligação Juntos Somos Coimbra? "Não gostaria de me pronunciar."

O candidato do Chega, por seu lado, acredita que a votação do seu partido "não há de fugir muito dos 8% a 10%", que é possível "um resultado ao nível do panorama nacional". Miguel Marques, que critica os oito anos da liderança de Manuel Machado, tem um certeza: "Se não ganhar vai embora, já o disse." E José Manuel Silva? "Do que já vi como vereador não tem perfil para presidente, seria um presidente cheio de fragilidades. O Jorge Gouveia Monteiro não percebo... sempre foi comunista e agora é independente com o apoio do BE. O Francisco Queirós é o espelho do PCP. É uma pessoa que respeito, mas tem o discurso da subsidiodependência. O Tiago Ribeiro... gosto dele... é um jovem com presença, com atitude. Falta-lhe experiência de vida."

Manuel Machado, presidente de câmara e candidato ao terceiro mandato, por indisponibilidade de agenda e por só hoje à tarde apresentar o seu programa eleitoral não pôde responder às questões do Diário de Notícias.

Porém, no passado dia 15, num comício onde esteve com António Costa, no Teatro Académico Gil Vicente, garantiu que só o PS tinha "um projeto credível, coeso e estruturado", sublinhando que desde 2013 se assistiu em Coimbra a uma valorização económica, social e cultural do concelho.

O recandidato do PS assegurou também que, a partir de 2013, houve crescimento do emprego e de empresas e que o rendimento médio dos habitantes de Coimbra não tem parado de crescer desde 2019.

"Mesmo com o abrandamento provocado pela pandemia , a tendência estrutural conseguida pela gestão da câmara gerida pelo PS foi a da subida sustentada do rendimento dos munícipes de todo o concelho", garantiu.

Manuel Machado garantiu que o "número médio de desempregados inscritos no IEFP diminuiu gradual e sistematicamente, só vindo a aumentar com a pandemia e ainda assim o valor de 2020 ronda o de 2018, o que indicia que se vem desagravando os problemas do desemprego estrutural".

"Coimbra e o seu concelho tem hoje alguns dos melhores indicadores nacionais em múltiplos capítulos e ainda ontem [no dia 14] foi publicado um ranking que nos coloca como a terceira melhor cidade para se viver em Portugal", sustentou.

A direção socialista admite que Coimbra será lugar de "forte disputa" eleitoral. Os estudos do partido, segundo fonte do PS, indicam uma vitória, mas de margem curta, nada semelhante às de 2013 e 2017. Pode ser "resvés, só saberemos no dia 26".

Ontem, uma sondagem RTP/Público mostrava uma ligeira vantagem de José Manuel Silva (35%) sobre Manuel Machado (33%).

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt