Ventura retira apoio ao Governo dos Açores. "A última palavra há de ser minha", diz deputado regional
O presidente do Chega, André Ventura, acaba de anunciar que o partido retira o apoio parlamentar ao Governo Regional dos Açores. A decisão surge depois das declarações do líder do PSD, Rui Rio, que disse ser "incompatível" governar com o Chega.
André Ventura, presidente do Chega, anunciou, esta quarta-feira, que o partido retira o apoio parlamentar ao Governo Regional dos Açores.
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"A direção nacional do Chega e eu, como seu presidente eleito nas últimas eleições diretas, daremos instruções para que cesse o apoio do Chega ao Governo Regional dos Açores", anunciou Ventura, esta tarde, no Parlamento, em conferência de imprensa.
"As instruções que daremos é que o Chega deixe de suportar, já neste orçamento, o Governo Regional dos Açores, por não se ter comprometido com a luta contra a corrupção, na diminuição no tamanho do Governo, na luta contra a subsidiodependência, particularmente por ter enveredado por uma atitude nacional e regional de hostilização do Chega, do seu presidente, do seu programa e dos seus militantes", justificou.
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"Um líder que diz que é incompatível o apoio do Chega não pode pedir o apoio do Chega"
"Rui Rio deixou claro que abdicará de governar caso tenha de se entender com o Chega", disse André Ventura aos jornalistas. Nesse sentido, considerou ser "insustentável que um partido com entendimentos pontuais, regionais ou autárquicos possa continuar a sustentar esses apoios depois dessas palavras de um líder nacional", considerou.
"Um líder que diz que é incompatível o apoio do Chega não pode pedir o apoio do Chega nem a nível regional, autárquico ou local", reforçou, referindo-se à entrevista de Rui Rio, líder do PSD, à Antena 1, no início desta semana.
"Um líder que diz que abdicará de governar se, confirmando as sondagens, for o Chega a força necessária para uma maioria à direita, é um líder que não merece consideração do Chega e é um partido que não merece qualquer apoio a nível local, regional ou de outro âmbito por parte do Chega", repetiu para justificar a retirada do apoio parlamentar do partido ao Governo Regional dos Açores.
Apesar disso, André Ventura salientou que falta ainda que o Chega Açores, por tratar-se de uma estrutura autónoma, dê seguimento à recomendação da direção nacional do partido.
Anunciou, por isso, que o grupo parlamentar do Chega nos Açores vai dar, na sexta-feira, em Ponta Delgada, uma conferência de imprensa, na qual o deputado único do partido, José Pacheco, anunciará qual será a posição face à decisão da direção nacional do partido.
André Ventura diz que o partido "não deseja eleições nos Açores" e "não deseja instabilidade" na região autónoma, mas "o que basta, basta".
Referiu que foram "semanas consistentes e contínuas de ataque ao programa do Chega, à sua natureza, ao seu presidente e aos seus militantes".
"Foram semanas e semanas em que Rui Rio optou por manter o nível de confronto, hostilização e humilhação do Chega. Não é possível haver dois PSD e dois Chega", argumentou.
"Quero deixar claro para os militantes, para os dirigentes e para todos, que a recomendação do Chega Nacional, da sua direção e do seu presidente, é de que o Governo regional dos Açores não continue a obter o apoio do Chega, nem a nível orçamental, nem a nível das grandes opções do plano regional", afirmou.
Questionado pelos jornalistas sobre se o deputado único do Chega nos Açores José Pacheco poderá não seguir a orientação da direção nacional, André Ventura afirmou que acha que "não há essa possibilidade" e frisou que, no contacto que tem tido "com as estruturas do Chega Açores, com o seu grupo de parlamento e dirigentes", "há um sentimento consistente e coerente de insatisfação a um nível praticamente absoluto".
"Esta é a orientação que damos, caso isso não seja respeitado, ou não seja atendido, há mecanismos que o partido tem para fazer face a isso. Mas todos os sinais que temos neste momento (...) são de que há uma coincidência perfeita entre aquilo que aqui estamos a dizer e aquilo que se passa neste momento no Governo regional dos Açores", disse.
"A última palavra há de ser minha", diz deputado único do Chega nos Açores
O deputado único do Chega na Assembleia Regional dos Açores, José Pacheco, disse, entretanto, que ainda está em "negociações" com o Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) salientando que é sua a "última palavra" sobre o apoio ao executivo.
"A última palavra há de ser minha. Estamos em conversações. Até sexta-feira vamos amadurecer isso tudo. Satisfeito [com o Governo Regional], eu não ando", declarou José Pacheco à Lusa.
José Pacheco disse não estar "satisfeito" com o rumo da governação nos Açores devido ao número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) na região, aos níveis de endividamento da companhia aérea SATA e ao tamanho do executivo açoriano.
"Na sexta-feira de manhã, vou fazer uma conferência para falar sobre isso tudo", acrescentou, referindo, contudo, que está "solidário" com o líder nacional do partido, André Ventura.
Ao Expresso, José Pacheco considerou que "neste momento, é ainda prematuro" retirar o apoio. "Aqui não há nem fantoches nem totós, nem nada que se pareça. Aqui não há criadagem", disse o deputado referindo que quando entrou para o Chega há dois anos, "uma das condições" que colocou "foi sempre o respeito pela autonomia dos Açores".
Deputado independente nos Açores diz que "ou pessoas mudam ou mais vale eleições"
Já o deputado independente na Assembleia Legislativa dos Açores considerou que o entendimento parlamentar da IL e do Chega com o Governo Regional PSD/CDS-PP/PPM "já morreu", pelo que "ou as pessoas mudam ou mais vale ir para eleições".
"Se tiver de ir para eleições, que vá. Não vale a pena tentar salvar o morto. Este entendimento [com o Chega e a Iniciativa Liberal] já morreu. Estas ameaças ao virar da esquina não são saudáveis. O melhor para esta terra é limpar este ambiente", defendeu Carlos Furtado, que nas eleições legislativas regionais de 2020 foi eleito pelo Chega e em julho perdeu a confiança política do líder nacional do partido.
O deputado independente reagia, em declarações à Lusa, ao facto de André Ventura ter pedido ao Chega/Açores para retirar o apoio ao Governo Regional, acabando com o acordo de incidência parlamentar, a menos de uma semana de a Assembleia Legislativa Regional começar a discutir o Orçamento para 2022.
Carlos Furtado disse à Lusa não ter decidido ainda o sentido de voto no Orçamento Regional para 2022.
"O meu voto ainda não está definido. Mas aprecio a boa vontade do Governo de José Manuel Bolieiro [líder do executivo] em governar num ambiente destes. Isto não é ambiente para ninguém. São ameaças da IL, ameaças do Chega nacional e do Chega regional. Isto não é saudável", frisou.
O deputado sublinhou que o atual Governo "ganhou eleições e montou uma equipa", lamentando que "minorias sem legitimidade" façam "as brincadeiras que andam a fazer".
"Isto é como aguentar um casamento quando o casal já não se entende", observou.
Questionado sobre se a atual composição do parlamento açoriano torna a gestão da região ingovernável, Furtado disse ser "fácil governar se as pessoas forem integras e derem uso à legitimidade eleitoral que têm".
"As pessoas colocarem-se em bicos de pés fica muito feio", criticou.
A Assembleia Legislativa dos Açores é composta por 57 deputados: 25 do PS, 21 do PSD, três do CDS-PP, dois do PPM, dois do BE, um da Iniciativa Liberal, um do PAN, um do Chega e um deputado independente (eleito pelo Chega).
No arquipélago, PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representam 26 deputados, assinaram um acordo de governação.
A coligação assinou ainda um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD um acordo de incidência parlamentar com a IL. O deputado não inscrito Carlos Furtado manteve o apoio ao Governo dos Açores.
Se o deputado único do Chega, José Pacheco, deixar de apoiar o executivo, este passa a contar com o apoio de 28 deputados, insuficiente para garantir maioria absoluta no hemiciclo (29).
Além disso, o deputado único da Iniciativa Liberal, Nuno Barata, revelou em 5 de novembro que o seu sentido de voto não está fechado, mesmo depois de o Governo Regional ter reduzido o nível de endividamento previsto no Orçamento e no Plano para 2022, tal como tinha exigido o parlamentar.
Com Lusa
Notícia atualizada às 21:19